ENTREVISTA A BOLA João Matos: «Se o tetra não fosse nosso, a época seria um fiasco»
Desde 2005 na equipa principal do Sporting, João Matos tornou-se, aos 37 anos, no primeiro capitão a levantar quatro troféus consecutivos de campeão nacional. No balanço da época 2023/2024, o fixo assume alguma inconsistência
— Parabéns pelo tetracampeonato nacional, que resultou no 35.º título ao serviço do Sporting. Ainda se festeja da mesma forma, após tantas conquistas?
— Sim, ainda se festeja da mesma maneira. Este em particular, por ter sido algo histórico no futsal português, tem um gosto diferente. Nós vivemos muito para conquistas, para troféus, para dar alegrias aos sportinguistas e numa época um bocadinho diferente das últimas três, quatro em que ganhámos menos competições do que estávamos habituados, acabámos por terminar a temporada de uma forma gloriosa. Festeja-se sempre da mesma maneira, sempre eufóricos.
— O SC Braga foi o adversário na final do play-off. Notou alguma diferença em relação aos confrontos recentes com o Benfica?
— Nós acompanhávamos o SC Braga há 10 meses e prevíamos que ia ser uma equipa difícil, que não ia só lutar por troféus, como Taça da Liga e Taça de Portugal, mas também pelo campeonato. Logicamente, o clima é diferente de um Sporting-Benfica, mas aquilo que o SC Braga demonstrou em várias jornadas da fase regular, estando em primeiro, que nos conquistou uma Taça de Portugal, fez com que estivéssemos preparados para um SC Braga finalista, com todo o mérito, mas apanhou pela frente um grande Sporting. Fizemos três jogos muito bons. Distintos, sim, mas muito bons, o que nos permitiu o 3-0 no agregado final.
— No jogo 2, em Braga, fez um decisivo corte com o corpo impedindo o golo do empate já muito perto do fim. Foi sorte ou foi um movimento propositado?
— É uma situação desgastante para quem defende na minha posição. O Sporting defende com dois à frente e um atrás, que sou eu e tenho de percorrer 16 ou 18 metros em escassos segundos para fechar linhas de passe. O SC Braga atacou bem, conseguiu fixar os nossos jogadores e eu não tive tempo para depois ir a um dos lados em que sai o guarda-redes. Não fechei totalmente uma linha de passe e a bola foi para o Bebé. Aí, tive de dar o corpo às balas. O Bebé chuta contra mim, ainda consigo deslocar a anca para tentar intercetar a bola e foi o que aconteceu. Há aqui um misto de sorte, com a previsão do lance e a interpretação do que estava a acontecer à minha volta em milésimos de segundo.
— Este tetracampeonato vem serenar as críticas sobre um final de ciclo de muitos jogadores, incluindo o João, no Sporting?
— Levamos com críticas todas as semanas e estamos mais do que calejados para isso. O que é importante aqui olhar é que começámos a época com a Supertaça, na qual estivemos a ganhar 3-0 ao Benfica e perdemos [4-5], na minha ótica, com muito demérito nosso. Sim, houve muito crer do Benfica, mas a ganhar 3-0 e com o jogo mais ou menos controlado, nós é que entregámos de mão beijada o jogo. Ganhámos a Taça da Liga (4-2) ao Benfica, que esteve muito bem. Perdemos uma Taça de Portugal para o SC Braga (3-5) e fomos superiores. Nessa final, eles fizeram a mesma coisa que na final do play-off, apenas tiveram mais sorte no jogo, aproveitaram as oportunidades e marcaram um golo de 5x4 quando nós não tínhamos os nossos principais defensores em campo. Perdemos [4-5] na meia-final da Champions com um Barcelona que não é o melhor dos últimos anos em termos de consistência de jogo, de organização. Inconstantes também fomos nós ao longo desta época. Habituámos as pessoas a estar sempre nos limites, a jogar bem, a marcar muitos golos. No entanto, as outras equipas já conhecem o Sporting e temos de nos reinventar constantemente para poder enganar em termos de plano de jogo o adversário. Cada vez mais isso é difícil. Por culpa do Sporting, as equipas acreditam cada vez mais porque não estamos tão eficazes como em épocas anteriores e isso foi acumulando. Repare que em cinco troféus, o Sporting conquistou dois. O tetracampeonato acaba por vir numa época de inconsistência em termos de qualidade de jogo, de resultados, também por mérito dos adversários. É a cereja no topo do bolo, porque é algo histórico, que queríamos muito. Houve um clique após a eliminação na Champions: se o tetra não fosse nosso, a época seria um fiasco.
— Dedicou o tetracampeonato ao Diego Cavinato. Por que razão?
— O Cavinato é um pessoal especial, mais ainda para quem o conhece como é o nosso caso. Temos de isolar aqui duas partes: o Cavinato enquanto pessoa e enquanto atleta do Sporting, que teve um caso de doping e que rescindiu contrato com o Sporting. Enquanto profissionais da modalidade, não temos de proteger um atleta, que foi apanhado no doping. De longe, querer passar essa mensagem. A minha dedicatória ou agradecimento ao Cavinato foi pela pessoa que é, que esteve aqui anos e anos e que era a alma desta equipa. Quem trabalhou com ele no Sporting vai entender o que quero dizer. O Cavinato era a alegria do grupo, quem mais brincava, que nos animava. Quando aconteceu o caso, foi um soco para todos nós. Houve um comunicado da Direção em que o Cavinato estava presente. Depois, a Direção saiu e ficou só ele e os atletas. Foi um dia marcante, muito duro a despedida dele pessoal. O Cavinato estará para sempre na história do Sporting pelo que conquistou, pelo que fez, pelos golos que marcou [é o maior marcador da história dos leões, com 340 golos]. É uma pessoa de coração puro, verdadeira, humilde e ele merecia este tetra.
— Na próxima temporada, estará no plantel que irá tentar o pentacampeonato?
— Sim, tenho contrato por mais um ano.