Já viajou pelo circuito mundial de ténis, quando era fisioterapeuta particular do agora retirado Dmitry Tursunov, russo que foi top-20 mundial, ou contratado pela federação cazaque para as respetivas eliminatórias da Taça Davis, enquadramento que o levou a viajar com Mikhail Kukushkin, antigo 40.º do ranking. Sempre pronto a «abandonar tudo pelo desporto», Nuno Lobo Ribeiro, que foi basquetebolista e campeão nacional pela Sanjoanense, então na CNB2, também nunca perdeu o «espírito cuidador» carregado na genética de ser neto de um enfermeiro do futebol do Benfica em 1945. O dito desporto-rei levou-o, em 2017, até à Arábia Saudita para trabalhar com José Gomes no Al-Taawon. Por estes dias, o fisioterapeuta de São João da Madeira, que também acompanhou o basquetebol do FC Porto ou da Oliveirense, quando o clube de Oliveira de Azeméis subiu à Liga, e ainda integrou a missão aos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 um dos 20 mil voluntários que zelam pela saúde dos peregrinos nas ruas de Lisboa durante a Jornada Mundial da Juventude e a visita Papal. «É uma loucura, mas está a ser giro. De manhã, o pessoal está espalhado por todo o lado, mas depois concentram-se nos eventos principais onde está o Papa. Tenho pena por, provavelmente, nem conseguir ver o Papa. É muita gente e estou nos turnos dos eventos, onde há mais 'sangue'», metaforizou Nuno Lobo Ribeiro conversa com A BOLA, descrevendo como «chamamento» a oportunidade que lhe está a ser dada nas ruas da capital. O fisioterapeuta «queria participar nas jornadas», tal como fizera integrado no movimento dos Focolares, «que é dos movimentos marianos» em encontros nacionais e internacionais, «mas não com esta dimensão». Os 45 anos não lhe permitiam, todavia, ser peregrino. «Agora estou no grupo dos velhotes. Tinha vontade de participar e não sabia como. Eis que pediram voluntários da saúde no grupo do movimento, no Whatsapp. Disse ‘é este o chamamento’. Inscrevi-me, tirei esta semana e vim», resume. A ida à missa faz parte da rotina matinal de Lobo Ribeiro - «Já rezei pelos ciclistas que vão competir no Mundial», aludiu, referindo-se à Seleção de pista que acompanhou também depois dos Jogos -, antes se juntar à equipa na tenda de campanha que lhe está destinada numa organização «muito bem pensada» na área da saúde. «Há vários níveis, o INEM coordena tudo para tentar não sobrecarregar o Sistema Nacional de Saúde. Temos o hospital de campanha e as tendas que são pequenos centros de saúde, claro que não têm a mesma resposta, e ainda há equipas móveis, onde tenho estado [esta quinta e sexta-feira]. Andamos no meio da multidão. Aí é o Deus me livre», conta, sorridente. «Apanha-se tudo. Desde gente da Jornada Mundial com entorses, bêbados que andam por aí e querem falar. Logo a abrir, tive três entorses e depois, durante as celebrações, há pessoas a cair para o lado, literalmente. Muitas das crises de ansiedade que tenho encontrado têm a ver com cansaço, desidratação, calor... As pessoas apertam-se muito. Havia zonas a partir do Marquês para cima em que era impossível passar, mas havia outras tendas a dar apoio», especificou sobre as 16 tendas, cada uma com quatro ou cinco médicos, estudantes de medicina, enfermeira e fisioterapeuta. ‘Milagre’ da espanhola acalmada no meio da multidão Das «experiências fantásticas» que tem tido, na memória de Nuno Lobo Ribeiro vai ficar a ajuda prestada a uma espanhola. «Quando começou a celebração, nos Restauradores não estava ninguém e a chefe de equipa disse para subirmos. Encontrámos muitas raparigas que desfaleceram. Vieram ter connosco a dar conta de que havia uma pessoa inanimada, não era o caso, mas estava tombada. Fomos a correr era uma rapariga espanhola. Precisávamos retirá-la do local. Estava com um médico que é incrível, professor de medicina da faculdade em Santiago de Compostela, e nem sabia como a íamos tirar dali, tal a multidão. Comecei a abrir espaço com a equipa e viemos cá para fora. Estava descompensada, em choque… Tentei uma coisa que faço, sobretudo em trabalho de reeducação postural. É uma técnica respiratória com a mão no peito. Comecei a falar e, de repente, a miúda transformou-se, parecia milagre. A médica ficou a olhar para mim, até eu estava estupefacto. A cara dela mudou, a calma chegou... Expliquei à médica e utilizei a técnica nela. Foi uma boa partilha. Improvisei ali no meio da estrada, num dos corredores de segurança, e funcionou com a miúda. Agradeci a Deus por ter podido ajudar, porque não esperava que aquilo acontecesse. Estava a ver uma pessoa em pânico e, de repente, fica normal. É uma graça, é a mão de Deus», afiançou. Lobo Ribeiro diz estar a viver «uma graça», mesmo quando os voluntários dormem no chão e tomam banho de água fria. Situação que não suportou por muito tempo, devido às dores causadas por uma poliartrite. A mensagem de Francisco tudo ajuda a tolerar, garante o voluntário: «O Papa é uma lufada de ar fresco neste mundo. Não temos líderes mundiais, só temos malucos. Este é brutal, só lhe falta a energia física para evangelizar mais, porque tem de andar de cadeira de rodas, mas a mensagem dele não bate com a cara, ou seja, tenho recebido os textos dele em papel e são riquíssimos, mesmo para quem não é católico», remata o fisioterapeuta português que, mesmo a trabalhar até à meia-noite, descreve a experiência como «gratificante». Não esconde que, apesar da condição de saúde condicionar, continua à espera de ter outro chamamento, desta feito no desporto. «A mãe da Bianca Andreescu [campeã do US Open em 2019] contactou-me. Já começo a sentir falta da adrenalina do desporto. O treinador do Vasco da Gama [segunda liga basquetebol] convidou-me para colaborar com eles. Em outubro, vou ver se encaixo lá, mantendo claro o trabalho no meu gabinete. Estou ‘por pontas’, mas as forças vêm não sei de onde…»