Volta a Portugal O caso de pugilato que acabou com o lábio de Pelegrí maltratado e Venceslau expulso
O caso insólito maior da Volta deu-se na 5.ª etapa, entre Mação e a Torre, na segunda-feira, e só noite já longa, ao chegar o comunicado oficial após a reunião do Colégio de Comissários, veio a borrasca: Venceslau Fernandes (AP Hotels-Tavira-Farense) «expulso da corrida» por «infração agravada» devido a «vias de facto entre corredores», enquanto Óscar Pelegrí (Burgos BH) levou uma multa por «comportamento incorreto entre corredores.
O filho do ‘velho Lau’, vencedor da prova em 1984 e que até tinha vindo apoiar o herdeiro (irmão de Vanessa Fernandes) já nem pernoitou na Covilhã de segunda-feira para este dia com a equipa algarvia: voltaram para casa de imediato, para o norte do País.
«O que é que ficava cá a fazer? O rapaz foi triste. E é uma baixa importante para a nossa equipa, agora que o Delio [Fernández] tinha conquistado a camisola amarela’ e o Venceslau era preciso para a defender. Ficámos reduzidos a seis, é mais difícil, mas vamos lutar. É trabalhar e levantar a cabeça», destacou a A BOLA Vidal Fitas, diretor desportivo dos algarvios, à partida da 6.ª etapa (168,5 km até à Guarda), ao início da tarde desta terça-feira, em Penamacor.
Testemunhos coincidem
Pelegrí e testemunhas várias coincidem na versão do sucedido em fase precoce da tirada da véspera. Um incidente – mudança de trajetória, aperto, provocação verbal ou do género, até ao puxão do capacete – levou os ânimos de ambos a aquecerem e o português terá alegadamente, agredido a soco o espanhol, na manhã deste dia com marcas bem visíveis no lábio inferior da cena de pugilato que entra direta para o ‘top’ do inesperado da Volta. O corredor da Burgos tentou responder, mas em menor valia, o que a pena aplicada pelos comissários atesta.
«Sim, mas o nosso corredor [Venceslau Fernandes] é expulso enquanto o espanhol apanha um castigo menor? Não pode haver dois pesos e duas medidas», contrepõe Vidal Fitas, colocando a tónica na recorrência de desaguisados no pelotão. «Anda tudo nervoso, isto acontece muito, mas assim custa».
Já Óscar Pelegrí, nem pensa em desistir. «Foi uma coisa de corrida. Não vou ter receio de correr mais em Portugal por causa disso. Estou bem, e pronto para ir até ao fim, mas isto não pode ser assim. Eu levei um soco, e já é a segunda vez na minha carreira que me acontece só que era muito novo na primeira. Os comissários, viram e agiram em conformidade. Mas olhe, já foi o terceiro diferendo que vejo travado ao soco entre corredores nesta Volta. Sim, em cima da bicicleta, na corrida. Siga, é virar a página», disse-nos Pelegrí em Penamacor.
A dimensão das coisas
«São coisas que lamentamos, mas são pontuais e recorrentes no ciclismo, e às quais a organização da Volta é alheia. Era preferível, mas acontece muito no ciclismo, a ‘cabeça quente’. Nada temos a ver com isso, lavamos as nossas mãos da decisão dos comissários, mas a Volta não pode parar, e continua a ser uma festa do povo. Vale o que vale, não vamos fazer disto caso maior do que o que ele é», disse-nos o diretor da Volta, Joaquim Gomes.
Já o presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, Delmino Pereira, afina pelo mesmo diapasão. «Sempre aconteceram ânimos exaltados e sempre vão acontecer, por muito que façamos para o tentar impedir. Não é bom [para o prestígio da modalidade, dos envolvidos e da prova], mas a Volta é uma festa que passa e vai continuar com esse cariz com picardias deste género ou não», afirmou a A BOLA o responsável máximo federativo, na lógica de que estão longe de terem sido os primeiros a andar ‘à pêra’ e bom seria que tivessem sido os últimos.