A partida para Seul deu-se neste domingo. Além do carimbo de entrada no passaporte, Nuno Alvarez vai ter outro rótulo a marcar a nova experiência na carreira: será o primeiro treinador estrangeiro a dirigir um clube na história do campeonato da Coreia do Sul. «É uma grande responsabilidade», disse o técnico a A BOLA, horas antes de embarcar rumo a Seul, onde dali fará uma viagem de 130 quilómetros para Cheongju, onde os SK Hawks esperam-no. A oportunidade surgiu através do atual selecionador nacional dos sul-coreanos, o também português Rolando Freitas e igualmente o primeiro selecionador não coreano da história da modalidade daquele país. «Ele disse-me que havia uma oportunidade, sabia que eu tinha estabilidade aqui em Portugal, mas desafiou-me na mesma e enviou o meu currículo», revela. «Aceitei porque se trata de um projeto muito interessante e, admito, é muito bom do ponto de vista financeiro. Trata-se de um clube cem por cento profissional, não há jogadores que de dia trabalham ou estudam e à noite vão treinar. Tem melhores condições que muitos clubes portugueses», prossegue. O campeonato sul-coreano é uma liga fechada de apenas seis equipas, com cinco voltas e play-off final. «Eles têm um modelo muito ao estilo dos norte-americanos, fruto da influência do pós-guerra. Têm drafts ao estilo da NBA e a formação é feita nas universidades.» O que espera Nuno Alvarez é uma nação que pede meças ao Japão, Barém e Catar, é campeão feminino asiático, tem muitas presenças nos Jogos Olímpicos em masculinos e femininos, mas estará a perder chão no processo de treino. «Os dirigentes do andebol sul-coreano estão a ver que há um gap. Daí terem contratado recentemente um dinamarquês e depois um sueco para dirigir a seleção feminina e agora o Rolando Freitas para a equipa nacional masculina», justifica. Os dirigentes do andebol sul-coreano estão a ver que há um 'gap'. Daí terem contratado recentemente um dinamarquês e depois um sueco para dirigir a seleção feminina e agora o Rolando Freitas para a equipa nacional masculina O tipo de andebolista local é «morfologicamente semelhante ao português e menos parecido com os jogadores do Norte da Europa», ou seja, «não são muito altos, mas são muito ágeis e intensos». A característica portuguesa Conta Nuno Alvarez que o recrutamento seguiu os passos de uma empresa que está a contratar um trabalhador. «Receberam o meu currículo, analisaram-no, fizemos alguns contactos e depois passámos para a entrevista final», conta. «Admito que estava bem preparado. Mas mais importante que as questões técnicas, o maior interesse deles estava na forma como eu poderia gerir conflitos ou expectativas, como lidar com um jogador que tem uma lesão grave e paragem prolongada, por exemplo. Foi mais um processo relacionado com a capacidade de gestão de recursos humanos do que saber que táticas vou usar», descreve, sublinhando que os portugueses, «de uma forma geral», têm uma «capacidade de agregar» e «liderar de forma pacífica» que terão influenciado a escolha final. Com um passado na formação de Benfica e Sporting e uma passagem por Israel, Nuno Alvarez deixa a Associação de Andebol de Lisboa e o Almada Atlético Clube para, aos 48 anos, fazer história no andebol da parte Sul da Península Coreana.