«Não há pânico: estamos a dar pequenos passos sustentáveis»

Casa Pia «Não há pânico: estamos a dar pequenos passos sustentáveis»

NACIONAL02.03.202313:49

Oito meses após o início dos trabalhos de pré-época, e após uma série de resultados com apenas uma vitória (e dois empates) nos últimos oito jogos da temporada, nas vésperas de defrontar o P. Ferreira, segunda-feira, para a 23.ª jornada da Liga, no Estádio Nacional, o diretor desportivo dos gansos, Diogo Boa Alma, reiterou na manhã desta quinta-feira a absoluta serenidade em Pina Manique por este ciclo menos exuberante de resultados daquela que foi a equipa-sensação da Liga na primeira volta.

Num dia em que os jornalistas puderam testemunhar os primeiros 15 minutos do treino dos comandados de Filipe Martins, na preparação da receção aos castores, não se viu Léo Natel, que continua, entregue ao departamento médico a recuperar de lesão.

No balanço de dois terços de uma época em que muitos indicadores apontam para alegada quebra de rendimento da equipa, o diretor desportivo rebateu qualquer ‘crise’ em absoluto e confirmou que a disponibilidade de Rafael Martins para o jogo com o P. Ferreira é uma incógnita: o avançado brasileiro sofreu uma microrrotura no jogo-treino ante os juniores do clube, no dia seguinte ao embate com o V. Guimarães, apurou, posteriormente, A BOLA.  

Do discurso do responsável do emblema, ainda a certeza de que o Casa Pia, mesmo obtendo a ambicionada permanência na Liga, irá começar 2023/24 em casa emprestada, pois as obras em Pina Manique, que inicialmente se esperavam concluídas até final de 2022, ainda nem se iniciaram, alegou Diogo Boa Alma devido aos trâmites burocráticos na autarquia da capital.

Do ‘ponto de ordem’ em fase cinzenta da temporada, ainda a revelação que, apesar do alegado interesse, nem de Alvalade, nem da Luz chegaram a Pina Manique propostas por Leonardo Lelo, revelou Diogo Boa Alma, não desmentindo – antes assumindo com naturalidade – a cobiça pelos ases da equipa, devido ao bom desempenho coletivo do Casa Pia, promovido esta época (com Rio Ave e Chaves) após 83 anos de ausência no escalão maior, desde a época 1938/39.

E mesmo com as «nove expulsões e dez penáltis contra assinalados», o responsável do emblema reiterou a ausência de críticas às arbitragens, apanágio do técnico Filipe Martins, «por o Casa Pia querer mostrar ser um clube diferente», até na forma de estar.

Eis, na íntegra, o balanço sereno do diretor desportivo do Casa Pia, Diogo Boa Alma, a tranquilizar espíritos mais inquietos com os últimos resultados do histórico e centenário clube lisboeta, na manhã deste dia, aos jornalistas que se deslocaram a Pina Manique, numa manifestação de confiança, mais, ao técnico da equipa e de reconhecimento ao plantel que orienta, na hora mais difícil, até à data da temporada, em termos de resultados:

- Foi um mês de fevereiro difícil, e o clube leva uma vitória nos últimos oito jogos. O Casa Pia, qual formiga, amealhou pontos cedo, para compensar no inverno?

- É a velha questão de vermos o copo meio cheio ou meio vazio. É verdade que o Casa Pia já teve períodos de maior fulgor, mas a realidade é que nesta segunda volta temos cinco pontos, de uma vitória e dois empates. A verdade é que fizemos apenas menos três pontos do que, por esta altura, na primeira volta da Liga. Defrontámos, já quatro adversários diretos [na luta pela manutenção] com os quais já realizámos os dois jogos, e sobre estes temos vantagem no confronto direto, em caso de igualdade pontual. Falo do Santa Clara, do Boavista e do V. Guimarães. Apenas com o Arouca não temos vantagem, em caso de igualdade final [0-0 e 0-2]. Por isso, temos de dizer que o balanço é extremamente positivo, mesmo tendo em atenção que nesta segunda volta podemos não estar a ser tão falados como no início. Mas os resultados têm acompanhado: estão dentro da expetativa e dentro dos objetivos que o clube traçou, que são garantir a permanência na Liga.

- Dos três clubes que subiram da Liga 2, e comparando com Rio Ave e Chaves, ainda são os que estão a ter melhor desempenho na Liga…

- Sim, e ao nosso objetivo, ao fim de mais de 80 anos afastados da primeira divisão [83 anos, 1938/39] era podermos olhar já, nesta altura, para termos 32 pontos, e estarmos praticamente com a manutenção assegurada, podendo planear a próxima época tendo a certeza de que o Casa Pia estará na elite do futebol português no próximo ano.

- O técnico, Filipe Martins apontou os 36 pontos como fasquia provável para garantir essa permanência. Faltam quatro pontos ao Casa Pia, e recebem o último da tabela, segunda-feira, no Estádio Nacional, o P. Ferreira. Também o consideram rival direto na luta da manutenção?

- Obviamente que é um adversário direto, uma equipa que também luta pelos mesmos objetivos, que está bastante melhor nesta segunda passagem do ‘mister’ César Peixoto, está bem melhor. Os resultados têm acompanhado e também tiveram bons reforços no mercado de inverno. Estão uma equipa mais competente neste momento. Mas sabemos que temos as nossas armas e a nossa capacidade para, na segunda-feira, levar de vencida o Paços e garantir os três pontos.

- Ninguém entra em pânico com esta quebra de resultados, esta ressaca, chamemos-lhe assim?

- Minimamente! Como digo, não considero que haja uma má fase do Casa Pia, de todo. Cinco pontos em cinco jogos na segunda volta é uma boa pontuação. Seria uma pontuação que, em absoluto, nos daria, se fosse ao longo dos 34 jogos, nos daria 34 pontos no final do campeonato, portanto muito próximos do objetivo da manutenção. Estamos dentro desses objetivos, estamos a conseguir manter o rendimento que pretendíamos e, sobretudo cada vez mais próximos de alcançar o grande objetivo da época, a manutenção.

- E as arbitragens, preocupam-no, após quase tantas expulsões de jogadores do clube quanto pontos somados nas últimas jornadas da Liga? Perguntamos-lhe por o treinador, Filipe Martins, não as comentar. E o diretor desportivo?

- Não falamos [de arbitragens], é uma postura do clube. Quer ter uma maneira de estar diferente no futebol português: é essa a nossa mensagem. Sabemos que não é fácil, para uma equipa que já viu dez penáltis assinalados contra si e já teve nove jogadores expulsos, numa equipa que é das equipas com maior tempo útil de jogo, com menor número absoluto de faltas cometidas. Tudo isso contrasta um pouco com todo o rigor dessas expulsões e desses penáltis. Mas a realidade é que temos de nos focar no que depende de nós, no que controlamos. E vimos, ainda agora, neste jogo em Arouca [0-2, 22.ª jornada da Liga]: fizemos um dos melhores jogos da época, isso é verdade! Sobretudo a primeira parte: foi, provavelmente, a melhor primeira parte que o Casa Pia fez ao longo de todo o campeonato! E tivemos quatro ou cinco oportunidades de golo em que não fomos eficazes: é nisso que temos de nos concentrar. No que dominamos: ser mais eficazes, ser mais competentes, para voltarmos rapidamente às vitórias e somar três pontos já na segunda-feira.

- A época positiva do Casa Pia tem atraído interesse sobre os jogadores. Em janeiro, falou-se muito da possibilidade de Lelo para o Sporting, depois para o Benfica. Chegou alguma coisa ao clube... ou não?

- O Lelo, como outros jogadores do clube, como é o caso do Godwin, ou tantos outros, têm despertado cobiça pelo bom rendimento coletivo da equipa. E isto é sempre assim: quando as equipas, coletivamente, têm um bom desempenho, também as individualidades sobressaem. [Lelo] é um dos jogadores que está a ser muito cobiçado, há muito interesse, quer nacional, quer do estrangeiro, mas até ao momento sem alguma proposta concreta.

- Referiu a preparação da próxima época. Há planos para qual será a casa do Casa Pia na próxima época? As obras que se esperavam concluídas em Pina Manique no final de 2022 ainda nem começaram. Vão continuar a jogar em casa emprestada?

- Sim. Estamos com problemas burocráticos normais, de aprovações camarárias. Estamos em crer que nos próximos tempos isso estará ultrapassado. O projeto foi submetido, já há muito tempo, na Câmara Municipal de Lisboa. Há de ser aprovado. Vamos iniciar as obras o quanto antes, mas sabemos, seguramente, que não vamos iniciar a próxima época aqui, em Pina Manique, como quereríamos e gostaríamos. Esperemos que seja possível vir para cá o quanto antes, mas teremos de arranjar uma alternativa para a próxima época.

- E um orçamento maior, não?

- Não, o orçamento [para 2023/24] manter-se-á. O Casa Pia tem um projeto coerente e consistente. Na próxima época, o objetivo também não se irá alterar: será a manutenção. São esses pequenos passos, sustentáveis, que o clube tem de dar: tem de ser um clube sustentável. Tem de ser um clube que olhe para o futuro e que queria cimentar a sua presença na Liga e não ser uma presença fugaz, em que possa ter uma boa época e, depois, não ter continuidade.

- Fugaz não é andar seis meses da época em classificação de apuramento para a UEFA, en quinto lugar. Foi uma utopia pensar na Europa, como diz Filipe Martins?

- Não é uma utopia, nunca o será. A nossa ambição é fazer sempre o melhor, é conquistar os três pontos todos os fins-de-semana, mas garantir o primeiro e grande objetivo da época, que é a manutenção. Esse sim, é um objetivo traçado por parte do clube. Tudo o resto que daí possa vir por acréscimo, será ótimo e vamos lutar, com toda a certeza, até ao final da época para garantir o máximo de pontos possível. Depois, a classificação final, dirá em que lugar ficaremos.