Diz a Inteligência Artificial que dá toque de modernidade tecnológica um torneio secular como Wimbledon, que Nuno Borges tem o 55.º hipotético percurso mais difícil até à final. Não tivesse o número um português, 68.º do ranking mundial, por adversário o argentino Francisco Cerundolo, 19.º da hierarquia acabadinho de chegar ao All England Club com o troféu de campeão do ATP de Eastbourne. O checo Jiri Lehecka (36.º), o norte-americano Tommy Paul (16.º), o russo Daniil Medvedev (3.º), o grego Stefanos Tsitispas (5.º) e Carlos Alcaraz (1.º) são os adversários que a mente computadorizada vaticina para o maiato até uma eventual meia-final. A jogar Wimbledon pela segunda vez – em 2022, passou o qualifying e foi travado na ronda inaugural -, Borges chega a SW19 com uma presença meias-finais do challenger de Nottingham, nas quais foi travado pelo antigo número um mundial, Andy Murray, e dois desaires nas rondas inaugurais de Ilkley e ATP de Eastbourne. «Não é num mês que vou ficar especialista de relva. Mas tenho-me sentido bem e a jogar melhor. Continuo a evoluir e sei que vou ter de começar por passar um adversário de outro nível», admitiu a A BOLA o tenista de 26 anos, ciente das especificidades de jogar numa superfície pouco usual e num Grand Slam, com características próprias. «Jogar à melhor de cinco sets é algo a que não estou habituado, mas sinto-me confiante, vou dar tudo», prometeu Borges. De regresso de um treino com o britânico Ryan Penniston, 268.º mundial, o único português no quadro principal de singulares – Francisco Cabral, que forma dupla com o brasileiro Rafael Matos, e seu parceiro nos pares em 2022, é o outro representante luso -, Nuno Borges não esconde o encantamento de jogar na catedral do ténis. «O clube é o mais bonito do mundo! Finalmente, consegui treinar-me no court n.º 6, um daqueles que tem vista para o central All England Club. É mesmo um lugar especial», elogiou o tenista de 26 anos, a saborear juntamente com o treinador Rui Machado – seu treinador no CAR e jogador que bem conhece também os recantos do emblemático clube londrino – e o fisioterapeuta André Santos as vistas de um local que, a partir desta segunda-feira, quando se abrirem os portões, deixará de conseguir ouvir-se o som dos passarinhos. «Agora está tão calminho, não há barulho praticamente nenhum, depois já sei que vai ficar caótico, com tanta gente, mas faz parte dos encantos de Wimbledon. Este ano, estou apostado em desfrutar um pouco mais, já que na última edição estava muito stressado e nervoso», rematou Borges que, para evitar a azáfama de gente e trânsito em torno do clube nesta quinzena, optou por ficar num alojamento local em Putney, «para não demorar uma hora de carro desde o centro da cidade».