Presidente do Casa Pia fala da SDUQ: «Quem manda naquilo ainda sou eu»
Victor Seabra Franco participou em conferência organizada pela Junta de Freguesia de Benfica e abordou a realidade do emblema lisboeta, no que respeita à sociedade formada e à situação das obras do Estádio Pina Manique, ainda por começar
O Casa Pia foi um dos clubes mais representados na 2.ª conferência Atividade Física e Desporto, organizada pela junta de freguesia de Benfica, no Auditório Carlos Paredes, sito nessa localidade. O evento contou com cinco mesas redondas, sendo que na quinta última os convidados foram os presidentes de cinco diferentes emblemas – Estoril, com o seu anterior líder, Alexandre Faria, Damaiense, Futebol Benfica, Direito (rugby) e ainda Victor Seabra Franco, presidente dos gansos.
Instado a comentar o seu dia a dia enquanto líder máximo do clube lisboeta, o presidente casapiano desvendou um pouco o véu sobre a dificuldade da gestão da estrutura profissional vigente no clube a que preside. «No futebol profissional, o que acontece é que um clube como o Casa Pia, pequeno, não tem um orçamento de oito ou dez milhões por ano para andar na primeira Liga. É o que se gasta por ano, de orçamento, e tivemos de fazer uma sociedade desportiva», explicou.
«Fomos obrigados (ndr: a constituir uma sociedade para participar em Ligas profissionais), e fizemos uma SDUQ, em que nós ainda temos 100% do capital. Consta nos jornais que não é isso, mas nós ainda temos 100% do capital. Há jornalistas ignorantes que não distinguem uma SDUQ de uma SAD - uma SDUQ é uma sociedade de quotas, uma SAD é uma sociedade anónima e, portanto, diziam que já era dos americanos, tudo mentira. Por enquanto, quem manda naquilo ainda sou eu», declarou, motivando risos e aplausos da plateia.
Victor Seabra Franco revelou ainda que existem, desde já, conversações entre a administração do futebol profissional e a direção do clube, ao qual preside, para se constituir uma SAD ao invés da SDUQ que atualmente viabiliza a participação do Casa Pia nas competições profissionais. «Vamos ter conversações para a constituição da SAD, vai ser durinho», admitiu.
O presidente da direção do Casa Pia, a exemplo do que já havia afirmado em intervenções anteriores, reconheceu que a subida aos escalões profissionais – Liga 2 e, mais tarde, a Liga principal – não fazia parte dos seus planos devido à conjetura difícil que o clube atravessa. «Na parte desportiva, vamos ser sinceros, eu não queria subir para os campeonatos profissionais, porque já sabia que ia ter sarilhos e ia ter mais chatices. É mentira, eu não queria», afirmou.
O presidente dos gansos comentou ainda a situação de impasse nas obras no Estádio Pina Manique, que ainda não se iniciaram, sem uma data de previsão para que tal aconteça. «Só podemos voltar a jogar no Estádio Pina Manique com a licença da Câmara Municipal de Lisboa, que pediu ao Instituto Português da Juventude, o IPDJ, um parecer. Portanto, há dois anos que andamos nesta conversa de que o IPDJ dê um parecer, à Câmara, que já aprovou o projeto de arquitetura», relatou.
«Nos outros concelhos – e visito todos os estádios do país, da I Liga e alguns da Liga 2, algumas das casas de banho são em contentores», comparou Victor Seabra Franco, alertando para a especificidade de um clube localizado em Lisboa, como é o caso do Casa Pia, relativamente a emblemas com sede em outras autarquias. «Outros clubes, quando obtém a licença de utilização das respetivas Câmaras, estas não pedem parecer do IPDJ», constatou.
«Estamos a tentar pressionar a Câmara, com a ajuda da junta de freguesia do Benfica e do seu presidente, porque somos um clube da freguesia de Benfica», completou o presidente do Casa Pia num evento que contou ainda com a representação de Miguel Barata, fundador e líder da claque Gansos 1780, a claque do Casa Pia, de Rita Viola, coordenadora do Departamento de Ética do clube lisboeta.
No painel em que tomou parte, a responsável reafirmou o papel do emblema de Pina Manique na formação de atletas mas, acima de tudo, de pessoas. «O desporto sem ética não é desporto e é nesse sentido que a ética no desporto e a passagem dos valores éticos é de extrema relevância no desenvolvimento de um atleta - utilizar o desporto como uma ferramenta educativa, onde o respeito e a empatia são o ponto de partida para um ambiente salutar tanto na dimensão desportiva como na sociedade», declarou.