O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Constantino, acusou a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), através do departamento de marketing, de «organização capitalista pura e dura, na qual a responsabilidade social é um mero ordenamento discursivo», na sequência da polémica decisão de revisão dos patrocínios às federações e comités desportivos como forma de menorizar os constrangimentos financeiros. Numa missiva padrão enviada às entidades patrocinadas, a provedora da SCML, Ana Jorge, antiga ministra da Saúde, anuncia uma revisão destes apoios suplementares atribuídos diretamente que deverá representar corte no financiamento do desporto. Para já, nada é certo, mas está garantido o financiamento definido por lei para a atividade desportiva e a preparação olímpica e paralímpica que também é arrecadado a partir dos jogos sociais e distribuído pela administração pública. Relativamente ao valor gerido diretamente pela SCML, nomeadamente pelo departamento de marketing, José Manuel Constantino lamentou que se oriente por uma lógica «capitalista que avalia o investimento não em função de razões sociais, mas financeiras». E reforçou: «É a escola de Chicago a funcionar. Puro neoliberalismo». Para exemplificar este funcionamento como entidade privada, o dirigente explicou que tem recusado estes patrocínios porque são carregados de obrigações e «a marca COP não está à venda por meia dúzia de tostões». O único patrocínio existente diz respeito às bolsas dos atletas universitários no valor total de 115 mil euros, reforçado em 20 mil pelo COP face ao elevado número de pedidos. «Tentámos celebrar contratos para o programa jogo limpo de combate ao doping, no qual temos alguma experiência, mas nunca conseguimos», lamentou José Manuel Constantino. Diferente é a perspetiva de federações que «só o estado de carência e penúria faz com que aceitem os valores reduzidos dos patrocínios da SCML», nas palavras do líder do COP. O desporto «constrói» as verbas da SCML, mas revela-se sistematicamente «o elo mais fraco nas suas políticas». Ainda assim, José Manuel Constantino frisou compreender que a SCML «repense as coisas quando está a viver os problemas decorrentes do escrutínio do Ministério Público pelos milhões de euros deitados fora no Brasil e de uma auditoria interna relativa à gestão». Em causa, a suspensão decidida por um tribunal de Brasília do acordo para levar a SCML a explorar os jogos e as lotarias na capital brasileira. Em 2021, a Santa Casa Global, para dar resposta ao projeto de internacionalização e detida a 100 por cento pela SCML, deu cerca de 2,2 milhões de euros de prejuízo. Em 2022, a SCML avançou com o aval para um crédito bancário de 6,6 milhões de euros à Santa Casa Global Brasil, segundo a CNN/TVI.