Vítor Murta vê Boavista «muito melhor» ao fim de dois mandatos presidenciais
Vítor Murta (D.R.)

Vítor Murta vê Boavista «muito melhor» ao fim de dois mandatos presidenciais

NACIONAL15:17

Sucessor do ainda presidente dos axadrezados vai ser conhecido este sábado

Na antecâmara das eleições presidenciais do Boavista, Vítor Murta afirma que o clube está numa melhor posição atualmente do que quando foi eleito, há seis anos.

«Quando me candidatei, tínhamos um processo de insolvência à porta e ninguém se quis aventurar, mas agora houve várias listas, temos ativos que não existiam nessa altura e há suporte do [acionista maioritário da SAD] Gérard Lopez, que, mal ou bem, vai injetando dinheiro. No último verão, injetou mais de cinco milhões de euros e nem com isso a SAD conseguiu levantar os impedimentos da FIFA. Nós já estamos muito melhor do que estávamos e temos vida», frisou o advogado, de 49 anos, em entrevista à agência Lusa.

Eleito sem oposição em dezembro de 2018 como sucessor de João Loureiro, de quem já tinha sido presidente-adjunto, e reconduzido ao fim de três anos, Vítor Murta não se recandidatou a um terceiro mandato e está de saída do 18.º e último colocado da Liga, após já ter chefiado a SAD, gestora do futebol profissional 'axadrezado', de 2020 a 2024.

«A história irá contar o meu percurso no Boavista. Estamos numa fase em que esta ideia de saída é demasiadamente fresca e, até para mim, fica difícil fazer um balanço. Posso dizer que exerci as minhas funções com orgulho enorme e dei o meu melhor, o que nem sempre foi suficiente. Esta instituição tem imensos problemas, principalmente no plano financeiro, que se originaram a partir da construção do Estádio do Bessa e foram sendo herdadas ao longo dos anos. Acho que quem passou por cá tentou dar o melhor», sublinhou.

O advogado sucedeu a Álvaro Braga Júnior, antigo presidente do clube, na SAD, poucos meses antes da entrada do investidor hispano-luxemburguês Gérard Lopez no controlo maioritário, decisão aprovada por unanimidade pelos associados em Assembleia Geral. Desde 2020/21, o Boavista atingiu sempre a manutenção no escalão principal, mas Vítor Murta nota que o projeto desportivo «acabou por ser posto em causa» com uma alegada incompatibilização entre Gérard Lopez e Luís Campos, então diretor-geral para o futebol.

«O Gérard foi fundamental para a nossa sobrevivência. Se não tivesse entrado na altura, penso que não estaríamos agora a competir na I Liga. Outra coisa é se faz sentido a sua continuidade. Se a SAD cumprir com o protocolo com o clube, acho que sim. Se não, há que encontrar outras soluções ou este clube não tem forma de subsistência», enquadrou. Vítor Murta não foi convidado pelo investidor para fazer mais um mandato na SAD e deu lugar em maio de 2024 ao antigo futebolista senegalês e então administrador Fary Faye, três meses depois de renunciar ao cargo em desagrado com a contestação dos adeptos.

«Estava chateado e ferido, mas, se fizer um exercício de memória, percebe que naquela altura não estávamos no último lugar da I Liga, os funcionários não tinham quatro meses de salários em atraso e existia uma contestação forte a mim. Agora, estamos no último lugar, os funcionários têm quatro meses em atraso, não se afiguram melhorias na SAD e parece não existir contestação. A contestação que havia foi promovida internamente com o objetivo claro de que eu saísse da SAD. Tudo isto foi feito por gente que fazia parte da SAD, quis tomar o poder e, agora que o tem nas mãos, não sabe o que fazer», recordou.

SAD acusada de reiterada ausência de resposta

Também à Lusa, Vítor Murta acusou a atual SAD das panteras de reiterada ausência de resposta. «É a postura normal da SAD desde a tomada de posse do Fary Faye. Tem existido uma completa ausência de resposta, além do incumprimento para com o clube. Vão pagando algumas coisas avulsas, mas não cumprem na íntegra o protocolo e isso causa enorme prejuízo», disse o ex-líder da SAD portuense (2020-2024), em entrevista à agência Lusa.

No sábado, Vítor Murta recebeu um documento das mãos do gestor Filipe Miranda com a disponibilização de uma garantia de 910 mil euros para ajudar a SAD a desbloquear o impedimento de inscrição de novos jogadores junto da FIFA, mas «não recebeu qualquer resposta até ao momento» da administração liderada pelo ex-futebolista senegalês Fary.

O documento recebido pelo clube decorre de um acordo celebrado a 50 anos entre a lista de Filipe Miranda e um fundo de investimento norte-americano, que permitiria antecipar em meio ano, com uma taxa de juro «muito baixa», a receção de uma verba de um milhão de euros pela transferência do defesa direito Pedro Malheiro para os turcos do Trabzonspor, negociada em julho em 2024 por €2M fixos, mais 500 mil em variáveis.

«Nem sequer analisei o documento em si. O que fiz foi recebê-lo, entrar em contacto com a SAD e solicitar uma reunião com caráter urgente para se perceber se seria possível resolver o impedimento com isso», notou Vítor Murta, frisando que a candidatura de Filipe Miranda tentou fazer o mesmo com o acionista maioritário da sociedade, Gérard Lopez.

Contactada na altura pela agência Lusa, fonte ligada ao processo disse que a solução do gestor para suplantar um problema em vigor há cinco janelas de transferências seguidas «não é possível» em função do Processo Especial de Revitalização (PER) da SAD, cujo pedido foi aceite em novembro de 2024 pelo Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia.

Já a Boavista SAD mostrou-se indisponível para reagir às declarações de Vítor Murta e remeteu para um comunicado publicado no sábado, antes da conferência de imprensa promovida pela candidatura de Filipe Miranda, garantindo estar focada «na resolução dos problemas mais prementes da sociedade» e com «total imparcialidade» no ato eleitoral.

De acordo com a última atualização da lista de clubes sujeitos a proibições de registo por parte da FIFA, o Boavista enfrenta 16 processos ativos, dos quais sete vigoram por três períodos de inscrição e nove têm duração ilimitada, estando datados de abril de 2023 a dezembro de 2024, período que envolve o último ano de Vítor Murta na SAD, administradora do futebol profissional 'axadrezado', bem como os primeiros oito meses da gestão de Fary.

O advogado lembra que o Boavista poderia ter desbloqueado os impedimentos no verão de 2023 através da venda de «alguns atletas nucleares», entre os quais Pedro Malheiro, Bruno Onyemaechi e Róbert Bozeník, mas, em conversa com o então treinador Petit, foi decidido manter a equipa, sem necessidade de inscrever novos jogadores para 2023/24.

«Começámos muito bem essa época, mas, depois, por implosão interna das pessoas que nesta altura estão à frente da SAD e que quiseram tomar o poder, começou a haver um rebuliço. Estava a aproximar-se o fim do meu mandato e era preciso que as coisas não corressem bem para haver uma troca. Levantaram-se alguns tumultos internos, a equipa ressentiu-se disso no campeonato e as coisas começaram a não correr bem», defendeu.

Com a saída de Murta da SAD antes do último verão, momento em que a anterior gestão previa sanar em definitivo as restrições, a equipa de Fary tomou posse e preparou a nova época, mas nunca conseguiu registar reforços, apesar de já terem deixado de constar do portal do organismo quase metade do máximo de 39 impedimentos atingidos há um mês. «Os bloqueios estão a ser levantados com base no PER que a SAD intentou. O PER está a suspendê-los, pois os impedimentos não estão a ser pagos. Se o PER da SAD não for aprovado, os impedimentos vão manter-se todos. Agora, eu pergunto porque é que não intentaram um PER logo em maio? Se o fizessem, suspendiam os processos da FIFA e inscreviam atletas em agosto», alegou.

Antes do final da janela de verão, na qual atingiu 2,5 milhões de euros fixos com as vendas de Pedro Malheiro e Chidozie, mais 700 mil euros em objetivos, por entre diversas saídas a custo zero, a SAD justificou a impossibilidade de resolver as restrições em tempo útil com uma penhora excecional validada no período de férias judiciais e libertou Ibrahim Alhassan e Bruninho, reforços anunciados para 2024/25 e sem utilização possível em jogos oficiais.

«O clube e a SAD têm os bens penhorados há muitos anos. Essa dívida da BTL vem da construção do estádio, mas utilizaram um argumento falso para justificar a não inscrição», ripostou Vítor Murta, desconhecendo o valor necessário para libertar as restrições atuais.