Nenhuma das cinco clássicas que são consideradas monumentos, pode ostentar uma tradição tão rica com a Liége-Bastogne-Liége que se realizou pela primeira vez em 1892. Nas restantes, Paris - Roubaix correu-se pela primeira vez em 1896, Il Lombardia em 1905, Milão - San Remo em 1907 e Volta a Flandres em 1913. A clássica Liége-Bastogne-Liége, foi criada em 1892 pelo Pesante Club Liégeois e Liége Cyclist Union da Bélgica, inicialmente nem era intenção pedalar de Liége a Bastogne e regressar a Liége . A Liége Cyclist Union queria fazer um desvio a Paris, uma corrida que teria cerca de 850 quilómetros. Naqueles tempos a Liége-Bastogne-Liége era apenas um evento de teste para Liége-Paris-Liége, mas acabou por se tornar uma corrida de grande prestigio. Na linha da maioria das clássicas do ciclismo, Liége-Bastogne-Liége foi criada para promover e aumentar a venda do jornal “L’Express”, com sede em Liége. A 1.ª edição foi realizada em 26 de maio de 1892, e organizada pela Liége Cyclist Union que teve partida e chegada a Liége na distância de 250 km. O vencedor foi o belga Léon Houa, seguido de Léon Lhoest a 22 minutos e Louis Rasquinet a 44 minutos, com Léon Houa a repetir a vitória em 1983 e 1984. Após três edições a corrida foi suspensa por 14 anos, regressando em 1908 destinada a amadores e semiprofissionais, pertencendo a vitória ao francês André Trousselier, no ano seguinte ganhou Eugéne Charlier, mas foi desclassificado por ter trocado de bicicleta, passou para segundo sendo o primeiro lugar atribuído a Victor Frastre, naquela altura com 18 anos e 362 dias, permanecendo como o mais jovem ciclista a vencer a clássica. Liége-Bastogne-Liége teve algumas interrupções durante a II Guerra Mundial e regressou em definitivo a partir de 1945. Em 1951 e 1952 ganhou o suíço Fred De Bruyne, o belga Raymond Impanis a grande estrela belga na altura nunca conseguiu vencer, ficou por quatro vezes em segundo lugar. Em 1957 a vitória foi atribuída a dois ciclistas, Germani Derycke foi o primeiro a cortar a linha de chegada, mas não respeitou uma passagem de nível fechada, vencendo com mais de três minutos de vantagem para Frans Schoubben, os comissários acreditaram que o ciclista não ganhou muito tempo ao passar a passagem de nível e decidem não o desclassificar, atribuindo a vitória aos dois ciclistas belgas. A edição de 1969 marca o inicio da era Eddy Merckx, que venceu a corrida por cinco vezes, três delas consecutivas, 1971, 1972 e 1973, depois de ter sido primeiro em 1969, para fechar o ciclo em 1975, recorde que ainda hoje se mantém. O campeão francês Bernard Hinault, venceu por duas vezes e em ambas em condições climatéricas terríveis na década de 1980, o classicómanos italiano Moreno Argentin ganhou por quatro vezes, 1985, 1986, 1987 e 1991. Em 1990, o Pesant Club Liégeois juntou-se à Société du Tour de France, que organizava a maior competição velocipédica do mundo, que mais tarde se transformou na atual ASO (Amaury Sport Organization), mudanças que se fizeram sentir com a reformulação completa do percurso da corrida, em especial com a entrada de mais algumas subidas. Dos últimos vencedores destaca-se o espanhol Alejandro Valverde primeiro em 2006, 2008, 2015 e 2017, que igualou Moreno Argentin com quatro vitórias, seguem-se com três triunfos Léon Houa, Alfons Schepers e Fred De Bruyne, os últimos vencedores são três ciclistas que são referências no ciclismo atual, Primoz Roglic em 2020, Tadej Pogaçar em 2021 e Remco Evenepoel em 2022. Em 108 edições a Bélgica regista 59 vitórias, seguida da Itália com 12, Suíça 6, França 5, Países Baixos e Espanha 4, Irlanda, Cazaquistão e Luxemburgo 3, Alemanha, Dinamarca e Eslovénia 2, com uma Austrália, Estados Unidos e Rússia. O percurso com 258,5 quilómetros e 11 subidas divide-se em duas partes. Nos primeiros 150 km o pelotão apenas tem duas subidas, as restantes surgem na fase final com destaque para as ultimas quatro nos derradeiros 34 quilómetros, Côte de Desnié, Côte de la Redoute apontada como decisiva com 1,6 km e um desnível de 9,4%, Côte de Forges e Côte de la Roche-aux-Faucons, com 1,3 km e um pendente de 11%, situada a 13 quilómetros da meta. Entre os candidatos surge mais uma vez o incontornável Tadej Pogaçar, seguido de Pidcock, Evenepoel, Gaudu, Healy, Cosnefroy, Vlasov, Mas, Carapaz, e Izagirre. Entre os pré-inscritos encontram-se Rui Costa (Intermarché) com 12 presenças, tem como melhores resultados o 3.º lugar em 2012 e 4.ª posição em 2015, Ruben Guerreiro (Movistar) regista três participações, o melhor resultado foi conseguido em 2017 na 88.ª posição. Em 2016 na categoria de sub 23 ficou em 3.º lugar quando representava a Axeon Hagens Berman, no percurso Bastgone - Ans com a extensão de 178,6 quilómetros. Percurso feminino com nove subidas A Liége-Bastogne-Liége para mulheres apenas teve seis edições, as duas primeiras em 2017 e 2018 foram realizadas entre Bastogne e Ans com a distância de 135,5 km, ambas tiveram como vencedora Anna Van Der Breggen. Desde 2019 que o percurso passou a ser Bastogne - Liége e que se mantém na atualidade, Annemiek Van Vleuten ganhou em 2019 e 2022, Elizabeth Deignan em 2020 e Demi Vollering em 2021. Daniela Reis foi a única portuguesa que marcou presença, em 2017 foi 79.ª e em 2018 desistiu, este ano mais uma vez não haverá portuguesas em competição. O percurso tem a distância de 142,8 km, será o mais longo de sempre e inclui os nove setores de subidas que fazem parte da prova masculina, com destaque para as Côtes de Desnié, Redoute, Forges e Roche-aux-Faucons, que serão decisivas para selecionar as ciclistas que irão discutir os lugares no pódio. Demi Vollering, Van Vleuten, Lippert, Realini, Markus, Persico, Anrooij, Mavi Garcia, Ludwig, Muzic e Longo Borghini são as principais candidatas.