Sporting: desenho de uma jogada perfeita
Paulinho marcou em Alvalade, frente à Atalanta (IMAGO)
Foto: IMAGO

Sporting: desenho de uma jogada perfeita

NACIONAL09.03.202409:15

Golo marcado à Atalanta teve início em Franco Israel, passou pelos pés de cinco jogadores e em 24 segundos a bola entrou na baliza… e sem Gyokeres em campo; construção ofensiva iniciada no guarda-redes é aposta arriscada, mas pode ser mais eficaz

A alteração de guarda-redes na baliza do Sporting, por força da ausência de Adán, que, recorde-se, sofreu uma lesão muscular na coxa esquerda no treino a seguir ao jogo com o Rio Ave (3-3), nada mudou na equipa, apesar dos poucos minutos de Franco Israel - soma 1.080 minutos em 12 jogos, um apenas cumprido na Liga, diante do Farense, os restantes foram na Liga Europa (3), Taça de Portugal (5) e Taça da Liga (3).

Algumas arestas a limar, fruto da compreensível falta de entrosamento, confiança que irá adquirir à medida que vai jogando, melhor entendimento com quem tem à frente e, claro, saber gerir os momentos do jogo, mesmo sob a pressão vinda das bancadas. Nesse aspeto, Rúben Amorim já defendeu o guardião uruguaio após o último jogo, frente à Atalanta, em Alvalade: «O que estava a dizer ao Franco era para meter a bola na frente. Estava 1-0 e os jogadores do Atalanta não saíam da pressão, e só porque havia um bruá no estádio... Se tivermos de ter a bola meia-hora, o Franco tem de ter a bola meia-hora.»

O treinador também considerou que a equipa leonina ainda tem de crescer, dando como exemplo a necessidade de Franco Israel não bater logo a bola se isso for o melhor para a equipa naquele momento.
E, nesse capítulo, apresentamos aqui o desenho de uma jogada perfeita, que culminou em golo, que começou precisamente nos pés de Franco Israel.

Djimsit teve uma má receção, com Koindredi a arrecadar a bola, fazendo-a circular até Matheus Reis, na esquerda, que temporizou, foi mais atrás entregar a Diomande que endereçou o esférico para o lado contrário, Eduardo Quaresma evitou Lookman, meteu em Geny Catamo que fez uso do guarda-redes e foi daqui que nasceu o golo: o relógio marcava 16,23 minutos de jogo quando Franco Israel, com o pé direito, meteu a bola em Diomande, que levantou a cabeça e viu Trincão a soltar-se da marcação de Djimsit, recebeu, fintou Holm, deixou com Matheus Reis, arrastando três adversários, que por sua vez meteu em Koindredi, que se antecipou ao capitão De Roon, e devolveu a Trincão, que, solto de marcação, recebeu de costas para a baliza, rodou, e viu Paulinho esgueirar-se pela esquerda, galgou uns metros, e serviu o camisola  de bandeja, que só teve de ajeitar o esférico antes de fazer as redes balançarem. Ah, e tudo isto aconteceu em apenas… 24 segundos, sem Gyokeres em campo. 

«Foi um golo de excelência»  

No futebol atual é fundamental que um guarda-redes faça parte de um todo, de uma ideia coletiva e que tem funções que o tornam decisivo tanto no momento defensivo, como no ofensivo. Antes de executar precisa de ler, interpretar, perceber e tomar as melhores decisões e, prol da equipa.

A BOLA falou com Litos que, do ponto de vista de um treinador, realça que o Sporting tem feito um trabalho exímio: «O Franco Israel tem boa capacidade para jogar com os pés, assim como o Adán. Desde que chegou ao Sporting que o Rúben Amorim tem tido essa preocupação em fazer com que a equipa consiga criar, atraindo o adversário para zonas mais subidas, muitas vezes correndo riscos, mas também expõe mais o adversário, fica mais desconfortável em termos defensivos.»

Antigo jogador leonino, Litos. RUI RAIMUNDO/ASF

Referindo-se à jogada atrás descrita, Litos não tem dúvidas: «Foi um golo de excelência, criado entre os diversos setores, privilegiando o que tem sido o corredor esquerdo, que tem tido melhores combinações, enquanto o lado direito explora mais a profundidade. É uma das construções que deixa a nu as equipas adversárias em termos de organização defensiva.»

Litos diz acreditar que em Bérgamo os leões podem tirar partido destes lances, cuja fase de construção fica a cargo do guarda-redes, e com o regresso à titularidade de alguns jogadores que têm sido fulcrais: «Em Alvalade o Sporting teve grandes dificuldades perante o poderio físico com italianos, que se encaixaram muito bem, com o mesmo sistema de 3x4x3, mas, em Itália, este tipo de jogadas pode ser importante para o Sporting, se jogar de início com alguns jogadores mais rápidos, como por exemplo Gyokeres e Pedro Gonçalves

No que toca à mudança de dono das redes leoninas, Litos defende Adán de algumas críticas após a prestação do espanhol no empate leonino em Vila do Conde (3-3) e aponta as mais-valias de Franco Israel: «Não gostei muito do que foi dito sobre o Adán após o jogo com o Rio Ave, em que me parece ter sido traído no lance em que acabou por cometer penálti, é preciso proteger-se quem já muito deu ao clube e estou certo de que ainda vai ter papel importante. Quanto ao Franco Israel, frente à Atalanta demonstrou todas as suas capacidades, é um guarda-redes de futuro para o Sporting. Joga bem com os pés, é rápido, fez defesas extraordinárias e tem na intenção de jogo do Rúben Amorim, encaixando que nem uma luva na construção vinda de trás. Tem boa colocação, bom passe, tanto a curto, a médio e a longo alcance e é ágil.»