Mais Desporto Espanha concede cidadania a iraniana que recusou usar o 'hijab' no Mundial
Após a publicação no Boletim Oficial de Espanha – BOE - equivalente ao Diário da República no país vizinho -, é oficial: a xadrezista Grande Mestre Sara Khadem, nascida há 25 anos no Irão, sobre quem pendia um mandado de prisão caso voltasse ao seu país por não ter usado o ‘hijab’ (lenço a cobrir a cabeça) durante o Campeonato do Mundo de Rápidas da FIDE, disputado de 26 a 28 de dezembro de 2022 em Astana, no Cazaquistão, e que se encontrava exilada em Espanha desde então, possui, a partir deste dia, a nacionalidade espanhola.
A confirmação foi dada pela própria ministra da Justiça, Pilar Llop: «Uma autorização especial, por despacho, a título excecional», que chegou por despacho emanado do Conselho de Ministros.
Sara está exilada desde dezembro em parte não revelada (por razões de segurança) de Espanha, na companhia do filho de um ano e do marido, o realizador cinematográfico iraniano Ardeshir Ahmadi, sabendo que seria detida mal pusesse um pé no seu país natal, onde é regra obrigatória do regime de Teerão e da República Islâmica usar o adereço.
Em janeiro, Sarasadat Khademalsharieh – seu verdadeiro nome completo -, que era 17.ª do ranking mundial à altura -, encontrara-se com Pedro Sánchez, então ainda primeiro-ministro, com quem… disputou uma partida, e desbloqueou o problema de ser presa e enfrentar pena indeterminada caso voltasse a Teerão.
«Como aprendi com Sara, uma mulher que me inspira! Todo o meu apoio às mulheres desportistas, são um exemplo de como tornar o Mundo melhor», foi a mensagem partilhada pelo então líder do Executivo na sua própria conta na rede social Twitter.
Recorde-se que, desde a morte de Masha Amini, em setembro de 2022, às mãos da ‘polícia dos costumes’ do regime iraniano, por não envergar o adereço na cabeça, os protestos se multiplicam há dez meses na antiga Pérsia.
Outra atleta do país, Elnaz Rekabi, que também representou internacionalmente o Irão numa prova de escalada, a 18 de outubro de 2022, sem usar o ‘hijab’ enquanto subia a parede também foi pressionada a justificar-se às autoridades… e acabou por pedir desculpas por não ter envergado o lenço na cabeça, justificando «ter caído durante a competição»… e obteve clemência, após se retratar nas redes sociais. O que Sara recusou.
«Levava sempre o ‘hijab’ comigo mas nunca o usava nos torneios internacionais, nas viagens e no dia a dia, só o punha na cabeça quando a competir, com o tabuleiro na minha frente, pois aí estava a representar o país e sabia que era uma regra. Mas não me sentia bem. Em dezembro, decidi, por isso, parar de o usar. Vi a câmara [fotografá-la] e não me importei: decidi parar. Mas sabia o que ia acontece», afirmou, em fevereiro, Sara Khadem à Antena3, já em Espanha.
Sara estava, pois, plenamente ciente do passo que dera e das repercussões que daí poderiam advir: tem vivido exilada em Espanha, e terá comprado, de acordo com a imprensa do país vizinho, um apartamento para a família… mas a localização permanece por revelar, por razões de segurança. Mas agora, é cidadã espanhola de pleno direito.