Aos 39 anos de idade, Martín Anselmi está a caminho do seu primeiro trabalho no Velho Continente, onde terá a difícil tarefa de pegar numa equipa do FC Porto que tem desiludido tanto na Liga como na UEFA Europa League, que vem de três derrotas consecutivas e que procura um líder para reverter essa situação. Apesar da juventude, não é a primeira vez que Anselmi enfrenta um contexto destes ao chegar a um novo clube, tendo feito isso mesmo nos mexicanos do Cruz Azul, onde operou uma revolução quase da noite para o dia. Contratado no início de 2024, o Cruz Azul queria reverter o péssimo 16.º lugar em que ficara no Torneio Apertura (o campeonato mexicano é dividido entre os torneios Apertura e Clausura e os vencedores de cada são decididos em play-offs). Anselmi pegou na equipa no início do Clausura e só foi travado na final do mesmo, perdida para o eventual campeão, Club América. Já esta época, Anselmi acabou mesmo o Torneio Apertura no 1.º lugar, com o melhor ataque e a defesa menos batida da prova (39 golos marcados e 12 golos sofridos em 17 jornadas), mas acabou por ser eliminado nas meias-finais (de novo pelo Club América). Essa derrota não manchou o facto de Anselmi ter tornado o Cruz Azul numa potência do futebol mexicano em muito pouco tempo. Mas não é só esse trabalho que chamou a atenção da direção de André Villas-Boas. Conquistador do Equador e adversário de JJ e de Vítor Pereira Nascido em Rosário (a mesma cidade onde nasceu Lionel Messi), Anselmi formou-se em jornalismo desportivo na prestigiada escola DeporTea, mas nunca exerceu a profissão. Seguiu sim a paixão do futebol... e por Marcelo Bielsa, atual selecionador do Uruguai e figura venerada no futebol sul-americano, que influenciou treinadores como Pep Guardiola e Mauricio Pochettino. Com apenas 30 anos, tornou-se adjunto de Gabriel Milito nos argentinos do Independiente e depois de experiências na 2.ª divisão do Uruguai e na equipa B da Universidad Católica, chegou ao Independiente del Valle, onde começou a recolher medalhas, ainda como adjunto. Num clube conhecido pela academia de formação e pelos plantéis jovens que costuma montar, Anselmi fez parte de uma equipa técnica que venceu a Taça Sul-Americana em 2019 e que, no ano seguinte, fez o Flamengo de Jorge Jesus suar na Supertaça Sul-Americana - após um empate na 1.ª mão (2-2), a equipa do português venceu a 2.ª por 3-0. Em 2022, foi a vez de Anselmi assumir finalmente o papel de treinador principal do Independiente de Valle, rendendo o português Renato Paiva, e ganhou novamente a Sul-Americana, fazendo ainda melhor na Supertaça, onde bateu o Flamengo de Vítor Pereira, um resultado que motivou o despedimento do treinador português pouco depois. Saiu dos equatorianos no final de 2023, antes de seguir então para o Cruz Azul, onde implementou um sistema de três centrais que, em Portugal, se tornou sinónimo de um treinador As táticas de Anselmi e o plantel do FC Porto Para além de ter a mesma idade de Ruben Amorim, Anselmi também mostra uma apetência para jogar com três centrais e um ala em cada corredor. A diferença para o atual treinador do Manchester United é que, na frente, Anselmi jogou no Cruz Azul com um médio ofensivo – uma posição que, à primeira vista, Fábio Vieira ou Rodrigo Mora poderiam ocupar – no apoio a dois avançados. Mais atrás, um dos centrais costuma avançar no terreno, para formar um losango na saída de bola que inclui o guarda-redes da equipa. Os dois médios são responsáveis por encontrarem espaço entrelinhas e lançarem os ataques – um papel que Alan Varela ou Nico González poderiam desempenhar, dadas as posições de cada e a qualidade de passe que apresentam. Controlar os jogos através da posse de bola, induzir erros no adversário quando a equipa está sem a posse, ajustar o ritmo de jogo para criar vantagens estratégicas em diferentes zonas do campo e estudar minuciosamente cada adversário para antecipar o seu comportamento em várias situações de jogo são pilares essenciais da sua filosofia de trabalho. «Se chega o fim de semana e gosto de beber 10 cervejas, tenho de tomar só uma» Este 3x4x1x2 que Anselmi implementou no Cruz Azul deixa algumas dúvidas sobre a utilização de vários jogadores dos dragões (por exemplo, Galeno seria um ala esquerdo ou um dos avançados?). Mas acima das táticas, Anselmi quer liderar uma verdadeira equipa, que o próprio define da seguinte forma: «Uma equipa significa que um grupo, um conjunto de indivíduos, deixa de ter os seus objetivos pessoais e passa a ter um objetivo muito maior, um propósito, e que opta sempre pelo bem comum.» «Para ser parte de uma equipa há alturas em que vamos ter de fazer coisas que não gostamos. Quando há um propósito maior e quando os que estão formando um grupo sentem isso dentro de si, aí começamos a passar de um grupo para uma equipa. Se me custa levantar cedo, tenho de o fazer, porque se chego tarde e há 24 jogadores que estão à minha espera, eu estou a prejudicar a equipa. Se chega o fim de semana e gosto de beber 10 cervejas tenho de tomar só uma. Ou nenhuma. Porque se não me cuido, estou a piorar como indivíduo e estou a piorar a equipa. Se quando treino não compito ao máximo, estou a prejudicar a equipa, não só porque não estou a competir ao máximo, mas porque não estou a elevar os limites de quem competir comigo. Quando o indivíduo é melhor, a equipa passa a melhorar o indivíduo», ditou Anselmi. Será uma equipa num mau momento que Anselmi vai encontrar no FC Porto. Uma equipa que terá de fazer sacrifícios e adaptar-se ao novo treinador (e vice-versa) para ainda dar a volta a uma época que, de momento, leva a direção errada.
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