O espanhol Délio Fernández (AP Hotels-Tavira-Farense), de 37 anos, não escondeu a sua surpresa, temperada com tremenda felicidade, após triunfar esta segunda-feira na 5.ª etapa da Volta a Portugal, no alto da Torre, na serra da Estrela, que durante 184,3 km ligou Penamacor a um dos mais míticos locais para qualquer amante das duas rodas, tendo conquistado também a ‘camisola amarela’, que pertencia a João Matias (Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua). «Há muitos anos que não tinha um êxito como este. Falei com o meu compatriota e amigo Alexandre Marque [espanhol vencedor da Volta em 2013]. Ligou-me antes da etapa e desejou-me o melhor. Mas a subida da Torre já não tem muitos segredos para mim, após tantos anos e tantas edições da Volta. Conhecia perfeitamente cada metro desta subida, muito especial», revelou Délio, terceiro na Volta-2015, aos jornalistas, após a tirada. «Foi uma subida muito mais estratégica do que em 2015, quando tinha um companheiro de equipa mais bem colocado para ganhar a Volta então, o Gustavo Veloso [ambos na W52-FC Porto, então]. Aprendi muito com ambos. Todas essas experiências serviram desta vez. Vi que havia muitas dúvidas no grupo: éramos um corredor de cada equipa, por isso busquei um grupo e depois a diferença que me permitiu vencer. Pensei também na [classificação] geral, no abrir diferença de tempo para os meus adversários mais próximos. E foi complicado, mas percebi que tinha de ir buscar a [vitória na] etapa. E assim foi. Os últimos 500 metros são muito duros, e a quase dois mil metros de altitude causam grande fadiga», assumiu um galego surpreendido por estar tão bem. «Se me tivessem dito, antes, que iria sair da Torre e desta etapa com a camisola amarela, sinceramente não acreditaria. Nos últimos dois anos, há uma equipa que tem dominado [GlassDrive], surpreendeu-me não terem imposto um ritmo forte desde o início da subida. Quando começaram os ataques, procurei regular desde o primeiro momento. Senti-me depois bastante confortável. É muito de tomar decisões no momento, e parece que as forças e as que tomei foram as certas», foi a conclusão, mais a frio. «Se acredito que posso vencer a Volta? Bem, a verdade é que tenho 37 anos, são muitos de circuito profissional, mas isso também dá outra experiência e tranquilidade. Vamos ver dia a dia, a equipa vai estar 100 por cento a trabalhar, e ver o que as outras equipas conseguem fazer. Vão atacar. Já na terça-feira temos uma etapa muito dura, muito exigente [Penamacor-Guarda, 168,5 km, com cinco contagens de montanha, 6.º etapa]. Se continuar líder, excelente chegar ao dia de descanso [quarta-feira, dia 16] de ‘amarelo’. Faltam muitas etapas decisivas e vamos tentar as nossas soluções», disse Délio Fernández, que explodiu em lágrimas na Torre após cruzar a linha de chegada. A oportunidade que nunca tinha tido «Espero que conservemos a liderança, mas vamos, repito, dia a dia. Se a corrente da bicicleta que saltou no contrarrelógio de Pedrógão a Leiria na penúltima etapa da Volta-2015 quando era segundo da geral, era uma espinha atravessada que foi em definitivo para baixo? Não, não me lembrei dessa etapa. Não tinha conta pendente [risos]», confessou aos jornalistas, com um brilho nos olhos que a felicidade se torna vocábulo redutor ou escasso para dimensionar de forma correta o momento. «Sei que tenho 37 anos, já estou na minha última, ou uma das últimas, vá lá, Voltas a Portugal e era uma das últimas oportunidades de vestir a camisola amarela, o que é sempre especial. Nunca tinha tido a oportunidade antes. Sempre coliderei equipas, nos meus melhores anos. Se calhar, não tenho já as pernas dos meus melhores anos, mas neste dia voltaram! Sabia que, se tivesse um bom dia, poderia estar entre os melhores. À medida que fomos subindo [a Estrela], a minha motivação foi incrementando e as soluções de ganhar ficavam mais perto. E finalmente correu tudo perfeito», resumiu o corredor galego da AP Hotels-Tavira-Farense. «Agradeço e dedico esta vitória aos companheiros de equipa, mas também à minha família e amigos, que me estão a acompanhar e mais sofrem diariamente comigo: a minha filha sofre com as minhas ausências nos estágios e corridas. A minha filha [Noela, 6 anos] e a minha mulher [Anela] ajudam-me muito. Por isso estou muito contente de ganhar diante deles, para que tenham essa recordação para o futuro», concluiu um galego feliz no ponto mais alto de Portugal continental.