Voleibol Capitão da Seleção e jogador do Fenerbahçe envolvido em ações humanitárias na Turquia
Dez dias depois da terra ter tremido na Turquia e Síria, as imagens de devastação não param, mas também há outras que revelam a ajuda ao próximo. Entre os clubes mais emblemáticos turcos está o Fenerbahçe que fez do estádio de futebol o quartel-general das ações humanitárias das quais Alexandre Ferreira, capitão da Seleção Nacional de voleibol e zona 4 do Fenerbahçe HDI Sigorta, tem feito parte.
«Aqui, em Istambul, foi tranquilo, já senti um sismo, mas foi há uns meses. Acordei sobressaltado, mas não teve a mesma gravidade. Neste, tínhamos ido jogar a Ancara e vínhamos em viagem quando soubemos das notícias à noite. Estava um temporal enorme de neve e vento», começou por contar o mais bem cotado dos zona 4 da liga turca a A BOLA, após o regresso ao treino.
«Hoje [ontem], começámos uma iniciativa de três dias a doar sangue. É aberto a todos, com o ponto de encontro a ser o estádio de futebol do Fenerbahçe. Desde o terramoto, encontramo-nos lá. O clube disponibilizou os autocarros de todas as modalidades e camiões para levarem bens essenciais para as vítimas. Juntámo-nos todos, cada um deu um valor, e comprámos alimentos e outros bens. Os jogadores turcos têm promovido outro tipo de ajudas, mais personalizadas, pois têm conhecidos, amigos e familiares que tinham negócios, casa e perderam tudo», relatou o voleibolista português, pela segunda vez a jogar na Turquia, depois de ter passado pelo Ziraat Bankasi entre 2014 e 2016.
«Toda a gente conhece alguém, um amigo, familiar ou amigos de amigos que morreram no sismo. Na minha equipa, um rapaz perdeu familiares tios e primos. Outro teve a sorte de a mãe ter vindo dois dias antes para Istambul, pois a casa ruiu», recordou o zona 4 de 31 anos, explicando que «roupas para mulheres e crianças são as mais pedidas», apesar também chegaram ao local de recolha excedentes. «Há quem tenha enviado sapatos de salto alto e biquínis e coisas assim. Enfim…»
Sem data para voltar a competir - «Falaram-nos em 2 ou 3 de março, mas nada é certo» -, Alex recorda ter jogado em casa do Hatay B. Sehir, clube da região afetada de Karamamaras, antes do Natal. «Muitas equipas de lá já não voltam, ficaram sem pavilhão, sem nada. O Fenerbahçe recebeu um rapaz dos juniores de lá que perdeu a família toda. Vai jogar aqui e, como o clube tem residência para os mais novos, fica a morar lá. Aliás, o clube está disponível para receber mais», vincou o português, lamentando o pior de outros. «Infelizmente, tem havido assaltos a casas. Também têm assaltado camiões que levam os bens angariados. Um dos nossos foi mandado parar na estrada. Vi vídeos da polícia militar turca a apanhá-los. Até já ouvi relatos de bebés roubados para o tráfico humano», lamentou Alexandre.