Um vermelho decisivo: a crónica do FC Porto-Vizela
O FC Porto perdia por 0-1 aos 49 minutos quando Lacava foi (bem) expulso. Depois, assistiu-se à crónica de uma reviravolta anunciada
Quem tiver conhecimento deste jogo apenas pelo resultado final, ficará com a ideia, errada, de que se tratou de um mero passeio para a equipa de Sérgio Conceição. Na verdade, por circunstâncias várias, os dragões penaram durante muito tempo até terem a certeza de que os três pontos não lhes fugiam.
O Vizela deslocou-se ao anfiteatro azul e branco com uma equipa falsamente atacante, onde aos quatro defesas se juntavam sistematicamente os alas (Lokilo e Lacava), que acompanhavam os laterais portistas e, na prática, criavam uma linha de seis defensores, protegida ainda por Essende e Petrov, que sempre que necessário, sem bola, apoiavam o trabalho dos médios Bruno Costa e Samu. Estava o jogo nestes preparos, com o FC Porto a sufocar o Vizela, que insistia em algumas saídas de bola, a partir do guarda-redes, a raiar a irresponsabilidade, quando imediatamente após uma grande defesa de Buntic a remate de Otávio, Pepe fez um autogolo para os apanhados, naquela que foi a única vez na partida em que a bola, que caminhou vagarosamente até ao fundo das redes de de Diogo Costa, saiu enquadrada com a baliza portista.
Reação em quantidade
A partir desse momento, Rubén de la Barrera baixou as linhas ainda mais, passando daquilo que parecia ao início um 4x4x2 de matriz nórdica, com pouco espaço entre setores e uma disciplina tática espartana, para um autocarro à antiga portuguesa, baseado no acantonamento de jogadores vestidos de preto à frente de Buntic. Foi assim que se esgotou a primeira parte, com um crescente enervamento da equipa do FC_Porto, que tentava, sobretudo através de remates de meia distância e cruzamentos, chegar ao empate, sem o conseguir.
O minuto 49
Tinha a segunda parte começado há quatro minutos quando o venezuelano Matías Lacava, que já tinha sido amarelado aos 38 minutos, teve uma entrada imprudente sobre Francisco Conceição e viu a segunda admoestação e recebeu a respetiva ordem de expulsão. Nesse momento, não terá havido ninguém que não tivesse percebido que a reviravolta portista era apenas uma questão de tempo. O treinador espanhol dos forasteiros recompôs, como pôde, a sua equipa, sacrificando Petrov para colocar Matheus Pereira nas mesmas funções de Lacava, sobre a esquerda, mas três minutos depois o filho Francisco Conceição tirou um coelho da cartola, derivando da ala direita para o centro, para concluir a jogada com um portentoso pontapé em curva que não deu hipóteses a Buntic, e logo a seguir o pai, Sérgio, fez o xeque-mate, mandando Namaso a jogo (saiu Varela) e aumentando o sufoco vizelense. Com a ala direita, chamada à Seleção portuguesa (João Mário/Francisco Conceição) a carburar bem melhor que a ala esquerda, chamada à Seleção brasileira (Wendell/Galeno), o FC_Porto continuou a ameaçar chegar à vantagem, obrigando Buntic a trabalho de qualidade e a restante equipa a um constante salve-se quem puder, até que Pepê, que na noite de ontem jogou primeiro entre os médios e o avançado, depois a defesa direito, e finalmente a extremo esquerdo, colocou os dragões em vantagem, estavam jogados 68 minutos. Aquilo que se adivinhava a partir da expulsão (limpinha) de Lacava, estava materializado, e apesar de ter aproveitado para ir refrescando uma equipa que vinha de um grande esforço no Emirates Stadium, Sérgio Conceição ainda viu Evanilson e Toni Martínez darem ares de goleada a um jogo complicado.