Os casos de doping provenientes da ‘Operação ‘Prova Limpa’, a que se juntam os relacionados com o passaporte biológico, estão a deixar profundas marcas no ciclismo português e a manchar, principalmente, o prestígio da Volta a Portugal, prova rainha da modalidade no nosso país. Sobre os últimos vencedores da competição, a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) tem a situação em avaliação, mas não serão tomadas decisões enquanto o processo ‘Prova Limpa’ não se encontrar encerrado. «Em virtude da Volta a Portugal ser uma prova internacional, colocámos a situação à UCI [União Ciclista Internacional] e aguardamos pelo parecer desta entidade. A direção da federação decidiu não homologar nenhum dos resultados, enquanto a operação Prova Limpa não estiver totalmente resolvida. Sobre as classificações da Volta a Portugal, temos algumas situações em equação, a decisão que vier a ser tomada terá de ser bem ponderada por se tratar de um caso bastante sensível e de impacto nacional e internacional», declarou, a A BOLA, o presidente Delmino Pereira, que abordou ainda a possibilidade de não existirem vencedores em algumas Volta a Portugal. «A UCI terá uma palavra importante sobre o que vier a ser decidido, em virtude da corrida ser internacional. Até agora apenas a Volta a França pelos motivos conhecidos com Lance Armstrong, não teve vencedores entre 1999 e 2005. A situação em Portugal é diferente porque envolve vários ciclistas, o nosso objetivo é preservar o prestigio da maior prova de ciclismo português», concluiu Delmino Pereira, ressalvando que a suspensão em Espanha do passaporte biológico também poderá ser analisada. As suspensões aplicadas pela Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) originadas pela ‘Operação Prova Limpa’ e pela UCI sustentadas no passaporte biológico, têm reflexos na Volta a Portugal e em outras competições nacionais. Os resultados obtidos nos últimos 10 anos confirmam a dopagem no ciclismo português, conforme um estudo realizado pelo nosso jornal referente ao período de 2013 a 2022, que abrange os primeiros 10 da classificação geral, situação que obriga a uma reflexão sobre a verdade desportiva. O estudo incide sobre ciclistas que se encontram ou estiveram suspensos por dopagem. Em 2013 encontram-se referenciados, Edgar Pinto (4.º), Daniel Silva (6.º) e Nuno Ribeiro (9.º); em 2014, Joni Brandão (4.º), Edgar Pinto (5.º), Ricardo Vilela (6.º), Amaro Antunes (9.º) e Sandro Pinto (10.º); em 2015, Joni Brandão (2.º), Daniel Silva (8.º) e Amaro Antunes (10.º); em 2016, Daniel Silva (3.º), Raul Alarcon (4.º), Joni Brandão (5.º), Amaro Antunes (6.º) e Ricardo Vilela (10.º); em 2017, Raul Alarcon (1.º), Amaro Antunes (2.º), Rinaldo Nocentini (4.º) e João Benta (7.º). A Volta a Portugal de 2018 regista o maior numero de ciclistas ligados a casos de dopagem, Raul Alarcon (1.º), Joni Brandão (2.º), Edgar Pinto (4.º), João Benta (6.º), João Rodrigues (7.º), Ricardo Mestre (8.º), Domingos Gonçalves (9.º), a que se juntam Daniel Silva (11.º), David Rodrigues (13.º), Xuban Errazkin (15.º), Daniel Mestre (28.º), Hugo Sancho (31.º), Rinaldo Nocentini (35.º), Márcio Barbosa (36.º) e Óscar Hernandez (51.º). Em 2019 e considerando apenas os primeiros 10 da geral encontram-se, João Rodrigues (1.º), Joni Brandão (2.º), Edgar Pinto (5.º), João Benta (6.º), David Rodrigues (7.º) e Daniel Silva (9.º); em 2020, Amaro Antunes (1.º), Joni Brandão (4.º), João Benta (5.º) e João Rodrigues (7.º); em 2021, Amaro Antunes (1.º), Joni Brandão (4.º) e João Rodrigues (9.º), em 2022 apenas consta André Cardoso (7.º) que esteve suspenso quatro anos entre 2017 e 2021 pela UCI. Na vertente disciplinar e relacionado com a ‘Operação Prova Limpa' falta conhecer as decisões da ADoP - Conselho Disciplinar Antidopagem - sobre os diretores desportivos Nuno Ribeiro e José Rodrigues, o ciclista Jorge Magalhães e o mecânico Nelson Rocha.