«Um manifesto que nos convida a refletir sobre a promoção do uso da bicicleta» é o mote da exposição intitulada ‘Bicicletas de Macau’, da autoria do fotojornalista e ciclista amador António Mil Homens, de 73 anos, patente na Casa do Arco do Bispo, em Castelo Branco, que este domingo recebeu a chegada da 4.ª etapa da 84.ª edição da Volta a Portugal O antigo fotojornalista, nascido em Lisboa e durante muitos anos residente na Região Administrativa Especial no Oriente – território português até 1999, sob soberania chinesa há 24 anos – acorda a letargia do utilizador comum das ruas rodas para sem número de aplicações (não ‘apps’ informáticas de telemóveis) que, sem darmos conta, elas têm nas nossas vidas. Desde a bicicleta cuja ‘bagageira’ serve de apoio ao caixote de fruta do vendedor, às que fazem as delícias das crianças, até ao contraste absoluto de uma ‘bicla’ vulgar no cenário de um anúncio da luxuosa Emporio Armani, os instantâneos de António Mil Homens, patente gratuitamente ao público na exposição – até 17 de setembro próximo – apela a que paremos para pensar o quanto a bicicleta e a sua pegada zero ecológica resiste, qual gaulês que teima em resistir ainda e sempre ao invasor, em reinventar-se e servir em novas funções com utilidade e eficácia comprovadas. Juntamente com uma bicicleta feita com material chinês, trazida do território onde a bandeira das quinas imperou até 1999, uma homenagem a uma figura à qual a bicicleta todos associam, bem como o assobio: o amola-tesouras. E é a bicicleta utilizada pelo último amola-tesouras conhecido na região que se dedicava a um ofício tradicional de afiar instrumentos de corte, uma profissão em risco de extinção nesta voragem tecnológica que tudo ultrapassa de um dia para o outro num século XX sem ponta de piedade, que também está exposta. Mil Homens integrou o Clube Promotor de Ciclismo da RAE de Macau e, nas suas viagens de catarse e escape a dar ao pedal, juntou o útil ao agradável. Que, no seu caso, é mais o pessoal ao profissional: registou momentos, instantes. Que estão agora perenes, fixados, em impressão metalizada com aros de roda por molduras, a cair do teto e remeter para as decorações natalícias, lustres de sala ‘avant garde’ ou ainda óculos ‘garrafais’. Imagens para respirar fundo, e que obrigado a gastar neurónios sobre o quê e o porquê de registar aquele específico contexto e momento. Ilustram na perfeição o quanto, com pés de veludo e sem nos darmos conta, as bicicletas são parte das nossas vidas, por muitas Voltas que se deem… a Portugal.