Aos 24 anos, João Almeida participa pelo quarto ano consecutivo na Volta a Itália, competição em que se mostrou ao mundo do ciclismo logo na estreia, com mais do que promissora quarta posição na classificação geral em 2020 abrilhantada com 15 dias a luzir com a camisola rosa de líder. No segundo ano, o português foi sexto após um início de competição conturbado em que esteve subordinado ao apoio a imprevisto chefe-de-fila Remco Evenepoel e no terceiro, em 2022, foi forçado à desistência por infeção com Covid quando ocupava o quarto lugar. O ciclista da UAE Emirates, que faz parte do grupo de candidatos ao topo da geral na corsa rosa, em entrevista a A BOLA aborda a preparação para o maior objetivo da temporada, a composição da sua equipa, os principais adversários e afirma a pretensão de lutar pelos lugares do pódio. - Que balanço faz da temporada e dos 22 dias de competição?- Cumprimos o programa que tinha sido previsto, com boas sensações e subindo gradualmente de rendimento. O número de dias de competição não sofreu grandes alterações em referência ao dos últimos três anos, 23 o ano passado, 24 em 2021, no meu primeiro Giro, em 2020, tinha 27 dias de corrida devido à interrupção entre março e julho e daquele se ter realizado em outubro. - Qual foi a melhor prestação em 2023, Algarve, Tirreno ou Catalunha?- Depois de três dias no Challenge de Maiorca esperava melhor que o sexto lugar no Algarve, mas um problema num joelho não ajudou, não me senti confortável no contrarrelógio, foi daqueles dias em que não deu certo. Estive bem na Tirreno-Adriático, em que fui segundo na geral. Roglic, ao ganhar três etapas, venceu devido às bonificações, que suplantaram os oito segundos que lhe tinha ganho no contrarrelógio. Embora tivesse ficado em terceiro lugar, foi na Volta à Catalunha em que me senti melhor e com os níveis que tanto eu como a equipa pretendíamos. Fiquei satisfeito com a minha prestação e com as sensações que tive ao longo da semana. - O plano de preparação para a Volta a Itália sofreu algumas alterações?- Seguimos a linha do ano passado, cumprimos um programa competitivo e os estágios em altitude. Depois da Catalunha descansei uns dias, em seguida fui para a Serra Nevada até 1 de maio. Dei um salto a casa para ver a família, fazer as malas e viajar para Itália. - O que melhorou no rendimento do ano passado para este ano?- Sinto-me fisicamente melhor e mais consistente. Trabalhei mais as subidas longas e aperfeiçoei-me no contrarrelógio, por se tratar de uma disciplina específica na qual existem muitos pormenores que temos de levar em conta. A experiência adquirida também é muito importante, permite-nos que não se voltem a repetir alguns erros durante a corrida. - Com que objetivos parte para a Volta a Itália?- Terminar nos lugares do pódio e se possível vencer. Também é esse o objetivo de outros ciclistas, mas trabalhei para chegar ao Giro e discutir os primeiros lugares. Numa corrida de três semanas precisamos de ter sorte, não cair e estar atento às etapas que podem ser decisivas, que por vezes até nem são aquelas que teoricamente são consideradas as mais importantes.- Como analisa e define o percurso do Giro?- Os percursos das grandes voltas são sempre difíceis, a Volta a Itália mantém essa tradição com três contrarrelógios e muita montanha. A última semana vai ser bastante dura. O crono no primeiro dia vai marcar algumas diferenças, a quarta etapa nos Apeninos e a chegada ao Campo Imperatore (1.ª cat.) são os pontos mais importantes na primeira semana. O contrarrelógio em Cesena com 35 km constitui um desafio para os especialistas dada a larga quilometragem, a etapa nos Alpes suíços (13.ª) será mais um teste complicado. A última semana muito dura vai ser decisiva, a passagem pelos Dolomitas vai ser determinante com três chegadas em altitude. - Como analisa os dois contrarrelógios e a cronoescalada?- O primeiro crono tem os últimos dois quilómetros a subir e finaliza numa contagem de montanha de 4.ª categoria e vai marcar diferenças. O segundo tem um perfil plano, mas os 35 quilómetros vão ser demasiado longos. Na cronoescalada, na penúltima etapa, irei trocar de bicicleta para fazer os últimos 8 quilómetros, o que deverá acontecer com a maioria dos ciclistas. - Das seis chegadas em altitude quais poderão ser as mais importantes?- Fiz uma análise por alto, normalmente as chegadas em montanha são as que definem a geral, onde se incluem Campo Imperatore (7.ª etapa), Crans Montana (13.ª), Monte Bondone (16.ª), Alto Di Zollo (18.ª) e Tre Cime di Lavaredo (19.ª). - Como analisa a equipa que o vai acompanhar?- Vou ter uma boa equipa [o alemão Pascal Ackerman, os italianos Alessandro Covi, Davide Formolo e Diego Ulissi, o sul-africano Ryan Gibbons, o americano Brandon McNulty e o australiano Jay Vine] Acredito que todos irão ajudar-me em toda a corrida. Têm experiência de grandes competições, o que constitui sempre uma mais-valia para um percurso difícil como o Giro. Confio no trabalho de grupo. - Jay Vine vai correr para a geral ou para ajudar a equipa?- O plano A da equipa passa por ser eu o chefe de fila, Jay Vine será a alternativa. Conto com ele para me ajudar, mas compreendo e respeito se ele correr para a geral. No lugar dele também gostaria de ter uma oportunidade e de a aproveitar, como se costuma dizer no ciclismo será a estrada a colocar todos nos seus lugares.- Como define o elevado número de candidatos?- À partida todos são candidatos, mas que existem uns mais do que outros. Essa situação pode favorecer-me e tornar a corrida mais dura, a pressão por parte da comunicação social também é menor, porque vai ser distribuída por todos e tudo depende como vier a ser feita a seleção dos melhores. - Roglic e Evenepoel serão os rivais mais perigosos ou existem outros?- Primoz Roglic e Remco Evenepoel são os principais candidatos, depois surgem Tao Geoghegan Hart e Aleksandr Vlasov, sem descartar as eventuais surpresas. - O facto de ser o único português aumenta a responsabilidade?- Reconheço a responsabilidade que tenho perante a equipa e os portugueses, prometo como sempre dar o máximo e lutar pelo melhor resultado. O objetivo serão os lugares do pódio, no ciclismo existe sempre o risco de nem tudo correr como desejamos, senão conseguir foi porque os adversários foram melhores ou as coisas não correram como esperava.