- Como é ter uma irmã a jogar? Como se fossem as manas Williams portuguesas…- Temos uma relação caricata. A Matilde só não está a jogar melhor ténis ainda porque tem uma irmã como eu. Sempre fui boa, a melhor nos meus escalões e, desde os 19, sou número 1. A Matilde sempre teve a síndrome da irmã mais nova, em que tem na modalidade uma irmã mais velha e vivia no ‘vais chegar aos pés da tua irmã’. Aos 15 anos começou a jogar torneios mais seniores, apanhou-me, no início tinha muito respeito e as primeiras vezes ganhei fácil porque ela não conseguia enfrentar a irmã. Recentemente, tivemos jogos mais disputados, ganhou-me duas vezes. É uma questão de quem consegue lidar melhor com as emoções. Está no bom caminho, mas tem de acreditar um pouco mais nela. Sempre fui mais crescida em campo do que ela, apesar de chorar baba e ranho, sofrer, mas não saio sem pensar que vou ganhar. - Faz a gestão da sua careira pé ante pé?- Sim. No ténis feminino, tudo muda muito rápido, um ou dois torneios e atiramo-nos lá para cima. Se fores consistente, vais chegar lá, eventualmente. A Maria João Koehler dizia-me não é o ‘se’, é o ‘quando’. E é verdade. É o que aconteceu e agora estou lá. - Qual é a importância da opinião dos outros? - Sempre fui um bocado insegura e tive sempre muitas dúvidas em relação a mim em tudo. Sempre esperei pela aprovação dos outros. - Porquê? - Na verdade, ainda sou miúda e sinto que tenho de crescer muito. É uma questão de abordagem. Sempre me baseei na avaliação dos outros em relação a mim. Sempre achei que fazia as coisas bem, fui muito certinha, mas se não tivesse essa aprovação… - Alguma razão para a falta de confiança?- Sempre fui uma miúda mais gordinha. Tinha, e tenho, facilidade em engordar, tal como a minha mãe, que foi sempre controlada com ela e comigo. Os meus pais nunca me privaram de nada, mas deram-me sempre avisos para não abusar. - Complexos de menina gordinha...- Possivelmente. A Matilde sempre comeu tudo. Nunca tínhamos coisas em casa, não fui muito de pedir e não o fazia quando íamos ao supermercado. Fui moldada, e bem. Dá-me mais disciplina agora sendo mais velha. E tenho melhorado bastante na confiança. - Esse complexo ainda afeta ou está bem resolvido?- Nunca fui gorda, era redondinha e forte e as outras miúdas eram fininhas. Hoje mais velha, fazendo os exames médicos, dizem que tenho uma estrutura forte, ossos pesados e isso aliviou. Se calhar este peso todo não é extra. Sou eu, uma mulher maciça. Não desaparece se tiver 3% de gordura de massa corporal. Já tenho uma relação mais saudável com isso e nunca tive distúrbios alimentares, felizmente. E isso deveu-se em muito a essa educação que recebi desde miúda. - Foi fundamental essa educação em casa? - Muito simples: a minha mãe não comprava coisas e eu não tinha coisas para procurar. Estou bastante tranquila em relação a tudo isso. Sofri um pouco internamente. Nunca me expus muito, mas falo naturalmente e faz sentido abordar estes assuntos mais delicados. Tenho sempre atenção a quem não se sente confiante com a sua imagem e tento passar uma mensagem bastante positiva, porque sei que é importante. Portugal tem poucas praticantes de ténis - Número 1 portuguesa desde os 19 anos. Sente falta de concorrência em Portugal?- A Matilde também sente isso. Na fase júnior, o investimento de vir a Lisboa era para os nacionais e estágios, o mais longe era Oliveira de Azeméis e não apanhava a Inês Murta. Hoje temos a Maria [Garcia], a Angelina [Voloshchuk]. O ténis feminino tem muita capacidade para ser mais e melhor. Temos poucas praticantes, embora esteja a crescer, há maior motivação dos pais em meterem os miúdos a jogar ténis, estamos no caminho certo, federação e clubes. É um desporto cativante. - A alteração de pontos do WTA vai beneficiá-la? - Tem os dois lados da moeda. Vai obrigar-me a jogar torneios maiores, é bom, estou com nível para tal e vai puxar por mim. E obriga raparigas de ranking 120 a vir jogar os W35 e roubar lugares a quem necessita desses pontos e desse nível de jogos.