27 outubro 2023, 13:57
Roger Schmidt: «Florentino? A concorrência é outra...»
Treinador alemão explica o facto de Florentino Luís não ter o mesmo peso da equipa, em comparação com a temporada passada
Imprescindível na época passada, médio está fora do onze e nem 1 minuto tem de utilização na Champions; mas será apenas esse o problema? A BOLA ouviu vários treinadores sobre o tema
Também por ter sido com Roger Schmidt, na última temporada, que Florentino finalmente se afirmou no Benfica, agora parece ainda mais estranha a pouca utilização do médio. Em 2022/2023, Florentino fez 54 dos 55 jogos da equipa, 2129 minutos nas provas internas e 862 nas competições internacionais, com números estatísticos muito interessantes. Em 2023/204, o português de 24 anos tem apenas 8 jogos, 302 minutos; nem sequer entrou ainda na Champions. A solução para o mau momento do Benfica, tornado visível na Champions, onde a equipa tem 3 derrotas e zero golos nas 3 jornadas da fase de grupos, não passará somente por lançar ou não Florentino.
Mas, então, o que se passa no Benfica?
Eis algumas explicações de quem está no meio e em resposta a estas três perguntas:
1 - Acha que o insucesso do Benfica na Champions passa pelo facto de Schmidt prescindir de Florentino no meio-campo?
2 - Qual a razão para o treinador prescindir de Florentino?
3 - Acha que a possível recuperação passa pela titularidade de Florentino?
1 - «O Benfica está desequilibrado em termos do que são as características dos jogadores que Schmidt utiliza. O ano passado havia sempre um médio mais defensivo e de equilíbrio, este ano não. Ou joga o Neves ou o turco. Uma das razões do insucesso não é não respeitar o adversário, mas jogar com todas as fichas de início e por vezes temos de as preservar para usar mais tarde. Não fã do Florentino, mas é um tipo de jogador que faz falta a qualquer equipa, porque recupera bolas e entrega sempre simples e bem. Devido às características dos jogadores do meio-campo, acredito que Schmidt não tem feito as melhores escolhas. Se comparares o Neves com o Florentino, o Neves dá outras coisas em termos ofensivos, mas o Florentino dá outras em termos defensivos, na posse e na recuperação.»
2 - «Na minha opinião tem a ver com a gestão ou estratégia. O Benfica nos últimos anos, sempre que tem um jovem para potenciar, fá-lo, porque é uma possível venda que equilibra as contas. Além do João Neves ter muita qualidade, a questão estratégico-financeira também pesa muito, mas é o que é. Tal como se gastou muito dinheiro num avançado e num médio [Arthur Cabral e Kolkçu] que têm de ter um período de adaptação e as pessoas não estão a conseguir esperar. São bons jogadores, mas se tens uma equipa que ganha o campeonato e brilha na europa, contratas e não manténs a ideia e mudas logo as coisas no início, isto cria conflitos no grupo. Estamos a falar do Florentino, mas há situações específicas. O Rafa ainda não ter renovado, por exemplo. O Di María ter acabado de chegar e ser dos mais bem pagos… queres fazer uma grande equipa, mas depois tens de gerir os egos lá dentro. Às vezes a equipa não estar a funcionar não tem só a ver com a tática e as dinâmicas da equipa, são fatores extrafutebol.»
3 - «Não colocaria as coisas dessa forma. Acho que é necessária uma reflexão sobre o que que tem sido feito. Podes insistir na tua ideia, mas se não resulta uma, duas, três vezes, tens de ouvir outras pessoas e tomar outras decisões. Por vezes, nós treinadores temos uma ideia, insistimos e não resulta, mudamos e acaba por resultar. Não poria as coisas dessa forma [a titularidade do Florentino resolver os problemas], mas em termos de equilíbrio de equipa, contra adversários que têm níveis competitivos semelhantes, o Benfica mete onzes muito ofensivos e pode faltar alguém para equilibrar. Não sei se é falta do Florentino, mas é preciso rever o meio-campo.
1 - Penso que não é por causa de Florentino ou por causa de um jogador que o Benfica não está tão forte como o ano passado. No ano passado – e isto pode parecer um paradoxo, pois o Benfica não teria tão bons jogadores e um plantel tao profundo – tinha conceitos de jogo que bem calibrados e identificados. Exemplo: forte reação à perda da posse de bola, conceito fundamental nas ideias de Roger, e este ano esse conceito não está a ser bem aplicado, ou diria que não está de todo aplicado, e basta ver onde o Benfica recupera a possa de bola, normalmente no próprio meio-campo. Deveria, como o ano passado, recuperar a bola no meio-campo adversário. Esta época recupera muito no seu meio-campo, e acaba por ficar mais distante da baliza adversária. Outro aspeto do ano passado em que era mais eficaz era que quando tinha a posse de bola era muito mais incisivo na direção da baliza, este ano está a lateralizar, a jogar mais pelos corredores e só depois vai pelo interior, há ali uma destruturação relativamente a ideias que o ano passado tinham muita eficácia. Mas isto não depende só de um jogador.
2 - Nós não vemos o treino, não temos acesso às ideias, mas na realidade existe um jogador como Aursnes que joga em todo o lado. Não por ser mau jogador, mas penso que ele começa a ficar perturbado sobre a posição em que deve jogar. E a falta de utilização de Florentino pode ser porque realmente há muita concorrência. Vejo Kokçu, João Neves, Aursnes naquela posição e, se calhar, o Florentino, no processo de treino, está a perder lugar… até se vê que opta mais pelo Chiquinho que por Florentino, portanto há qualquer coisa que nos escapa porque o Florentino o ano passado fez coisas muito boas e sempre que joga [este ano] não me parece que tenha desaprendido. Há muita concorrência, mas essa concorrência não está a ter eficácia, e é mais que observável na recuperação da bola. O Benfica está muito aquém do que fazia o ano passado. E encolhe-se muito mais durante o jogo. Não sei se o Benfica iria modificar este conceito de bola, se seria mais agressivo no ataque da bola. O ano passado dizia que o Benfica não defende a sua baliza, quando perde a bola ataca a posse de bola, e quando tinha a bola atacava a baliza do adversário. Já se nota muito, no campeonato nacional, que a equipa, apesar de ganhar, não ganha com a supremacia que fazia o ano passado. Apesar de ter ganho duas vezes ao Porto, que é relevante, no fundo não deixa de ser preocupante para os Benfiquistas porque o jogo contra o Estoril é uma marca que todos viram que o Benfica teve grandes dificuldades em ganhar aquele jogo.
3 - O ano passado não tinha posse de bola e atacava a bola, quase não procurava defender a baliza, baixando o bloco por exemplo, procurava ganhar a posse de bola no meio-campo adversário, e quando tinha a posse de bola atacava a baliza, de uma forma muito mais direta e com mais intencionalidade de chegar a baliza adversaria. Agora perde-se em passes e mais passes. Apesar de terem chegado novos jogadores com características diferentes, os conceitos de Roger Schmidt do ano passado não deviam ser negociáveis nem prescindíveis. Mas claro, não vejo o treino, só vejo a competição, e vejo que há uma mudança no ponto de vista do modelo de jogo, a forma preferencial de jogar que o ano passado teve muito resultado, e este ano as coisas estão muito encolhidas, muito aquém do que seria expectável tendo em conta a época do ano passado.
1 - Sinceramente, acho que florentino foi um jogador muito importante o ano passado. Naquilo que é o momento coletivo – e acho que devemos olhar mais para o coletivo e para as carências do Benfica a nível da transição defensiva – e o que o Florentino dá ao jogo, há jogadores que individualmente têm características muito específicas, e acho que o Florentino, neste momento e atendendo ao momento da equipa coletiva e individualmente, fazia todo o sentido jogar mais para equilibrar a equipa, por ser um jogador mais posicional e proteger a equipa. Perdeu espaço, não sei porquê, o treinador é que sabe. O Aursnes passa por várias posições, também começa a perder posicionamento, e o Benfica fica refém do trabalho de João Neves. O Benfica tem alas que praticamente não defendem. Quando a equipa não está bem coletivamente, o individual por vezes resolve, mas nestes jogos grandes é muito difícil. E a Real Sociedad é das equipas que melhor joga em Espanha, talvez melhor que Real Madrid e Barcelona. Parece-me que Roger Schmidt ainda não encontrou uma equipa base, não se sabe quem joga na lateral esquerda por exemplo, se Jurasék ou o Bernat. Há situações que acho que o Roger ainda está um bocado perdido, à falta de melhor palavra, naquilo que é o onze base. O Benfica perdeu a sua arma principal, a transição defensiva. Voltando ao Florentino, ele dá esse equilíbrio e estabilidade, algo que o Benfica hoje não consegue fazer coletivamente.
2/3 - É um facto estranho que até o Chiquinho tenha mais minutos. Talvez por ser mais criativo. Não percebi a entrada do Kokçu para trinco frente à Real Sociedad, quando o Benfica passa a jogar a 4x3x3 na segunda parte, sendo o Kokçu mais um 8 com capacidade de chegada à área e meia distância no remate; não percebi, mas pronto, o treinador é que decide, conhece-o bem. Num meio-campo a três acho que faria mais sentido jogar mais à frente, e acho que talvez até fizesse sentido entrar o Florentino. Tendo em conta como a Real triangulava, e com a posse de bola que teve, o Benfica com muita dificuldade em ter bola, fazia todo o sentido o Florentino ter entrado. É um problema que Roger terá de resolver, mas não esta a ser fácil. Não percebi a saída do Musa para a entrada do Arthur. Os avançados do Benfica jogam sempre de costas para a baliza e têm de fazer um futebol individual, seja João Mário, Rafa ou Musa. O futebol que chega lá à frente não é de construção, é mais individual. Há um problema coletivo e de posicionamento na equipa, com e sem bola.
1 - Penso que não, não é por um jogador que o Benfica anda a falhar, é o conjunto num todo que anda a falhar. Cabe ao treinador explicar o que está mal. Mas penso que não seja por causa de um só jogador que o Benfica deixa de ser o Benfica do ano passado.
2 - É assim, se me disser que Florentino foi uma peça fundamental naquela zona do meio-campo, foi. Recupera muitas bolas, é mais posicional e controlava aquele espaço no meio-campo. Não ataca como os outros, mas posiciona-se muito bem e o ano passado recuperava muitas bolas, mas João Neves também recupera muitas bolas. É uma opção do treinador, optou pelo Kokçu, que veio este ano, nova aquisição, e prescindiu de um jogador que o ano passado foi sem dúvida uma peça fundamental no setor do meio-campo do Benfica. Mas também agora não podemos pensar que é só por aí que o Benfica não está a ter o rendimento que esperávamos.
3 - Penso que o treinador é que tem de saber o que é preciso fazer, quem está lá a trabalhar com os jogadores é que tem de saber quem está em melhor forma, e os jogadores que podem ajudar a equipa a ter um rendimento superior ao que se vê neste momento. Eu tenho a minha opinião, mas vou guardá-la para mim, porque, como profissional, não gosto de criticar colegas de profissão. Agora, sei que o Benfica tem um plantel bom, com qualidade, mas penso que é Roger Schmidt quem deve explicar porque a equipa não tem o rendimento do ano passado, principalmente na primeira volta. E colocar os melhores em campo.
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