Sabe-se como é difícil, em Portugal, um jogo começar a horas. É cultural, nada a fazer, há sempre atrasos, umas vezes provocados pelos artistas, outras, sem razão aparente para que assim aconteça. Em Famalicão, foram só oito os minutos que o espectador pagante teve de esperar para ver o primeiro pontapé na bola... E tudo por uma questão de vestimenta que o árbitro entendeu dever organizar antes de que algum problema viesse a complicar a festa. É fácil contar a história. Aliás bem portuguesa, por sinal. Então é assim: a Liga, como sempre faz, informou previamente os clubes, como semanalmente acontece, dos equipamentos a usar. E indicou o branco para o Famalicão, que é o seu principal, e o rosa ao Chaves, que é o seu secundário. Tudo muito bem. Ou nem por isso. Ao ver as equipas alinhadas para o início do encontro, o árbitro João Gonçalves não gostou do cenário. E, percebendo que entre o branco e o rosa poderia surgir alguma dificuldade de apreciação, sobretudo em duelos em espaços, digamos, críticos, ordenou de imediato a mudança de trajes, exigindo tonalidades mais distintas, de forma a melhor aferir a sua visão. Certo, perfeitamente legal, nada a contestar a tal ordem de serviço vinda de quem tutela o jogo. Os famalicenses optaram então pelo azul, que é a sua farpela secundária. E tudo parecia perfeito. Azul contra rosa, poucas dúvidas deveriam tolher a observação arbitral. Mas persistia um senão: o guarda-redes Paulo Vítor só tinha um equipamento preto, suscetível, portanto, de se confundir com o azul. E toca a desenrascar uma camisola de aquecimento cinzenta, e a estampá-la com o número e o nome do jogador. A irritação do brasileiro, audível, na cara do árbitro, era apenas consequência do facto de ter sido obrigado a pedir, por empréstimo, um par de meias brancas ao roupeiro da casa. É que não há direito. Mesmo ganhando o jogo.
