«João Pereira está no fio da navalha e o presidente também»

NACIONAL07.12.202409:00

Manuel José, que orientou o Sporting nos anos 80, colocou reticências quanto à escolha de João Pereira. Recordou a A BOLA quando chamou de Amorim aos treinos dos seniores do Belenenses

O percurso de João Pereira no comando técnico da equipa principal do Sporting está a ser espinhoso. Após quatro jogos — uma vitória na Taça de Portugal, com o Amarante, e três derrotas, frente a Arsenal, Santa Clara e Moreirense — deixam o treinador sob escrutínio e já se levantam vozes quanto à sua continuidade no cargo.

Manuel José, que foi treinador dos leões na década de 80, em declarações exclusivas a A BOLA, colocou mesmo algumas reticências em relação à escolha de Frederico Varandas na sucessão de Amorim.

«Apareceu uma oportunidade para o João Pereira, que praticamente não tem passado nenhum como treinador, a não ser nos juniores e equipa B do Sporting, para dar um salto inimaginável e ser treinador da equipa principal. Uma oportunidade que não tinha moral para rejeitar, basicamente tinha obrigatoriamente de aceitar», começou por dizer.

Manuel José já foi treinador do Sporting (D. R.)

«É um ato de coragem do presidente. A lembrar aquilo que também fez com Amorim, quando o foi buscar ao SC Braga e só tinha treinado o Casa Pia. Pagou €10 milhões para ir buscar um treinador que não tinha um pingo de experiência em termos de Liga, às vezes é preciso passarmos uma série de anos para lá chegar. Foi o que aconteceu comigo, ao fim de oito anos de ser treinador na primeira divisão é que fui para o Sporting», acrescentou.

Nem sequer tem à vontade ainda para enfrentar uma conferência de imprensa, ainda por cima num clube tão grande como o Sporting, que vai em primeiro lugar, imbatível, com um futebol de altíssima qualidade, necessita praticamente de apenas um ponto na Liga dos Campeões para se classificar

Manuel José realçou, ainda, a capacidade de comunicação de Ruben Amorim e recordou quando o chamou aos seniores do Belenenses: «O Amorim deixou marca indelével no Sporting, ainda mais por ser um comunicador por natureza. Fui treinador dele, quando orientei o Belenenses, jogava nos juniores e chamei-o a treinar com os seniores, nessa altura já era um indivíduo extrovertido, muito bom comunicador, por isso, a forma dele comunicar não me surpreendeu.»

E foi mais longe: «Isso é um pesadelo para o João. Depois de ganhar para a Taça de Portugal veio o jogo com o Santa Clara que não correu bem e digamos que ele não tem à vontade sequer ainda, como treinador, para enfrentar uma conferência de imprensa, ainda por cima num clube tão grande como o Sporting, que vai em primeiro lugar, imbatível, com um futebol de altíssima qualidade, necessita praticamente de apenas um ponto na Liga dos Campeões para se classificar. É um peso muito grande para alguém que estava confortavelmente na equipa B e agora vê-se confrontado com um gigante aos ombros.»

«Melhor reconhecer o erro do que perder a época»

Em relação ao que tem sido a prestação coletiva, menos positiva, o treinador tem uma explicação. «No jogo com o Arsenal, logo de início, Gonçalo Inácio entregou duas bolas à entrada da área, de bandeja, a seguir foi Diomande que deu outra dentro da área, aos cinco minutos já podiam estar a perder por três. Não percebi o estado de espírito dos jogadores ao entrarem a jogar contra uma equipa que é o segundo classificado do campeonato inglês. O Sporting ter ganho, como ganhou, ao Manchester City foi um feito e teve impacto tremendo, mas com o Arsenal entraram completamente inibidos, assustadíssimos e resultou naquilo que resultou. Fiquei de boca aberta com o estado de espírito dos jogadores. Mudou o treinador e o reflexo é que o estado anímico e psíquico deles ficou altamente afetado», realçou.

Agora não é fácil virar o bico ao prego, como se costuma dizer. Mudar de discurso e despedir o treinador. É o treinador do presidente do Sporting, que é um homem mentalmente forte e parece não estar afetado

Quanto ao futuro de João Pereira não tem dúvidas: «Está no fio da navalha e o presidente também, ainda por cima depois dos elogios que teceu na apresentação do novo treinador da equipa principal.»

E prosseguiu: «Agora não é fácil virar o bico ao prego, como se costuma dizer. Mudar de discurso e despedir o treinador. É o treinador do presidente do Sporting, que é um homem mentalmente forte e parece não estar afetado. Mas, a decisão de manter o treinador com resultados negativos, quando parecia que o campeonato já estava a ganho, não vai ser fácil de dar a volta a esta situação. Despedi-lo é reconhecer o erro que cometeu, mas é melhor reconhecer o erro do que perder a época.»