Rui Borges foi apresentado na quinta-feira como novo treinador do Sporting. O técnico de 43 anos, que os leões resgataram ao V. Guimarães por 4,1 milhões de euros, surgiu na sala de imprensa da Academia Cristiano Ronaldo, em Alcochete, bem disposto e tranquilo, sem fugir às questões antes do jogo com o Benfica. O técnico que substitui João Pereira no comando técnico da equipa leonina fez a primeira antevisão de um jogo na pele de leão, depois de ter falado na apresentação em Alvalade. Aqui fica tudo o que disse Rui Borges este sábado com o dérbi no horizonte. – Foram 72 horas de grandes emoções. Como encontrou o grupo?– Encontrei um grupo com vontade de treinar, de jogar e de ganhar, ligado àquilo que era a nossa mensagem, a querer ouvir, entender... Tentámos ser curtos, não passar demasiada informação em pouco tempo, ir diluindo, para tentar perceber se conseguem encaixar algumas pequenas coisas que podem ser importantes. Está um grupo motivado e com vontade de jogar, competir e aprender. – Criou problemas ao Benfica ainda como treinador do V. Guimarães, vai passar algum das coisas que tirou desse jogo?– Podemos ir buscar algumas coisas em relação ao que era o adversário, ao que era a minha equipa anterior já não. Os jogadores são diferentes, a equipa igualmente, há hábitos muito diferentes. Mas não estou nada preocupado nesse sentido. Não existe comparação. Em relação ao adversário, é tentar perceber coisas das quais podemos tirar partido, percebendo também o que eles nos fizeram. Equipas diferentes, coisas diferentes e foco-me no que os meus jogadores poderão dar amanhã. – Gonçalo Inácio, Daniel Bragança e Morita estão lesionados. Algum pode recuperar?– Não estão indisponíveis. Um deles poderá estar em dúvida, os outros estão fora. – Quem é esse jogador que pode estar em dúvida?– É o Morita. – Já disse uma vez que o Morita o impressionou. Continuou a impressiona-lo agora que trabalha com ele?– Sim, disse isso e não vou fugir: o Morita impressionou-me bastante. Agora, quando trabalhamos com os jogadores ficamos ainda mais impressionados. Mas não só o Morita, senti a equipa muito bem. A trabalhar com os atletas sentimos outras coisas, de fora percebemos que são diferentes, muito bons, mas quando trabalhamos com eles sentimos ainda mais isso. Acho que o Morita tem uma inteligência muito acima da média, tomadas de decisão muito boas, mas não só ele. – Uma ausência de Morita condiciona a estratégia para o dérbi?– Não muda a estratégia, muda as caraterísticas. O Morita dá umas coisas, outro médio dá outras... Muda por aí, tomadas de decisão diferentes. Mas em relação à ideia, à estratégia, não muda. Os jogadores é que dão coisas diferentes. – E o João Simões está em dúvida?– Pode ir a jogo. A INSPIRAÇÃO – Entre inspiração e atitude o que pode fazer diferença no dérbi?– Claramente a atitude. Trabalhámos 72 horas e não vou chegar aqui e fazer magia, não sou mágico, muito longe disso. A equipa vai estar muito longe do que queremos, vai ser aos poucos, mas encontrei um grupo muito recetivo e isso é importante. Se eles estiverem lá, mesmo quando falharem uma interceção, um passe ou um posicionamento, a atitude tem de lá estar… Se a parte competitiva estiver lá, perante o ambiente depois em Alvalade, e os adeptos serão muito importantes, a atitude fará toda a diferença ao longo do jogo. – O fator emocional vai pesar mais do que o estratégico?– É um dérbi e só por si motiva qualquer jogador. Essa parte, para mim, penso que é mais fácil lidar: acho que estão motivadíssimos para jogar, ainda por cima em nossa casa. Vai haver momentos em que não vamos ser tão fortes, porque há uma clara adaptação aos métodos do novo treinador, independentemente do sistema. Há uma adaptação diária a tudo. É natural que amanhã, em alguns momentos, não haja tanta qualidade, esqueçam isso. Mas a parte de atitude, aliada aos nossos adeptos que nos vão empurrar, será muito importante para o objetivo de chegar ao fim com a vitória. – Vai mudar o sistema a curto prazo?– Poderá acontecer. Mas isso não é tão linear. Já defendi em 5x2x3, em 4x4x2, já atacámos em vários sistemas, construímos noutros... O sistema é uma coisa, o resto são dinâmicas, olhando também para a qualidade individual, personalidade, tomadas de decisão. Vamos tentando sempre perceber de que forma conseguimos tirar o melhor de cada um e sermos melhores, que é o que queremos. Mais do que o sistema, é conseguir fazê-los acreditar e perceber, em pouco tempo, pequenas coisas que serão importantes dentro do que poderão dar ao jogo. Se se agarrarem a essas pequenas coisas, vamos ser fortes. – Que grau de importância tem este jogo, tanto para si como para a classificação?– Não olho dessa forma para as coisas, Os ses são muito subjetivos e foco-me naquilo que controlo em tirar o melhor partido dos jogadores. O foco é ganhar. Sei que será um jogo difícil, que toda a gente lá fora está a falar. Do campeonato falaremos no fim. Temos mais um jogo importante e queremos ganhar e se ganharmos a consequência daquilo que é o nosso trabalho será sermos primeiros. Só nos podemos focar na vitória, tudo o resto é consequência disso. O nosso foco é só ganhar, não pensamos nos ses. Queremos ganhar. Vamos sofrer em alguns momentos? Vamos! São as dores de crescimento. E será também nos próximos jogos. Mas vai fazer parte. Todos nós, na nossa vida, temos essas dores. Até na transição de adolescentes para adultos. Temos de saber lidar com isso, nunca nos desviarmos do caminho, do acreditar no trabalho, no processo... Nisso é que me foco. Aqui é o que podemos fazer para ganhar? O FAVORITISMO – Entrega o favoritismo ao Benfica?– Não! É um dérbi, são jogos diferentes, competitivos, jogamos em casa e os adeptos serão muito importantes. Será um grande jogo, muito competitivo. Em alguns momentos, mais do que a qualidade, vai ser o lado competitivo que vai levar o jogo para bom ou para o menos bom. Favoritismo, para mim, é igual nesse sentido. Foco-me em ganhar e, lá está, o favoritismo é um se. Quero é ganhar. – Mas quem leva vantagem?– Não gosto de falar em favoritismo, acho que será um grande jogo, um bom dérbi. O Benfica está bem mas nós também estamos e vamos estar com toda a certeza. A equipa tem noção do que poderá dar no jogo, de tudo o que representa o ganhar, o estarmos bem. O ganhar dará o 1.º lugar. Porém, mais do que estarmos focados nisso, temos de estar focados no que somos capazes de fazer no jogo. Se formos melhores vamos ganhar… e isso dará o 1.º lugar. – Vimos imagens suas a acarinhar os jogadores, como os encontrou? A parte psicológica vai ser importante?– É a minha maneira de ser e estar, não é por achar que eles, animicamente ou mentalmente, estão mais ou menos abatidos. Gosto de estar perto, brincar, entendê-los, conhecê-los... todos são diferentes. Essa é a tarefa mais difícil num treinador: saber lidar com todos da mesma forma, mas de forma diferente, pois todos têm maneiras diferentes de sentir, de falar, até de comer. E o Ruben dizia isso... Sinto os jogadores motivados, com vontade de aprender e capazes de ouvir. Olho para eles e estão completamente tranquilos. Percebem que, ok, há um momento menos bom, mas não abala em nada a qualidade individual e coletiva que já demonstraram e vão continuar a demonstrar. – Gyokeres vai voltar a marcar?– Não tenho dúvida de que o Viktor vai voltar aos golos. É um jogador diferenciado e pode dar muito à equipa e ele e os colegas têm noção disso. Precisamos de tirar rendimento dele, mas também dos nossos médios, dos extremos, dos alas, dos laterais... Não podemos é dar demasiada importância à fase menos positiva. O Sporting está em todas as competições! Eles só têm de estar motivados, concentrados, acreditar no processo do novo treinador e seguir o caminho. Depois logo vemos do que fomos capazes. Tenho toda a certeza no mundo de que seremos capazes de muita coisa boa. O PSICOLÓGICO – O grupo teve três treinadores em pouco tempo, precisa de um abanão psicológico?– Depende do que quer dizer com isso. Não os vejo psicologicamente abatidos, vejo-os tranquilos, a querer demonstrar aquilo que são individualmente e coletivamente. Não estou muito preocupado nesse sentido. É natural que precisem de ganhar mais confiança. Amanhã faz parte errar, mas desde que a atitude competitiva esteja lá, vamos ser bons, melhores do que os adversários. Mais do que o psicológico, eles aos poucos vão perceber que vão continuar a ser um grande grupo, um grupo coeso e humilde, que não anda em bicos de pés. Senti-os tranquilos. Trabalharam muito bem, senti que aceitaram aquilo que chegou. Acho que farão um bom jogo e atitude não faltará. E isso, depois, levará a que aos poucos se ganhe confiança técnica e tática para o futuro. – É mais fácil para Rui Borges preparar este ou ou para Bruno Lage?– Grandes equipas e grandes treinadores focam-se muito mais no que podem controlar. Claro que vamos sempre para o lado estratégico mas focamo-nos muito mais no que somos enquanto equipa, na ideia de jogo que perspetivamos. Para mim, é mais difícil porque tenho pouco tempo e vamos ter um grande jogo… mas não é isso que me impede de estar com ambição e vontade de vencer enormes. Acredito que o Benfica se preocupe muito mais com o que pode fazer enquanto equipa, muito mais do que com aquilo que o Sporting poderá apresentar. Mas poderão olhar para o Vitória antigo, à espera que o mister mude o sistema e para aquilo que o Sporting tem vindo a apresentar nos últimos anos. É difícil. Daquele lado também já apanhei mudanças de treinador. A pequena percentagem estratégica que temos fica mais difícil, focamo-nos no nós. Eu estarei preocupado com o que o Sporting poderá dar, mas tendo em conta o que o Benfica também poderá fazer. – Já falámos do sentimento dos jogadores e o treinador? Na segunda-feira estava no V. Guimarães e agora no campeão nacional e a preparar, só, o dérbi…– O Rui Borges treinador está felicíssimo, foi para isto que trabalhei a minha vida toda até agora, para alcançar estes palcos, estes clubes. Cheguei ao campeão nacional e não podia estar mais feliz. Mas não me desvio muito do que tenho sido, foi isso que me trouxe até aqui e mantive-me fiel ao nosso trabalho, também da equipa técnica, que é muito ambiciosa e corajosa. Do outro lado, pela televisão, estamos sempre à espera de um dérbi. Enquanto treinador isso motiva-me muito. O BICAMPEONATO – Há pouco mais de um mês, o Sporting era considerado o grande candidato ao título. Agora, parece que deixou de ser... Há condições para chegar ao bicampeonato? – O Sporting é candidato ao título e ponto final! É tão simples quanto isso. Às vezes valorizamos demasiado as palavras, os pontos… e não estamos a 10 pontos. O Sporting é candidato ao título. É uma grande equipa e lutará até ao fim para voltar a ser campeão. – Sentiu os jogadores confortáveis? O Sporting e Rui Borges têm mais a ganhar ou a perder?– Não olho para a frente, olho para o agora, para o Benfica só. Um jogo de cada vez. Este será um grande e belíssimo jogo e é nisso que me foco. Penso no V. Guimarães a seguir. Depois, em relação ao conforto, volto a dizer que gosto de sentir os meus jogadores o máximo confortáveis que for possível. Se não conseguir tirar rendimento deles, a equipa não consegue ter rendimento e não consigo ser um melhor treinador. Vou impor coisas que não os façam sentir confortáveis? Isso não vai correr bem. Tento sempre entender o outro lado, não fugindo à nossa ideia. Mas vou percebendo algumas coisas. Quero senti-los confortáveis, só assim vou tirar rendimento deles. Aí vão estar mais motivados, vão ganhar mais confiança… O que me têm transmitido é que estão confortáveis, sentem-se bem e estão recetivos. Acredito que estarão muito preparados para a exigência do jogo. O SISTEMA – Está a contar com um Benfica com ou sem Aursnes?– Preparei o jogo a pensar nos meus. Claro que isso pode mudar caraterísticas no adversário mas foco-me no que seremos capazes de fazer e não nas ausências do adversário. – Falou em dores de crescimento, isso acontece porque já está a preparar outro sistema?– São naturais no dia a dia, tudo muda, práticas que se mudam, seja no treino, no dia a dia na Academia, seja no que for, pormenores. E tudo mexe. Lá está, o ser humano é feito de hábitos e depois, quando há um hábito grande, para perdê-lo temos de o diluir devagar. Por isso é que digo que os adeptos serão importantes: em alguns momentos em que não corra tão bem, os jogadores precisam desse carinho. Os adeptos ajudam muito na atitude dos jogadores e será importante estarem do nosso lado do início ao fim para conseguirmos, aos poucos, ir ganhando a confiança. – Em fevereiro do ano passado disse que o Sporting era a melhor equipa em Portugal. Confirmou isso agora? E os jogadores acreditam?– Têm de acreditar e eu treino o Sporting, portanto, tenho de acreditar. No ano passado senti que era a mais forte, por isso é que foram campeões. Os jogadores não podem duvidar disso. Agora, não adianta só dizê-lo, temos de o demonstrar. Aliar a qualidade à atitude competitiva, mostrar que somos bons, os melhores. E lá está, quando faltar a inspiração, que não falte a atitude! Essa não pode faltar. Umas vezes será na inspiração individual, coletiva, e outras na atitude. Não chega só falar, temos de o demonstrar e continuar a fazer por isso. – Acha que nestes últimos tempo se perdeu a comunhão ente adeptos e equipa, que no passado destacou que acontecia em Alvalade?– Disse isso mesmo ao Ruben porque sentia, a jogar contra, que a equipa e os adeptos estavam mesmo em sintonia a 100 por cento. É normal que agora haja alguma desconfiança. E nós temos que a voltar a ganhar. Eu, enquanto treinador, tenho de arranjar formas de conseguir fazer com que eles não desconfiem deles ou dos colegas. Temos também de passar isso aos adeptos, de os puxar para nós. As expectativas estavam elevadíssimas… Mas acredito que não vão deixar a equipa cair, não vão fugir ao apoio. É normal haver desconfiança mas agora é trabalhar nesse sentido e cabe-nos a nós sermos capazes de ir buscar os que foram abaixo para a sintonia estar compacta. E amanhã [domingo] estará, não tenho qualquer dúvida.