Afegã faz história nos Jogos Paralímpicos quando talibãs proíbem artes marciais
A alegria de Zakia que competiu pela equipa de refugiados em Paris 2024

Afegã faz história nos Jogos Paralímpicos quando talibãs proíbem artes marciais

TAEKWONDO30.08.202421:11

Mulheres afegãs desafiam regime cantando de rosto destapado nas redes sociais

De lágrimas nos olhos, a afegã Zakia Khudadadi fez história esta quinta-feira ao conquistar para a equipa de refugiados a primeira medalha da história em Jogos Paralímpicos.

«Foi um momento surreal, o meu coração disparou quando percebi que havia ganha o bronze. Passei por muita coisa para chegar aqui. Esta medalha é para todas as mulheres do Afeganistão e todos os refugiados do mundo. Espero que um dia haja paz no meu país», disse a atleta que conquistou a medalha de bronze, na categoria -47 kg no taekwondo.

No Grand Palais de Paris, Zakia derrotou a turca Ekinci Nurcihan e no fim do combate, explodiu de alegria e atirou ao ar o capacete e a proteção bocal. Khudadadi, que nasceu sem um antebraço, começou a praticar taekwondo em segredo, aos 11 anos, num ginásio escondido na sua cidade natal, Herat, no oeste do Afeganistão.

Com a ascensão do regime talibã ao poder, em 2021, com políticas de forte repressão dos direitos das mulheres, incluindo o de praticar desporto, foi impedida de competir, contudo, acabaria por fugir para França e agora foi autorizada a competir pela equipa dos refugiados. «Para a Equipa Paralímpica de Refugiados, é muito especial, é muito importante. Zakia acabou de mostrar ao mundo o quão boa é. É uma jornada incrível, é algo que todos devemos aprender», elogiou o presidente do Comité Paraolímpico Internacional, Andrew Parsons.

«Notou-se que este desporto é problemático ao abrigo da lei Sharia e que, em muitos aspetos, está em contradição com os ensinamentos do Islão»

Este feito tem ainda mais expressão por acontecer na mesma semana em que o regime taliban decretou a proibição da prática de artes marciais mistas (MMA) por as considerar violentas e incompatíveis com o Islão, anunciaram as autoridades desportivas do país.

«Notou-se que este desporto é problemático ao abrigo da lei Sharia e que, em muitos aspetos, está em contradição com os ensinamentos do Islão. É por isso que foi tomada a decisão de proibir as artes marciais mistas no Afeganistão», justificou o representante do governo talibã.

Lei de 35 artigos

Em 22 de agosto foi promulgada uma nova lei de 35 artigos que visa «promover a virtude e prevenir o vício» e que aplica novas restrições às mulheres, mas que também atinge os homens, agora impedidos de usar calções acima dos joelhos e proibidos de cortar a barba.

Os 35 artigos qua atualizam as regras da moralidade que vão desde exigir às mulheres que cubram a totalidade do corpo e rosto, proibindo-as de usarem a voz em público, seja para cantar, seja para declamar poesia. Num movimento inédito nas redes sociais, as mulheres afegãs publicam vídeos a cantar de cara destapada.

Os condutores de automóveis também estão proibidos de passarem música dentro dos seus carros, transportar mulheres sem véu, mulheres na presença de homens que não sejam membros da sua família, ou mulheres sem um acompanhante, um membro masculino da família.