O que eu faria para ganhar ao Benfica
A BOLA lançou o desafio a dois dos comentadores habituais em A BOLA TV e em abola.pt. Cada um veste a pele de treinador de um dos rivais lisboetas e explica o que faria para vencer o adversário do próximo domingo. Alexandre Costa 'é' Rui Borges, Paulo Robles faz de Bruno Lage
Quando escrevi este artigo, não se sabia quem seria o treinador do Sporting na receção ao Benfica. Independentemente disso, quem viesse teria, no máximo, três treinos para preparar o dérbi. Mesmo que Rui Borges preconize um novo sistema — e tudo indica que sim —, não parece provável que essa alteração aconteça a tempo deste jogo, até pelas limitações do plantel, a começar no número de opções disponíveis para o meio-campo. O plantel foi montado para um 3x4x3, e qualquer alteração de sistema implicará ida ao mercado. Para este texto, parto da premissa da manutenção do sistema.
Na verdade, é ingrato definir um onze para o Sporting numa altura em que os problemas não parecem estar na definição da equipa titular. No jogo de Barcelos, João Pereira emendou a mão nalguns problemas que ele próprio criou, desfazendo o equívoco de Quenda a extremo, e optando pela mais natural solução de o colocar no lugar onde mais tem feito a diferença. Ao fazê-lo, introduziu Harder na sua posição, ele que já tinha contribuído decisivamente para a passagem à fase seguinte da Taça de Portugal, a partir da mesma posição.
Estas trocas parecem ter ajudado a colocar os jogadores nas posições certas. Contudo, as muitas lesões da equipa leonina (será só falta de sorte?) complicam as contas, e fica mais difícil encontrar soluções para elementos em subrendimento. Olhando ao último jogo, destaquemos Maxi Araújo (no onze que prevejo, substituído por Matheus Reis) e João Simões. Matheus Reis entrou bem no jogo de Barcelos, dando qualidade e pé esquerdo à construção, ainda que alinhando como central. No jogo frente ao Benfica, contribuiria para defender um corredor onde tem alinhado um dos grandes candidatos a protagonista do clássico, Di María. Já no caso de João Simões, com as ausências de Daniel Bragança, Morita, ou até de Pote, é muito difícil encontrar uma solução que se lhe equivalha, pelo que resta acreditar que a subida de exigência do contexto competitivo ajudará ao seu crescimento, embora as diversas perdas de bola em Barcelos nada augurem de bom.
Podemos ainda antever a possibilidade do regresso de alguns dos jogadores lesionados. Resta perceber em que ponto de recuperação qualquer um destes jogadores se encontra. Morita e Bragança, candidatos evidentes ao lugar, terão mais de três semanas de paragem no dia do dérbi. Estarão em boas condições físicas para um jogo desta exigência? Só os responsáveis pela recuperação e performance leoninos poderão dizer.
Antes de olhar para o adversário, a equipa leonina precisa de se encontrar a si própria. Os erros individuais e a intranquilidade são tão evidentes, que parece claro que o Sporting precisa uma exibição e vitória que o compatibilizem com os adeptos.
Para que isso aconteça, salta à vista a necessidade de melhoria na capacidade de circular por dentro da estrutura defensiva do adversário. Ouve-se repetidamente por parte da equipa técnica que o Sporting «dominou o jogo», mas a verdade é que a posse tem sido muitas vezes estéril e por fora do bloco oponente. Com o posicionamento à largura de extremos e laterais, faltam muitas vezes soluções para receber no espaço entrelinhas. A exceção tem sido Trincão, que alinha muitas vezes como um terceiro médio no processo criativo, mas neste capítulo sente-se a falta de Pote. João Pereira parece ter sentido parecido quando colocou Bragança a partir de extremo no jogo em Moreira de Cónegos, mas a lesão impediu-o de crescer na posição. João Simões deve procurar mais proximidade da área adversária, colocando-se a par de Trincão no espaço entrelinhas, deixando as coberturas para Hjulmand e permitindo que Harder fique com Gyokeres na frente de ataque, numa espécie de 3x1x4x2. Isto permitirá também ao sueco movimentos entrelinhas no setor defensivo encarnado, em especial nos espaços entre central e lateral, onde teve algum sucesso no jogo de Barcelos. A equipa precisa de variabilidade como de pão para a boca: permutas, contramovimentos e trocas posicionais fazem abanar as estruturas adversárias, algo que o Sporting deixou de fazer.
Por outro lado, a bola deve começar a sair mais rápido dos pés dos centrais em construção. Bola lenta implica ajuste fácil. Nota-se aqui, novamente, a ausência de Inácio. João Simões e Hjulmand também não têm a capacidade de atrair a pressão e abrir linhas de passe que o dinamismo de Morita oferece, pelo que esses comportamentos precisam de ser estimulados em treino.
É nos pés de Quenda que o jogo leonino parece melhor fluir nesta fase, embora beneficie mais das combinações com Trincão e os envolvimentos do jovem pelo corredor do que dos cruzamentos, que muito frequentemente a equipa tem feito. Com Gyokeres e Harder juntos no meio fica mais fácil tirar proveito deles, mas é difícil não os interpretar como sinal de impotência em criar outras soluções.
De fora, das opções credíveis e que podem discutir um lugar no onze, ficam Maxi Araújo — muito errático nas ações, não parece preparado para um jogo deste nível — , Geny Catamo — entrou bem em Barcelos e talvez seja dos primeiros a saltar do banco — e Edwards — muito difícil de explicar o que aconteceu depois dos primeiros 45minutos frente ao Santa Clara.
Por jogar em casa e por querer dar uma prova de força e um pontapé na crise, parece impreterível que o Sporting se apresente a pressionar alto frente ao eterno rival. O Benfica revela algumas dificuldades quando pressionado alto por equipas de nível mais exigente, como frente ao Vitória ou frente ao Bolonha. Dessa forma, quer o adversário se apresente numa construção a três (encaixe direto) ou a dois (Gyokeres a sobrar para um dos médios, como em Barcelos), pressionar em igualdade numérica pode ser uma chave para o sucesso.
Importa também criar zonas de pressão eficientes nos corredores laterais, em que o Benfica tem conseguido criar boas dinâmicas, em especial entre Bah, Aursnes e Di María. A inclusão de Matheus Reis no corredor esquerdo pode ser relevante para ajudar a combater essa força dos encarnados.
Outro espaço fulcral para a criação de desequilíbrios pode ser entrelinhas, de que já se falou, a respeito da falta de soluções ofensivas do Sporting. Não é crível que o Benfica se apresente sem Florentino, que descansou na receção ao Estoril. Contudo, em especial quando Florentino não está no onze encarnado, este torna-se um espaço de ninguém, visto que nem Kokçu nem Aursnes têm a mesma intensidade nos duelos defensivos.
A missão do treinador do Sporting para este jogo tem de passar, principalmente, por sarar as feridas emocionais da equipa. Depois de galvanizar as tropas, cabe-lhe corrigir alguns dos mais evidentes problemas que a equipa apresentou neste mês e meio, e de caminho tentar compatibilizar essas correções com algumas das principais debilidades do rival, fazendo ajustes estratégicos. Missão difícil, mas não impossível.