20 março 2025, 19:37
Portugal está no Mundial de futsal feminino
Portugal e Itália venceram as duas primeiras jornadas e estão apuradas
Treinador de 44 anos abandonou Portugal no fim de 2024 e encontrou uma realidade inesperada, mas que abraçou de forma surpreendente. Para trás ficam tempos de coordenador, selecionador distrital e de... jogador ao lado de Ricardinho
Depois de quatro temporadas onde alternou entre funções de coordenador e treinador no futsal sénior feminino e de formação do Benfica, Luís Estrela abandonou as águias em 2024.
Após seis meses em que conciliou mestrado em treino desportivo, produção conjunta de um livro e cargo de selecionador distrital de Santarém, o treinador de 45 anos foi escolhido pela Federação Indonésia, em dezembro de 2024, para comandar a seleção feminina de futsal, após um longo processo de recrutamento.
«O perfil da Federação estava muito bem estruturado. Pretendiam um selecionador que não fosse só treinador de campo, mas que também ajudasse a desenvolver o futsal feminino em termos de formação e modelo competivio e que tivesse boa capacidade de comunicação, na língua inglesa», explica Luís, em entrevista a A BOLA, acrescentando que foi selecionado a partir de um lote inicial de dez candidatos.
Após um início com uma vitória e uma derrota em dois jogos particulares, com o Bahrein, seguiram-se três triunfos em outros tantos jogos a contar para a primeira fase da qualificação para o Mundial Feminino que garantiram o apuramento para a fase final da Taça asiática e valeram uma subida de sete lugares no ranking FIFA, da 24.ª para a 17.ª posição.
Luís Estrela admite que foi surpreendido pela qualidade da equipa que encontrou no país do sudeste asiático: «Nunca pensei integrar-me tão bem. A Indonésia tem um conjunto de potencialidades que eu desconhecia. As atletas têm características motoras muito adequadas para a modalidade. Estão num processo que Portugal também esteve há muitos anos, quando tinha muito potencial mas faltava alguma organização.»
Em maio, o novo capítulo do sonho indonésio terá lugar no Kuwait, país-organizador da Taça Asiática. Luís Estrela admite desejo de disputar fase final do Mundial, mas traça meta mais realista do que atingir os três primeiros lugares da competição: « O primeiro grande objetivo é passar aos quartos de final. Existem três vagas para o próximo Mundial e cinco equipas que estão muito acima: Japão, Irão, China, Tailândia e Vietname.»
Ao longo da conversa com A BOLA, o treinador de 45 anos frisou a admiração pela cultura indonésia e a qualidade do talento à disposição dentro da quadra e não só: «A Indonésia respira futsal, há um gosto muito grande pela modalidade. As atletas são tecnicamente muito evoluídas e têm inteligência emocional para aprender taticamente. Foi algo que me surpreendeu. É um povo extremamente humilde e simpático.»
Com experiência acumulada enquanto selecionador distrital e coordenador, Luís Estrela alargou a base de recrutamento para encontrar o talento escondido no meio de 270 milhões habitantes. Entre jogadoras da liga doméstica de futsal, jovens a despontar em torneios escolares que substituem os escalões de formação e até futebolistas, o técnico de 44 anos procura definir o grupo que vai atacar o sonho mundial.
No inédito torneio que terá lugar nas Filipinas entre 21 de novembro e 7 de dezembro, já está a Seleção Nacional. O treinador rejeita que a qualificação lusa acrescente motivação para alcançar o apuramento, mas reiteira que será mais um adepto «desde que não seja contra a Indonésia».
«É uma geração que merecia, em virtude de muitos anos a batalhar, por melhores condições, pela evolução da modalidade. Ficaria triste se Portugal não se tivesse qualificado, sendo português, mas não interfere em nada com os nossos objetivos.», frisou o selecionador da Indonésia.
20 março 2025, 19:37
Portugal e Itália venceram as duas primeiras jornadas e estão apuradas
Questionado sobre o favoritismo da equipa lusa na luta pela conquista do Mundial, Luís Estrela não tem dúvida: «Portugal tem muita qualidade individual e coletiva. Está no lote das favoritas, juntamente com o Brasil e com a Espanha. Têm uma mentalidade vencedora.»
O presente é o melhor amigo de Luís Estrela. Questionado sobre o futuro e as portas que a Indonésia pode abrir, o técnico foca-se nas tarefas que tem a cargo diariamente: «O objetivo é fazer um plano estratégico de qualidade para a Federação, evoluir o futsal feminino na Indonésia e estar focado na próxima competição para, no final desta fase de qualificação, conseguirmos ter um resultado que orgulhe um país de 270 milhões de habitantes.»
Luís Estrela nasceu para o futsal na Portela, onde foi formado e manteve-se enquando sénior até aos 24 anos por, segundo o próprio, priorizar jogar com os amigos de uma vida. Em 2003 o ala, deu finalmente o salto para a Primeira Divisão pela porta do SL Olivais, com quem venceu uma Taça de Portugal na época de estreia. As boas exibições chamaram à atenção do Benfica que contratou Estrela em 2004, e novamente em 2006.
O antigo ala que venceu Taça de Portugal, Liga e Supertaça ao serviço dos encarnados justifica as saídas da Luz, ambas pelo próprio pé: «Era só mais um. Tínhamos uma equipa fenomenal com Ricardinho, Gonçalo Alves, André Lima, Zé Maria, Pedro Costa... Sentia que com algum tempo de utilização tinha muito potencial e procurei ser feliz.»
Apesar de apenas ter cumprido uma temporada e meia na Luz, na retina de Estrela ficou um nome incontornável das quadras: Ricardinho. O atual treinador conta a A BOLA que se o antigo colega de setor visse algum jogador no treino a executar uma ação diferenciadora, no dia seguinte estava a fazer o mesmo, «mas melhor».
«Era um fora de série com ou sem bola. Digo sempre que partilhei quadra com os dois melhores de sempre: Ricardinho e Falcão», acrescentou Estrela, que voltaria a sair do Benfica em 2008.
O regresso aos Olivais antecedeu a saída em 2010 para terminar onde tudo tinha começado, na Portela, aos 37 anos, ao mesmo tempo que já treinava futsal de formação. Após nove temporadas entre equipas de Lisboa e a própria seleção distrital, Estrela regressa ao Benfica, para assumir a coordenação do futsal de formação do clube.
Quis o destino que na temporada seguinte, já após uma sequência de jogos no comando dos iniciados, o técnico assumisse o comando técnico da equipa de futsal feminino do Benfica, em janeiro de 2022. A conquista do pentacampeonato abrilhantou a passagem do treinador pelo comando técnico das encarnadas que terminou, abruptamente, depois de seis vitórias e um empate nos sete primeiros jogos da época seguinte.
Luís Estrela, que à data acumulava o cargo de coordenador da formação, explica o motivo da saída pelo próprio pé: «Estava com outras funções, também no Benfica, com muito volume de trabalho e acabou por ficar por ali».
Ao fim de 32 anos ligados ao futsal, em todas as funções possíveis, Estrela reafirma desejo de continuar a desenvolver projetos onde se sentisse muito valorizado de forma a concretizar o objetivo principal de carreira: «Lutar por títulos, deixar marca e ser feliz«.