E a figura do ano de A BOLA é… Viktor Gyokeres! Melhor marcador dum campeonato que o Sporting conquistou, impacto extraplanetário a colocar os leões nas bocas do mundo, 62 golos marcados em 2024: ninguém marcou tanto como ele em parte alguma do planeta! Mais palavras para quê? É um artista… sueco. Pela primeira vez, à 21.ª edição de um prémio que é por nós atribuído desde 2004, um estrangeiro merece a distinção que assinala a figura desportiva que mais se destacou em Portugal durante o ano civil. 2024 como mais nenhum outro, para mais tarde recordar. TUDO PRONTO O dia e hora estavam marcados há algumas semanas. O local também: a Academia Cristiano Ronaldo — astro maior de Portugal, vencedor deste prémio em 2006 e 2013 —, em Alcochete, o laboratório onde Gyokeres trabalhou os golos que marcou e onde continua a trabalhar os mais que quer marcar de leão ao peito. Manhã fria de dezembro que aos poucos, com o sol a aquecer, fica mais amena para receber o supergoleador de 26 anos. Antes há treino. Temos de esperar. Na caixa bordô, revestida em pele, descansa o troféu, a bola dourada de A BOLA sobre uma placa de mármore com a gravação Figura do Ano 2024 — Gyokeres não deixa dúvidas: ninguém se destacou tanto como o sueco, nascido em Estocolmo no dia 4 de junho no ano de 1998. Está quase na hora. Na Academia o movimento habitual, os tratadores da relva dedicam-se ao tapete verde do Estádio Aurélio Pereira, figura máxima da formação, descobridor de talentos, como o próprio Cristiano Ronaldo, que certamente aprovaria um menino sueco e loiro mas nada tosco se lhe aparecesse à frente a prestar provas. Está na hora. O treino já acabou, Gyokeres já se desequipou, já tomou o banho revigorante e aprimorou o penteado que o caracteriza. Podemos ir ter com ele, ele está pronto para agarrar no troféu. O diretor-adjunto de A BOLA, Alexandre Pereira, encarrega-se de o levar, ainda protegido pela caixa que lhe serve de casa, e com cuidados de ourives. Nas suas mãos está seguro até chegar ao campeão — sim, campeão pelos golos que marcou, campeão nacional porque com eles ajudou, e muito, o Sporting a conquistar o segundo título em três anos e com o cunho do treinador Ruben Amorim, entretanto já no Manchester United. Da zona de imprensa do centro de treinos leonino até aos relvados da ala profissional são ainda umas centenas de metros, percorremos os corredores entre três relvados e ainda o sintético coberto. Na caminhada cruzamo-nos com as jogadores da equipa feminina. Bons dias, ainda que seja já início de tarde, trocados e o olhar curioso de jogadoras como Ana Borges ou Brenda Pérez para adivinhar o que aquela equipa estranha à Academia estará ali a fazer. E olhos naquela caixa que o Alexandre leva na mão. Chegamos junto dos relvados onde a equipa A leonina trabalha todos os dias. São dois, mais os espaços de relva que vão para lá dos limites das linhas brancas traçadas. Gyokeres está quase a chegar, diz-nos Filipe Dinis, o assessor de imprensa do futebol profissional. E estava mesmo, nem passaram cinco minutos e lá vem o nosso homem. No início da rampa que conduz dos balneários para os relvados, junto de Gonçalo Santos, o diretor de comunicação leonino, Viktor Gyokeres, alto e espadaúdo em passo calmo, impõe respeito pela sua estampa — imaginem quando embalado em desenfreada correria com a mira apontada às balizas adversárias… Cada vez mais perto, dá para ver que vem a sorrir, bem disposto. «Bom dia», solta num português que ainda tem de aprimorar para poder manter uma conversa com a comunicação social. Calças baggy de ganga clara, como mandam as últimas tendências, camisola Sporting listada, sweatshirt clássica, linha vintage do emblema leonino ainda com o símbolo antigo. E confirma-se: o penteado está, como sempre, imaculado — nem um cabelinho loiro fora do lugar. FELICIDADE E AGRADECIMENTO Cumprimentos trocados, o Alexandre faz as honras de A BOLA e entrega o prémio de Figura do Ano ao grande vencedor. Gyokeres olha, aprecia e sorri. Agradece e lembra outro prémio, entregue em maio: «Tenho lá um parecido.» E tem, é a Bola de Prata que lhe entregámos no final do campeonato conquistado pelo Sporting, 29 golos do sueco que contribuíram também para este reconhecimento em final de 2024. Prémio em mãos, lugar reservado na vitrina de troféus lá de casa, altura para as poses vencedoras para a posteridade. E para uma pequena conversa connosco. «Claro que é bom ser o primeiro estrangeiro a ganhar o prémio de Figura do Ano de A BOLA. É sempre bom, sinto-me muito feliz», disse-nos depois de agradecer. «Significa que tivemos um ótimo ano com o Sporting e eu fiz parte disso. Foi um 2024 muito bom e espero que possamos fazer ainda melhor no próximo ano e ganhar muitas coisas juntos», desejou, projetando já o futuro, ao que pode vir em 2025. «Desejo para 2025? Vamos ver, mas precisamos de ganhar os jogos e ver quão longe podemos chegar», esquivou-se o camisola 9 dos leões quando questionado sobre que prémio gostaria de ganhar em 2025 e em que sítio: em Portugal e no Sporting ou já no estrangeiro noutro clube — só falou do leão e sorriu. Mas, sobre o futuro, Viktor Gyokeres não chutou para canto a pergunta sobre outro desejo para o novo ano: o do bicampeonato, inédito em Alvalade há 70 anos e desde o primeiro minuto assumido como grande objetivo, logo por Ruben Amorim na festa do título de 2023/2024 no Marquês de Pombal. Sobre isso, sobre ganhar outra vez o campeonato, o sueco foi letal como se estivesse na cara do golo. «Claro que queremos o bicampeonato, é o nosso objetivo. Mas estamos noutras competições também e queremos, em todas, ir o mais longe possível. Estamos em todas as provas e queremos continuar assim», respondeu sem pestanejar, como que garantindo que o momento mau que a equipa experimentou desde a saída de Amorim está para trás, que os leões estão de volta à luta. Para a despedida, uma mensagem aos adeptos leoninos, que tanto ajudaram na última conquista, que tanto ajudaram no arranque do campeonato e que mesmo com a desconfiança na transição de Amorim tanto podem ajudar no futuro — e já ajudaram na vitória por 1-0 no dérbi com o Benfica, que mete o leão novamente como líder agora na viragem do ano, depois de ter passado o Natal no 2.º lugar: «Só quero agradecer aos adeptos. Foi incrível. Queremos ter mais noites para nos divertirmos juntos. Que se divirtam sempre fora do campo, estamos sempre juntos.» PASSADO E FUTURO Passou quase um ano meio desde que Gyokeres assinou pelos verdes e brancos. Uma descoberta do departamento de scouting dos leões e que desde o primeiro minuto, ainda com a temporada 2022/2023 em andamento, deixou Amorim louco de desejo para o ter no plantel. Foram meses de luta por parte da administração do Sporting para conseguir contratá-lo ao Coventry. O clube do segundo escalão inglês exigiu sempre valor na casa dos 20 milhões de euros, que o Sporting acedeu a pagar, para chegar aos 24 milhões mediante objetivos — número de golos, títulos, qualificação para a Liga dos Campeões… O valor final já anda perto desses 24 milhões, a mais cara contratação da centenária história leonina. Mas serão dos milhões mais bem empregues pelos verdes e brancos. Nesta escolha de Figura do Ano, os números, os títulos, tudo contou. Mas também, e muito, o impacto que o avançado teve cá e lá fora, projetando o Sporting e a Liga Portuguesa. Fê-lo como muito poucos fizeram na história. Goleador no leão e na seleção, melhor marcador da Liga das Nações, é alvo da cobiça dos maiores clubes das maiores ligas europeias. Saída em janeiro está pelo valor da cláusula, 100 milhões de euros — por isso pouco provável. No verão a conversa será outra, administração recetiva a negociar, valores na ordem dos 75 milhões mais variáveis por objetivos. Afinal, reconhecimento do esforço que Gyokeres, desde o primeiro minuto, fez para vestir de verde e branco. Porque havia, para ele e para o Coventry, propostas mais tentadoras. Mas ele só quis o Sporting. E no dia que deixar Alvalade deixará uma história ímpar. E sonha ele e sonham os sportinguistas que este prémio de Figura do Ano não seja o último que ganha de leão ao peito. Prémio entregue, um adeus de Gyokeres também em português para a equipa de A BOLA. 2024 foi bom, mas fica a promessa de 2025 trazer novas lutas a pensar em novas conquistas. E de leão ao peito — pelo menos até ao verão…
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