Noite da grande diferença entre o querer e o poder: a crónica do Real Madrid-SC Braga
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Noite da grande diferença entre o querer e o poder: a crónica do Real Madrid-SC Braga

INTERNACIONAL08.11.202323:42

E se Djaló tem feito o 0-1 no penálti aos seis minutos? Fica esta questão académica para a história arsenalista. Real muito melhor...

Foi a primeira vez que o SC Braga jogou no Bernabéu para a Champions, e fazem-se votos para que não tenha sido a última. Numa partida onde não tinha nada a perder - a derrota era esperada, tudo o que viesse a seguir era lucro - os arsenalistas foram atrevidos e optaram por não encarar o jogo na ótica do autocarro, procurando, com um 4x3x3 que poucas equipas usam em visitas à Casa Blanca, jogar o jogo pelo jogo, com uma atitude descomplexada que merece registo. 

E foi essa desinibição que esteve na base da jogada em que, logo aos quatro minutos, Lucas Vasquez agarrou a camisola de Borja e o árbitro apontou para os onze metros. Momento de expetativa, que podia galvanizar uns e deprimir os outros. E foi exatamente isso que aconteceu. Chamado à cobrança do castigo máximo, Álvaro Djaló, dois minutos volvidos, nem rematou mal, fê-lo forte e colocado para direita de um Lunin que, titular devido a uma indisponibilidade de última hora de Kepa, fez uma magnífica defesa, mantendo tudo a zeros. 

O tónico, que se esperava ser do Braga, passou a saber a óleo-fígado-de-bacalhau aos minhotos, e deixou os madridistas a respirar melhor. Entre esse momento em que o SC Braga esteve à beira do golo,  e a oportunidade seguinte da equipa de Artur Jorge - um remate de Abel Ruiz que Lunin, em contrapé, defendeu com mestria - passaram 89 minutos, uma eternidade que o Real Madrid aproveitou para chegar à vantagem, fazer engordar o resultado, e mostrar a todos que era muito melhor. 

O mérito bracarense de querer ser feliz no Bernabéu, não chegou para levar de vencida a equipa 14 vezes campeã europeia, mais forte no controlo dos momentos de jogo, mais segura no posicionamento das peças, e terrivelmente letal no aproveitamento das oportunidades. Poderá questionar-se se Artur Jorge não destapou demais o meio-campo, ao jogar com Djaló, Ricardo Horta e Bruma na frente, e deixando o mais posicional dos seus jogadores, Al Musrati, no banco. O Real Madrid, em muitas ocasiões, especialmente nos lances cortados por Camavinga ou Valverde, e lançados por Toni Kroos para a velocidade alucinante de Vinicius Jr. e Rodrygo, agradeceu os espaços que o SC Braga lhe deu, e aproveitou-os para sentenciar a partida e, ainda, obrigar Matheus a brilhar na defesa das redes. Mas a diferença de cilindrada entre as equipas sentia-se, e de uma forma ou de outra a vitória dos espanhóis seria sempre o desfecho mais aguardado... 

Mudanças sem importância

Carlo Ancelotti aproveitou a noite para dar descanso a Jude Bellingham e Alaba, e poupar minutos a Luca Modric e Carvajal, mas mesmo assim manteve fidelidade ao 4x3x3, que já foi BBC, e que agora recorre a dois velocistas e um falso ponta-de-lança (onde ontem  foi Brahim, costuma ser Bellingham), e que lhe permite, face à qualidade dos executantes, uma versatilidade tática de largo espectro. Já Artur Jorge, que teve em Moutinho o relógio suíço dos bons velhos tempos, mas a quem faltou mais Zalazar e Horta (que é dos avançados quem mais recua para circular a bola) para dividir melhor o jogo, passados os quinze minutos iniciais em que os arsenalistas tiveram grande impacto no Santiago Bernabéu.

Fica para a história, além do resultado sem surpresa, a chegada do SC Braga a um dos palcos mais míticos do futebol mundial, e logo na maior prova de clubes do Mundo. O caminho faz-se caminhando, e os minhotos não foram capazes de dar um passo maior do que a perna.