«Burro, burro» e «rua, rua», sentenciou a torcida do Botafogo após a derrota para a modesta Portuguesa, do Rio de Janeiro, e consequente eliminação das meias-finais do estadual carioca, naquela noite quente de 18 de março no Estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda. O nome da cidade pode ter servido de inspiração a Luís Castro e aos seus jogadores que deram a volta, bem redonda, ao destino em cerca de três meses e meio: de eliminado no Cariocão, o Botafogo passou a líder do Brasileirão, com sete pontos de avanço e quase um terço da prova percorrida. Como foi possível? Com tempo, trabalho e, claro, com o ex-portista Tiquinho Soares a voar alto, autor de 10 golos (o dobro dos de outro ex-dragão consagrado, Hulk, do Atlético Mineiro, por exemplo), o último dos quais aquele que derrubou o campeão e quase invencível Palmeiras, em pleno Allianz Parque (onde não perdia há um ano e 31 jogos). O ponta de lança é o indivíduo mais destacado dum coletivo com nove jogadores com passagem por Portugal — ainda Danilo Barbosa, Sauer, Lucas Fernandes, Philipe Sampaio, Marçal, Piazon, Gabriel Pires e o cérebro Eduardo, conhecido como Carlos Eduardo no Estoril e no FC Porto. O tal tempo, que John Textor, o empresário norte-americano que namorou o Benfica deu a Castro, e o muito trabalho da equipa técnica, em ano e meio, a esculpir um onze e uma ideia, peça a peça, movimento a movimento, fizeram o resto. «A construção da mentalidade vencedora demora tempo porque não basta ao treinador tê-la, é preciso que o clube todo não seja miserabilista e a tenha. É o que eu quero deixar neste clube um dia que for embora, uma mentalidade diferente», explicou Castro, para quem «quando os jogadores têm qualidade, vontade de trabalhar, e quando tudo aquilo que eles fazem em campo é fruto desse trabalho, tudo fica mais facilitado para atingir resultados». O Botafogo é líder com 30 pontos, ganhou os seis jogos em casa, mais quatro fora, num total de 10 vitórias, três a mais do que os perseguidores Grêmio e Flamengo. Apesar de Tiquinho, só tem o quinto melhor ataque (20 golos) mas é a melhor defesa com meros sete golos consentidos por Lucas Perri, o guarda-redes que é outro dos destaques individuais.