Esgrima «Estamos prontos para lutar com respeito, mas nunca lhes apertaremos a mão»
A tenista ucraniana Elina Svitolina marcou Wimbledon por não cumprimentar na rede todas as adversárias nascidas da Rússia ou Bielorrússia. Ouviu alguns apupos pelo caminho. A compatriota Olga Kharlan, campeã olímpica de esgrima, fez o mesmo, depois de ganhar à russa Anna Smirnova na 1.ª ronda e foi desqualificada dos Mundiais. E nem lhe valeu ter erguido o sabre, sinal de respeito permitido durante a pandemia.
«Queria mostrar o meu respeito, porque acima de tudo vim aqui lutar com ela. Nenhum ucraniano fê-lo antes, por isso seria a primeira. Respeitei-a combatendo com ela, ganhei-lhe com seriedade de justiça», declarou a ucraniana de 32 anos, irada e apoiada pela federação do país que vai recorrer do castigo.
O gesto, porém, deixou Kharlan orgulhosa, tanto mais quando relatou que na véspera tinha telefonado à família na Ucrânia e soube que estavam na cave, pois as sirenes tinham dado sinal dos ataques russos. Depois do gesto no final do combate, teve conhecimento que tinha o apoio dos militares ucranianos e os sentimentos patrióticos ficaram ainda mais exacerbados.
«Isso faz-me chorar ainda mais. Sou-lhes grata pelo que fazem», declarou a atiradora que competiu no dia a seguir à Ucrânia ter aceitado que os seus atletas pudessem competir individualmente em provas de qualificação olímpica contra russos ou bielorrussos em prova sob bandeira neutra.
«Como cidadã ucraniana, é difícil imaginar como vou estar frente a frente co russos, sabendo o que eles apoiam ou porque estão em silêncio sem que ouvíssemos alguma palavra deles ou ainda porque sabemos que representam o exército que está a devastar a Ucrânia todos os dias», apontou.
Com 15 medalhas conquistadas em Mundiais e quatro em Jogos Olímpicos, Olga Kharlan não foi a única ucraniana a recusar o cumprimento. Na véspera, o compatriota Ihor Reizlin deu a vitória ao russo Vadim Anokhin, por desistência, justificando o gesto com certificado médico.
«O árbitro que me deu o cartão chorou quando o fez! A culpa não é dele... Não esperava receber um cartão preto, porque tinha tido uma conversa com o presidente da Federação Internacional de Esgrima [o grego Emmanuel Katsiadakis] no dia anterior. Aparentemente vai dizer que a culpa não é dele, que são apenas as regras que estavam a ser aplicadas... Mas essa conversa teve lugar. Não vou dizer que me fez promessas, mas sabia que ia haver uma provocação, porque estender a mão para a apertar é uma provocação. Uma grande provocação. Ele sabia que isso podia acontecer. Podíamos ter feito a saudação apenas com as espadas e seguir em frente, mas ela não quis. No espaço de uma hora, quando eu ia a caminho do meu próximo combate, eles tomaram a sua decisão, que é horrível», relatou a ucraniana.
«Já tenho medalhas, sou medalhada olímpica, campeã olímpica, mas há algo mais forte: o meu país, a minha família, e eu não podia fazer isso. Espero que todas essas pessoas nunca tenham de sentir o que eu sinto neste momento. Mas espero que um dia compreendam. Recebi um enorme apoio de atletas, celebridades, soldados que estão na linha da frente, as minhas redes sociais explodiram. Se eles estão orgulhosos de mim, significa que fiz algo importante, mesmo que custe muito. É essa a minha mensagem. Atletas ucranianos, estamos prontos para lutar convosco, com respeito, mas nunca lhes apertaremos a mão. Nunca seremos forçados a fazer a paz. É isso que eles estão a tentar fazer, obrigar-nos a desistir», declarou ainda num comunicado do Comité Olímpico Internacional.