Australiana lança polémica: as namoradas dos tenistas que ganham mais que as «tenistas suadas»
Daria Saville deu voz ao descontentamento de muitas tenistas do circuito

Australiana lança polémica: as namoradas dos tenistas que ganham mais que as «tenistas suadas»

TÉNIS15.04.202514:42

O termo WAG (esposas e namoradas) surgiu no futebol, mas espalhou-se para outras modalidades, incluindo o ténis. As cara-metade dos tenistas tornaram-se um «problema» para as próprias atletas.

Daria Saville, tenista nascida em Moscovo e que representa a Austrália, abordou os problemas causados pela presença das WAG (no original wives and girlfriends, ou seja, esposas e namoradas) no mundo do ténis. Questiona-se por que razão, nesta modalidade, as mulheres e namoradas dos tenistas circulam pelos camarotes e conseguem acordos e parcerias que não estão acessíveis às tenistas que lutam arduamente nos courts.

O seu raciocínio é simples: o ténis, popular em todo o mundo, existe graças aos seus jogadores. No entanto, um grande grupo de tenistas enfrenta dificuldades para desfrutar plenamente da sua carreira, incluindo contratos com parceiros e patrocinadores. «As WAG do ténis encaixam na estética do desporto, não nós, as tenistas suadas. Conversei com algumas WAG influentes e elas mostraram-se surpreendidas por não recebermos as mesmas propostas. Será porque os atletas não estão tão próximos do público como as WAG?» questionou Saville.

Daria Saville

Saville levantou outras questões, dirigidas aos espectadores, patrocinadores e ao mundo do ténis: «Os especialistas em marketing consideram as tenistas muito pouco atraentes em comparação com as WAGs? Será que uma vida de luxo é mais interessante do que uma vida de suor? Ser WAG é mais inspirador do que ser atleta?» Para Saville, é «absurdo que, durante os torneios do Grand Slam, as marcas recorram a influencers em vez das próprias tenistas». A atleta frisou não ser a única a pensar assim, tendo discutido o assunto com colegas.

A sua publicação recebeu apoio, incluindo de Eve Lys, 68.ª do ranking mundial, que comentou: «Excelente vídeo. Também já me questionei sobre isso.» Ambas destacam a dificuldade em obter parcerias publicitárias, especialmente fora do top 10. Saville também diagnosticou um problema no desporto: um vídeo dela a preparar-se para sair com o marido, Luke Saville, também tenista), teve mais sucesso nas redes sociais do que vídeos do seu dia a dia desportivo, segundo o portal sportsport.ba. Saville, agora com 31 anos, teve uma carreira sólida. Além de ter sido estrela em juniores, venceu o US Open em singulares e Roland Garros em pares, conquistou um torneio WTA e chegou regularmente à terceira e quarta rondas de Grand Slams. O seu melhor ranking foi 20.º, ocupando atualmente a 108.ª posição.

Nas suas redes sociais, Saville partilha vídeos desportivos e do quotidiano, como a dançar ou a brincar com o seu cão. Tem 135 mil seguidores no Instagram, mas, aparentemente, não recebe propostas de patrocínio suficientes. Algumas mulheres, sem ligação ao ténis, têm mais sucesso. Entre elas está Morgan Riddle, de 27 anos, ex-estudante de Literatura Inglesa que trabalhou numa loja e, após a licenciatura, foi gestora de comunicação numa empresa de chapéus. Também fez trabalhos como modelo.

Morgan Riddle Fotografia Imago

Sem grande ligação ao desporto, é há quase cinco anos namorada do tenista Taylor Fritz, que recentemente alcançou o seu melhor ranking de sempre, 4.º da ATP. Riddle está no topo da lista de interesse de patrocinadores e fãs, com 435 mil seguidores no Instagram e meio milhão no TikTok. A americana admite usar a carreira do namorado para obter patrocínios e construir a sua marca.

Morgan Riddle Fotografia IMago

Nas redes sociais, aborda temas de lifestyle: desde looks para eventos de ténis a fotos com o namorado, passando por preparativos para jogos e viagens. Há pouco desporto e mais pernas, malas e vestidos. Talvez por isso Riddle seja chamada de «a mulher mais famosa do ténis masculino» ou «a Barbie do ténis». Esta influencer sem raquete tornou-se figura importante nos Grand Slams, tendo colaborado com Wimbledon como repórter de bastidores e no US Open com um diário de moda. Trabalhou em campanhas para uma grande marca de cerveja e uma marca de luxo, e promove produtos de cosmética. Recentemente, foi capa da Vogue e deu várias entrevistas.

Riddle recordou que, inicialmente, o mundo do ténis foi mais crítico do que acolhedor. «Quando comecei a publicar vídeos no TikTok, há alguns anos, algumas tenistas mais velhas partilhavam-nos num grupo e gozavam comigo», revelou, tendo descoberto isso mais tarde. Segundo a Forbes, as WAG mais requisitadas podem ganhar entre 1 e 3 milhões de dólares por ano (880 mil a 2,64 milhões de euros) com promoção de produtos e campanhas, ultrapassando os prémios monetários de muitas tenistas profissionais. Estes três milhões representam, exceto para as do top 10 da WTA, o total ganho por jogadoras mais jovens (até 24 anos) ao longo da carreira. Saville, por exemplo, acumulou cerca de 6 milhões (5,3 milhões ) ao longo da sua trajetória.

Em comparação, Iga Swiatek, número 2 do mundo, ganhou dois milhões (1,76 milhões) em prémios este ano. Há outras figuras como Morgan Riddle, incluindo Paige Lorenze, namorada de Tommy Paul. Segundo Lorenze, com mais de 900. mil seguidores no Instagram, o sucesso das WAG deve-se ao facto de as marcas quererem alcançar novos públicos, não apenas fãs de ténis. 80 por cento dos seus seguidores são mulheres e apenas 15 por cento são fãs de ténis. Espera-se uma tendência semelhante noutros desportos com presença de WAG, como o futebol e a Fórmula 1.

Iga Swiatek Fotografia Imago

O ténis, porém, está numa posição privilegiada. «O ténis é o desporto mais atrativo para os comerciantes devido ao calendário anual, à ligação histórica com uma clientela rica e à tradição de mostrar os camarotes dos jogadores e seus familiares», concluiu a Forbes. Jelena Djokovic, esposa de Novak Djokovic, também beneficia do estatuto do marido. Resta saber se reagirá a esta polémica e se se sente visada.