Ciclismo: Vicente Belda continua sob investigação
Rede de tráfico de ‘doping’ poderá ter ramificações no ciclismo português
A larga e morosa investigação da polícia espanhola que tem como alvo o antigo diretor desportivo Vicente Belda e o filho Vicente Belda Garcia, ex-massagista na Astana, caminha a passos largos para o epílogo.
Pai e filho estão acusados de pertencerem a uma rede de tráfico de substâncias dopantes, liderada pelo médico Marcos Maynar, que eram distribuídas por vários ciclistas profissionais, nos quais se inclui o colombiano Miguel Angel López, atualmente suspenso pela União Ciclista Internacional.
No processo, de 1500 páginas, encontram-se gravadas declarações que foram autorizadas desde 2021, nas quais aparecem ciclistas profissionais, médicos e outros implicados.
Segundo fontes próximas da investigação, as conversações estão relacionadas com o médico e professor da Universidade de Extremadura (Cáceres) Marcos Maynar, acusado de tráfico ilegal de medicamentos, entre outros supostos delitos, numa operação desencadeada pela Unidade Central Operativa (UCO) da Guarda Civil espanhola.
A rede utilizava as instalações da Universidade da Extremadura para atender clientes que outros membros implicados captavam. Segundo as mesmas fontes, seria supostamente Marcos Maynar quem preparava o plano de treinos dos ciclistas, incluindo-lhes complementos conhecidos como actovegin, considerada 'a EPO dos pobres', a que juntava produtos nutricionais com medicamentos e substâncias proibidas no desporto.
Em dezembro de 2022, a Astana descobriu novos elementos que confirmam a provável ligação de Miguel Angel López a Marcos Maynar, rescindindo o contrato com o ciclista colombiano. Segundo apurou a investigação, o médico espanhol recomendou ao ciclista o uso de actovegin. A juíza aceitou que a Agência Estatal Antidopagem de Espanha (CELAD) faça parte do processo.
As provas recolhidas por este organismo foram citadas pela UCI e levaram à suspensão provisória de Miguel Angel López. «Sobre a base de uma investigação realizada pela Agência Internacional de Provas (ITA) e a organização Nacional Antidopagem de Espanha (CELAD) como parte da investigação do Dr. Marcos Maynar, a UCI fez uma revisão sustentada na Agência Internacional em 26 de junho e 7 de julho de 2023, notificando o ciclista colombiano sobre uma possível infração das normas antidopagem pela posse de uma substância proibida nas semanas que antecederam a Volta à Itália em 2022».
Em comunicado o ciclista reagiu. «Neste momento, as provas e evidências tomadas em consideração por parte da UCI para adotar esta decisão surgem porque pretende fazê-las constar nos relatórios, não existindo nenhuma evidência objetiva da suposta dopagem, que todos os resultados das minhas análises e do meu passaporte biológico são negativos e quem subscreve nunca recebeu, utilizou ou sequer solicitou substâncias proibidas algumas nem no Giro de Itália, nem nunca jamais ao longo da minha carreira desportiva».
Duas equipas portuguesas e alguns dos seus ciclistas fazem parte dos nomes que constam no processo da Operação Ilex como eventuais clientes de Maynar, situação que se poderá tornar incomoda para o ciclismo português, depois do caso W52-FC Porto ainda a decorrer nas instâncias desportivas e judiciais.