Benfica Todas as explicações de Rui Costa sobre o mercado
O presidente do Benfica esclareceu, em entrevista à BTV, os adeptos sobre todas as movimentações do Benfica no defeso. O empréstimo (com clásula de compra obrigatória) de Gonçalo Ramos para o PSG, a saída de Vlachodimos para o Nottingham Forest ou as contratações de Di María e Orkan Kokçu foram alguns dos 'temas quentes', mas também a arbitragem no arranque do campeonato foi analisada por Rui Costa. Confira tudo o que foi dito.
Arbitragem: «Mais do que surpreendo fico preocupado. Se estamos à procura de bom espetáculo para vender os direitos televisivos termos de mudar muita coisa. O que se passou no Dragão não é a melhor forma de vender o campeonato, todas as entidades devem estar muito atentas a isso. Vamos fazer o que nos compete, tentar ser melhor do que os adversários no campo e procurar que haja justiça e clareza. Espero que situações como aquela deixem de existir.»
Ambição para a época: «Em termos internos, partimos logo do princípio de que revalidar um título é mais difícil do que o conquistar. Somos o alvo a abater, é um ano de mudanças no apuramento para a Liga dos Campeões. Se estou satisfeito com o que tenho visto nestas 4 jornadas? Não estou, evidentemente. Não vou estar a pisar o que toda a gente viu. Queremos que quem ganha em campo seja o mais forte e é isso que vamos procurar fazer. Nós chegámos por dois anos consecutivos aos quartos-de-final da Champions, começando por aí sabemos o quanto é difícil chegarmos a uma final, mas é nossa obrigação sermos ambiciosos e iremos lutar até à exaustão para chegar o mais longe possível. No ano passado chegámos aos 'quartos' mas ficou um amargo de boca porque acreditávamos que podíamos chegar mais longe... Não devemos em momento algum tirar os pés do chão e saber a dificuldade que é chegar a uma final da Liga dos Campeões, mas ao mesmo tempo não ambicionar para que seja possível um dia isso acontecer. Esse dia pode ser amanhã ou daqui a uns anos. É obrigatório no Benfica trabalhar para o melhor do clube e o melhor é também olhar para o panorama internacional.»
Satisfação de Roger Schmidt: «Tudo isto foi feito em consonância, não há jogadores sem o 'ok' do treinador assim como não há pedidos do Roger sem a análise do nosso scouting. Estou muito satisfeito com este mercado, mas será a bola que nos irá dar razão, ou não.»
Cher Ndour: «Negociámos bastante, estava para renovar, entendeu que o futuro não passava pelo Benfica e apareceu o PSG. Quisemos muito ficar com o Ndour, mas não posso obrigá-lo a ficar no Benfica. Muitas vezes, os jogadores têm menos paciência porque hoje em dia há uma oferta muito maior e eu respeito isso. Pensam mais no imediato e não tanto no futuro.»
Grimaldo: «Fizemos os possíveis para o manter, era dos jogadores com mais anos de casa... Não tínhamos completado as negociações, mas, como o próprio disse, procurou outro desafio. Não deixou de representar o Benfica, esteve a patamares altíssimos, mas preferiu ir para outras pargens. Temos de respeitar.»
Paulo Bernardo, Martim Neto, Henrique Araújo e Tiago Dantas: «Acreditamos que podem vir ser a jogadores de equipa principal. Vai tocar a eles mostrarem-se para que possamos analisar se voltam ou não. Tal como fizemos com o Florentino, que hoje tem a importância que tem no plantel.»
Lucas Veríssimo: «Ao fim de um ano e meio parado era essencial para ele estar numa posição que não de quatro central no Benfica. Não era legítimo condená-lo a mais um ano nesse estatuto e decidimos pelo empréstimo. Já tem jogado no Corinthians, o empréstimo não tem opção de compra para podermos estudar todas as soluções no fim do ano. Espero que ele volte a ser feliz, estava na situação triste de não poder ser utilizado. No ano passado, sem ter utilização em campo, foi dos mais influentes no balneário e ele merece esta nota positiva da nossa parte. Se não fosse aquele azar da lesão era hoje, com certeza, titularíssimo.»
Andreas Schjelderup: «Apontamos muito ao futuro, a Europa também o queria... Tem 19 anos acabados de fazer, quisemos apetrechar a equipa de variadas soluções prontas, com maior ritmo, e se olharmos para as três posições por trás do avançado temos João Mário, Neres, Rafa, Aursnes, Guedes, Di María, Tiago Gouveia... Com a idade que tem, o Schjelderup precisa de jogar. Rafa está no último ano de contrato, Di María e Guedes estão um ano, não sabemos se conseguimos ficar com eles ou não, portanto, apontando ao futuro do Schjelderup, seria inútil ficar cá sem espaço. Ele preferiu regressar a casa e isso permite-nos reduzir €2,5M à transferência dele. Saímos todos bem nesta fotografia neste processo.»
Vêm Di María e Kokçu vamos ser campeões europeus, sai o Gonçalo a coisa já não vai correr bem... Dramatizamos muito, é preciso criar algum equilíbrio
Gonçalo Ramos: «Não escolhemos os timings, as propostas aparecem quando aparecem... O empréstimo teve a ver com o 'fair-play' financeiro do PSG, para nós não altera nada em termos financeiros, tem uma obrigatoriedade de compra. O facto de ter sido perto da Supertaça... Ninguém escolhe timings para iniciar negociações, houve uma tentativa de adiar para depois da Supertaça, mas, a partir do momento em que o jogador já está em posse do futuro clube, esqueçam. Não vale a pena contar mais com esse jogador. Um jogador que tem um contrato com os valores que podem calcular, na cabeça dele não teria disponibilidade total para estar no Benfica mais uma semana. Na cabeça dele já não estava a Supertaça e o jogo foi preparado sem a presença dele, é legítimo que ele não tenha querido arriscar. É uma ideia mais romântica do que real e temos de ser muito objetivos. Aquilo que apelo aos adeptos é por um meio termo, parece que é sempre um drama quando acontece qualquer coisa. Já temos muita gente a querer falar de nós, que sejamos nós a proteger-nos a nós próprios.»
Vlachodimos: «Não deixa de ser uma situação sensível, não vou meter para baixo do tapete o que aconteceu, foi público. Representou o Benfica cinco anos, merece o maior respeito. Foi vontade do próprio sair depois de perceber que ia perder espaço. No ano passado, quando faltavam dois dias para o fim do mercado, teve proposta do Ajax, muito vantajosa para ele, e nem sequer pudemos olhar para ela, estava praticamente a fechar o mercado. A vinda do Trubin precavia uma possível saída do Odysseas e, chegando essa proposta, pensámos que a melhor solução era aceitá-la e que o jogador fosse procurar outra experiência. Sai daqui da mesma maneira que entrou, estaremos sempre gratos ao que fez no Benfica, mas a vida do jogador é mesmo isto. Chegámos à conclusão de que o ciclo dele tinha terminado e desejamos-lhe as maiores felicidades.»
«Este plantel não custa mais um euro do que o do ano passado.»
Gilberto: «Teve proposta interessante para ele em janeiro, na altura preferimos não alterar o plantel e acabou por começar a perder espaço, até para o Aursnes... Foi vontade do próprio voltar ao Brasil, apareceu uma proposta vantajosa também para o Benfica. Podemos encaixar aqui o Ristic. Foi um jogador cumpridor das suas tarefas mas, tendo pouco espaço no plantel, acabou por ser benéfico para ambas as partes. Ele quis sair para o Celta de Vigo e permitiu-nos abrir lugar para o Bernat.»
Weigl: «Estava emprestado, apareceu a oportunidade de continuar lá e apareceu a possibilidade de o Monchengladbach ficar com o jogador. Entendemos que foi um bom negócio.»
«Temos mais soluções e temos um plantel mais forte do que no ano passado.»
Juan Bernat: «Tem perfil diferente do Jurásek. Acho que um vai ser ajuda para o outro e vai permitir que o Jurásek cresça sem a responsabilidade de substituir o Grimaldo de forma tão imediata. Sabíamos que poderia ter saída do Paris Saint-Germain e consideramos que é uma enorme mais-valia para o plantel. Jogador maduro, de Champions, de seleção nacional e de grande qualidade. Já que falamos de laterais, tenho de falar do Aursnes, não é um tapa-buracos. É, talvez, o jogador mais versátil na atualidade no mundo do futebol, tomara o Benfica ter mais Aursnes. Se ele joga a lateral é por estratégia, não é por falta de jogadores.»
Di María: «Tem um prazer imenso em representar o Benfica. Di María fechou contrato um mês antes de se apresentar na Luz. No ano passado esteve muito perto e entretanto apareceu a Juventus com valores que não poderíamos chegar perto e havia na cabeça do jogador a vontade de experimentar o campeonato italiano. Foi por pouco que não veio no ano passado, sendo que, nesta época, não quis ouvir mais nada. O Di María veio sem ultrapassar o tecto salarial e sem prémio de assinatura! Di María veio para Benfica unicamente pelo salário e que não ultrapassa o tecto. Assinou por uma época, mas vamos ver, tenho de esperança de o convencer a algo mais... Evidentemente respeitei o estatuto do jogador mas não está acima do tecto. Ele nem quis saber qual era esse tecto, acreditou na minha palavra e nem sequer regateou um euro. A vinda dele foi mesmo de 'eu quero voltar a jogar no Benfica' e já toda a gente percebeu a alegria que este senhor tem em jogar no Benfica.»
Arthur Cabral: «Estava identificado desde o tempo do Basileia e também o Roger Schmidt o tentou levar para o PSV. Depositamos grandes esperanças, temos de lhe dar tempo para se adaptar à nova realidade. Tem as condições ideais para jogar no nosso estilo de jogo.»
David Jurásek: «Foram identificados vários alvos, em consonância com a equipa técnica considerámos que tinha o perfil para chegar ao nosso clube. Vamos ter de ter paciência para que ele se adapte ao Benfica. Não é fácil entrar na equipa e os adeptos têm de ter consciência disso... Nenhuma dúvida sobre a qualidade do Jurásek.»
Gonçalo Guedes: «Há muito pouco para explicar, toda a gente o conhece, tem uma paixão imensa pelo Benfica. Foi muito influente dentro e fora de campo na conquista do título. Está a recuperar da operação no joelho, que teve de ser feita após o jogo com o Sporting, em que se lesionou, mas ainda ninguém percebeu como aguentou os últimos 15 minutos a jogar. Há uma vontade clara do Gonçalo Guedes em jogar no Benfica. Penso que no final do mês já estará a trabalhar com a equipa.»
Trubin: «Não estava inicialmente nos planos porque era quase inalcançável mas tivemos uma janela de oportunidade para chegar a este guarda-redes, que estava referenciado por toda a Europa. Havia clubes com maior dimensão financeira na corrida, o que fizemos foi antecipar a manobra e trazer um guarda-redes que, estou convencido, será dos melhores da Europa nos próximos anos.»
Renovações de contrato com Otamendi, Tiago Gouveia, Tomás Araújo e João Neves: «Posso adiantar que a renovação do Otamendi não foi de dificuldade elevada, principalmente pela vontade que o nosso capitão tinha em continuar no Benfica. Podia ser um dos alvos do futebol árabe, é um campeão do Mundo, mas desde que começámos as negociações que senti grande vontade do Otamendi em continuar connosco. O Otamendi encarnou o Benfica, é o grande líder da equipa.
Kokçu: «Foi a aquisição mais cara da história do Benfica. Já estava identificado há bastante tempo, na altura da saída do Enzo, se tivéssemos tido tempo de mercado, provavelmente ele teria sido o jogador escolhido. 22 anos, é extraordinário, leitura de jogo fenomenal... Ainda agora recebeu o prémio do melhor campeonato neerlandês. Vai dar um aporte muito grande à nossa equipa e ninguém tem dúvida deste valor. Não olhámos tanto para os valores mas se tínhamos condições para o contratar.»
Relativamente a Tiago Gouveia e Tomás Araújo, são dois jogadores da formação em quem depositamos muitas esperanças. Evoluíram muito na época passada, no Estoril e Gil Vicente. Acreditamos que poderão ser jogadores da primeira equipa mas têm de dar um outro salto para evoluírem. Em relação ao João Neves, posso dizer que foi a renovação mais fácil dentro deste clube. A única coisa que ele queria saber era quando renovava e quando era o próximo jogo. É um menino que tem tido uma evolução extraordinária, estamos orgulhosos dele.»
Benfica privilegiou a aposta desportiva? «Evidentemente. A saída do Enzo Fernández já está mais do que falada, este ano fizemos a venda do Gonçalo Ramos pelos valores que se conhecem, a transferência pode chegar aos 80 milhões de euros. Sei que cada adepto sofre com a saída de um titular, não sofre menos do que quem tem de fazer esta venda... O Gonçalo foi um jogador extraordinário na época passada, é da nossa formação... Também nos custa muito perder um avançado como o Gonçalo. Todos os anos se discute a saída de jogadores. Tem de haver a convicção de toda a gente que não há clube em Portugal que possa manter as suas contas sem fazer vendas de jogadores. Esta venda do Gonçalo permitiu impedir as saídas do Neres, Musa, João Neves ou Florentino, que também tiveram propostas. A venda do Gonçalo Ramos permite-nos poder chegar até ao final da época sem ter a obrigatoriedade de vender mais nenhum jogador e cumprir o exercício financeiro.»
Estratégia do mercado: «A estratégia foi seguir o que fizemos no ano passado e alimentar uma estratégia criada a quatro anos, o meu mandato, que visa a parte desportiva e reforçar, de ano para ano, as nossas equipas.
Maior qualidade, número de ativos mais reduzido do que tínhamos quando entrámos como Direção, privilegiando a parte desportiva. Esta época, a remodelação não era tão evidente como há um ano, procurámos reforçar todos os setores e as posições-chave, balançando tudo com a estratégia financeira do clube e salvaguardando-o nesse aspeto. Foi um mercado muito positivo e que nos deixa em condições de lutar por todas as competições. Tudo foi ponderado e o que gastámos foi aquilo que podíamos gastar e o que vendemos foi o que tivemos oportunidade de vender.»