PARIS – De cabeça baixa e ainda abalada pelo desgaste da prova de omnium que acabara de correr, Maria Martins ainda não conseguia caracterizar a prova que acabara de fazer e que lhe valera o 14.º lugar, abaixo do top-8 que conseguira em Tóquio e que ambicionava para estes Jogos. «Ainda não encontrei um adjetivo que descreva esta corrida, mas acho que vou lidar bem com o resultado. Fiz a preparação que quis, abdiquei de muita coisa, como o calendário de estrada, mas depois precisamos que as coisas corram como pretendemos no dia. E, infelizmente, não fui tão consistente quanto queria», lamentou. A ciclista de 25 anos não se apresentou muito ao ataque na prova, o que justificou com falta de pernas para fazer melhor. «Estava a tentar poupar o máximo de energia para criar a minha oportunidade, mas a corrida teve muitos ataques e eu nunca senti a oportunidade certa. Trabalhei para o diploma, vou sair satisfeita com a prova que fiz, mas fica um bocado aquém da minha ambição», referiu. Tata Martins, como é carinhosamente tratada, disse ainda que os últimos dias foram difíceis de gerir em termos emocionais, devido às medalhas conquistadas por Iúri Leitão no omnium, e por ele e Rui Oliveira no madison. «É muito complicado gerir todas as emoções das conquistas deles. Estamos no último dia e há uma serie de emoções que é preciso gerir e eu confesso que me senti muito vulnerável para este meu dia», disse, explicando que a relação próxima que existe no seio da seleção faz com que todos vivam muito as conquistas e as derrotas de cada um. «Foi uma felicidade enorme o feito que eles conseguiram, na estreia deles, e finalmente posso ir festejar. Não podia estar mais orgulhosa. Treino muitos dias com eles, sei a preparação que fizeram neste processo e as vezes em que bateram no poste. Aquilo que estão a viver agora é mais do que merecido. O nosso ciclismo de pista merece tudo isto, nomeadamente o nosso selecionador que foi a pessoa que mais acreditou neste projeto e em nós», sublinhou. A conquista do título olímpico de Iúri e Rui foi conseguida poucas horas antes de ela entrar em pista e por isso a ciclista ainda não tinha tido a oportunidade de celebrar com os amigos, algo que pretendia fazer assim que possível. «Optei por não descer quando eles chegaram à aldeia olímpica porque sabia que isso ia mexer comigo ainda mais do que que já tinha mexido. Queria estar serena para ir o mais focada possível. Mas agora é hora de celebrar a conquista deles e de os abraçar como deve ser». A terminar, e tal como os companheiros tinham feito antes, Maria Martins pediu que o desporto seja apoiado em Portugal para que os resultados surjam de forma mais consistente. «Espero que haja mais apoios e que sejam dadas condições, não só para o ciclismo, como para o desporto em geral no país. Os atletas merecem ter mais ferramentas para quando chegamos aqui, lutarmos com as grandes potências do desporto. As medalhas são o fruto, mas todos vêm com o objetivo de dar tudo pelo país», terminou.