A ida de Sérgio Conceição para o Milan só surpreende quem não acompanhou as notícias de maio, antes de o ainda treinador do FC Porto se despedir com a conquista do 11.º título pelo clube, a Taça de Portugal. Sendo o Milan um clube financeiramente poderoso, também é conhecido por ser repleto de egos, tanto na sua estrutura de futebol como no plantel. Por isso, não é de estranhar que, no momento de escolher um novo líder, surja uma espécie de batalha interna para determinar quem tem a palavra final, ou, como dizem os brasileiros, quem bate o martelo. A forma digna como Paulo Fonseca deixou o Milan, confirmando a sua rescisão aos jornalistas, quando muitos optariam por uma saída discreta, reflete a sua postura de integridade. Fonseca sai com a consciência tranquila: os egos que tentou combater acabaram por prevalecer, e um clube como o Milan nunca poderá funcionar enquanto três ou quatro jogadores se julgarem acima do coletivo. Egos são algo que Sérgio Conceição não tolera, o que torna este novo capítulo na sua carreira e na história do Milan particularmente interessante. Uma coisa é certa: entre um jogador tecnicamente mais limitado, mas comprometido com a ideia do treinador, e uma estrela que não se dedica nos treinos, Conceição não hesitará em optar pelo primeiro. O seu foco está sempre em quem quer dar mais à equipa. A saída de um treinador tão competente como Paulo Fonseca, aparentemente aliviado e com a certeza de que deu tudo para o sucesso do Milan, serve de alerta para Conceição. Não se enganem: o trabalho do técnico português não começou agora, em Itália, mas sim antes, quando já traçava o plano para moldar o Milan à sua imagem – como fez com todas as equipas que orientou ao longo da sua carreira.