Foi há pouco mais de dois anos que Artem Nych fugiu da guerra na Ucrânia e foi em Portugal que encontrou emprego e refúgio. Depois de tudo isso, este domingo, celebra uma inesperada vitória na Volta a Portugal.Em 2021, com a invasão da Rússia no país vizinho, o corredor foi campeão de fundo nacional, mas viu-se desamparado com a extinção da Gazprom-RusVelo, em 2022, como efeito colateral do começo da guerra. O gigante de 1,95 metros deixou tudo para trás, até o pai, com quem cortou relações por ser apoiante de Vladimir Putin e das ações bélicas da Rússia na Ucrânia, querendo que o filho participasse na mesma. Artem não fez isso. Saiu de bicicleta e abandonou o país onde nasceu, na região da Sibéria, a 21 de março de 1995. E com mochila às costas, passou por países como a Bielorrússia, Cazaquistão, Turquia e Itália, antes de chegar à cidade onde vive atualmente, Santa Maria da Feira. Acabou por ser acolhido pela Glassdrive-Q8-Anicolor, em 2023, e na primeira experiência da Volta, ficou-se pelo 4.º lugar, depois de mostrar fragilidades na subida à Senhora da Graça. «Se eu vos contasse a história do Artem, ele virava o ciclista do povo português», começou por dizer o diretor da Sabgal-Anicolor, Rúben Pereira, aos jornalistas depois da impressionante 9.ª etapa da Grandíssima de 2024, na qual Nych passou a vestir a camisola amarela. «Pegou numa mochila, sem nada, e veio ter comigo com o contrato assinado. Passámos mesmo muito», continuou, citado pela Lusa. «Sinto-me muito feliz por ter feito isto com o Artem, que significa muito para mim. É como se fosse o meu terceiro filho», desabafou Pereira. Contudo, antes do brilharete na Volta de 2024, deu provas de ter algo a dar à equipa, que tinha como líder Mauricio Moreira. Começou por vencer o GP Beiras e Serra da Estrela, prova na qual conseguiu o bis em 2024, e foi 2.º no Troféu Joaquim Agostinho. Tudo além de ser presença frequente no top-10 das competições em que entrava. E agora tem no palmarés novo título: a 85.ª edição da Volta a Portugal.