Depois de 58 anos, o Santa Cruz, um dos maiores clubes do Recife, de Pernambuco e de toda a região nordeste do Brasil, perdeu um jogo para o vizinho Íbis, clube que se autodenomina «o pior do mundo» e faz desse epíteto a razão de viver. O resultado foi a desolação completa das duas torcidas, a maior, do Santa, queixando-se de que nunca o clube desceu tão baixo, e a menor, do pássaro preto, zangada por lhe ter escapado a derrota. «Vamos invadir o centro de treinos se continuar assim, viu», ameaçou um adepto do Íbis. «Devolvam o nosso Íbis, não queremos este novo Íbis vitorioso», lamentou outro. «Tentámos por todos os meios a derrota mas, infelizmente, o Santa Cruz foi mais incompetente. Dessa forma ainda iremos parar à Série A do Brasileirão, ou pior ainda, chegaremos à Libertadores», resumiu um terceiro. Do lado da cobra coral, a tristeza foi mais verdadeira. «O Íbis fechou o caixão do Santa», queixou-se um torcedor. De facto, o clube 29 vezes campeão pernambucano e por duas vezes, 1960 e 1975, quarto classificado do Brasileirão da Série A, corre, com a derrota, por 1-3, em casa, em jogo adiado do estadual disputado já na madrugada de ontem, o risco de não disputar nenhuma divisão nacional em 2024. O Santa ainda se pode apurar para a segunda fase do estadual e até acabar campeão mas a vaga da Série D em 2024 é atribuída aos primeiros quatro na fase de grupos e aí já não alcança o Petrolina, atual quarto com quatro pontos de avanço e apenas três pontos em disputa. O caminho passa, portanto, por subir à Série C de 2024 via disputa da Série D deste ano. «O clube precisa de se reconstruir», assumiu Felipe Conceição, treinador no cargo desde sexta-feira. Thoni Brandão, duas vezes, e Celestino marcaram para o Íbis. Chiquinho fez o golo do Santa Cruz. Foi o primeiro triunfo do emblema de Paulista, cidade nos arredores do Recife, sobre o rival desde o 1-0 do estadual de 1965, ainda a fama de «pior do mundo» não se tinha colado ao clube, e segundo de sempre. «É histórico ganhar no Estádio do Arruda a uma equipa de peso, temos de exaltar os atletas, eles estão a fazer muito barulho no balneário», resumiu o treinador Rafael Santiago.