Hugo Viana, a frustração de Gyokeres e os bons miúdos: tudo o que disse Rui Borges
Treinador do Sporting fez a antevisão do jogo com o Farense, elogiou os miúdos que estão a dar cartas no plantel, falou sobre os lesionados e reagiu ao sorteio do 'play-off' dos oitavos de final da UEFA Champions League, em que os leões vão defrontar o Borussia Dortmund
- Que dificuldades espera que o Farense possa criar ao Sporting, apesar do mau momento dos algarvios, que não vencem há cinco jogos?
- É uma equipa à imagem do seu treinador, apesar de não terem estado tão bem nos últimos cinco jogos, mas são bem organizados. O Tozé Marreco preocupou-se mais com o processo defensivo desde que entrou, quando estavam em lugares de despromoção, mas no processo defensivo tem jogado com um bloco médio/baixo, com muita gente comprometida, competitiva, com homens rápidos e fortes nas transições ofensivas. É uma equipa muito forte em bolas paradas também, com jogadores atleticamente fortes e altos. Pessoalmente conheço o treinador, organiza bem as suas equipas, em termos defensivos e ofensivos, naquilo que é as suas transições, tem padrões bastante engraçados, ou bastante interessantes, nesse sentido. É nisso que temos de estar focados, que temos de estar preocupados, sabemos que são os jogos mais difíceis, porque tivemos no exemplo do Nacional, até desbloquear, desbloqueámos num momento de inspiração do Trincão, vai ser um bocadinho um jogo nesse sentido, perceber ali no último terço, tomar decisões rápidas, boas e muita inspiração do que temos individualmente, mais do que padronizar o que quer que seja perante o adversário, Vai ser muito isso, a inspiração no último terço, a reação à perda para não deixarmos as referências sair em contra-ataques, dentro um bocadinho daquilo que nos aconteceu com o Nacional, que acabou por vir também com uma linha de cinco, um bloco mais baixo, e nos obrigou a andar no mesmo bloco alto, com mais paciência e com mais calma, sei que às vezes não se torna um jogo tão bonito para quem vê, mas temos de nos adaptar àquilo que o jogo nos dá, àquilo que o jogo pede, nem sempre vai ser muito bem jogado, porque não existe espaço, é importante desbloquear o mais cedo possível, mas respeitar o adversário para não termos dissabores.
- O mês de fevereiro traz sete jogos para o Sporting, face às muitas lesões no plantel é fundamental que até ao fecho do mercado de transferências chegue alguém?
- Temos tido várias lesões e pode parecer que estamos curtos por causa disso, mas temos muita gente magoada e isso condiciona bastante. Claro que queria ter todos os jogadores disponíveis para ter um plantel mais vasto. Se tivessem todos disponíveis, não estávamos aqui a falar sobre mercado. Preocupa-me mais em meter a malta a cem por cento e recuperada do que com o mercado, que em janeiro é muito ingrato, às vezes é um engano. Para ir buscar as melhores soluções às melhores equipas do mundo é preciso ter bastante dinheiro, nós também não os vendemos. Mais do que reforçar a equipa, a acrescentar só para dizer que acrescentámos, importante é o foco está em recuperar os indisponíveis. Temos as soluções de que precisamos. Temos de nos focar no nosso dia a dia e nos jogadores que temos.
- A saída de Marcus Edwards parece estar encaminhada. Isso é um alívio?
- Não tenho problemas com ele, é um bom miúdo. Se sair é uma venda do clube, libertar um jogador que não está a ser solução, apenas isso. O Edwards não está a ser uma solução para o treinador, não é problema algum.
- Quanto à saída de Hugo Viana já este mês, terá impacto?
- O Hugo está aqui todos os dias, tem demonstrado um compromisso fantástico connosco equipa técnica e mantém um diálogo fantástico. É isso que posso dizer, não posso dizer mais nada. Feliz por poder contar com ele todos os dias e contar com o apoio e carinho que tem demonstrado desde sempre.
- O Sporting tem tido pouco aproveitamento nas bolas paradas no que a golos diz respeito. Isso deve-se a falta de tempo de treino ou às ausências de Pedro Gonçalves e Nuno Santos? Alisson Santos pode ser opção?
- O Alisson é jogador do UD Leiria, não posso falar dele. Quanto às bolas paradas, temos treinado sim, mas é um pouco do momento de inspiração de quem marca. Cada vez mais as equipas são mais atléticas, agressivas, prepararam isso defensivamente, é um momento do futebol que se tornou mais importante nos últimos anos e torna-se cada vez mais difícil fazer golos dessa forma. Trabalhamos, preparamo-nos, mas também depende muito da inspiração. O mais importante é sentir que eles estão focados, tentam marcar, estão ligados em todos os momentos, é isso que me deixa feliz.
- Gyokeres está disponível para ir a jogo frente ao Farense?
- O Viktor [Gyokeres] e o Morita estão em dúvida, é muito dia a dia, vai depender muito do como estão em cada dia, vamos perceber se vale a pena correr ou não o risco. Nunca se vai estar feliz, porque se tivesse descansado o Viktor era porque o devia ter colocado, se ele jogar é porque não devia ter jogado. Foco-me nos jogos importantes. São jogadores com fadiga, o Quenda também... Temos de tentar gerir, uns são mais fáceis de gerir, outros nem tanto, como os caso e Viktor e Morita. É dia a dia e tomar decisões em cima do jogo.
- Se Gyokeres não jogar com o Farense fica frustrado? De quem é a responsabilidade de tantas lesões?
- Não há responsáveis, aqui não se procuram culpados. Focamo-nos naquilo que é a solução e não no problema, arranjar bodes expiatórios não. Há coisas que não controlamos, isto não é uma ciência exata, os jogadores não são máquinas, tem a ver com a parte genética de cada um, o futebol é mesmo isso. Se fica frustrado? Vocês conhecem-no, deve ficar frustradíssimo, é um competidor nato. Mesmo quando não faz golos fica frustrado. A ambição dele é ajudar a equipa. Claro que tem a ambição de fazer golos, mas fica frustrado por não poder ajudar a equipa nesta fase do campeonato. Os outros também, o Pote , por exemplo... toda a gente quer ajudar.
- Falando de Pedro Gonçalves, que lesionou-se há quase três meses, houve algum retrocesso na recuperação dele?
- Vejo-o focado na sua recuperação. Estamos muito empenhados em recuperá-lo, assim como qualquer outro jogador lesionado. Mas isto não é como uma máquina: não se coloca um euro e sai uma Coca-Cola. Um jogador é um ser humano. Há jogadores que conseguem recuperar mais rapidamente do que outros. Não é uma coisa exata. O que sei é que está a receber o melhor tratamento possível para voltar a cem por cento. Não vale a pena estar aqui com prazos. Quando estiver a cem por cento ele vai ajudar. A preocupação é o sentimento diário.
- Qual a sua reação ao sorteio do play-off dos oitavos de final da UEFA Champions League?
- O sorteio, estou feliz pelas datas. O Borussia pode não estar muito bem no campeonato, mas na Champions fez grandes jogos grandes jogos, tem uma frente de ataque fortíssima, mudou de treinador... É um jogo muito difícil. Fiquei feliz pelas datas dos jogos, primeiro em casa, na terça-feira, e depois fora, na quarta-feira. É importante ganhar horas umas horas a mais para respirar entre jogos, porque temos muita malta cansada.
- Com tão pouco tempo para treinar no relvado, quais foram as linhas mestras que pediu aos jogadores para o jogo com o Farense?
- Pode-se pensar que estamos confortáveis por termos uma vantagem de seis pontos, mas não olho nesse sentido. Temos uma vantagem e agora a dificuldade é mantê-la. Temos de fazer a nossa parte que é ser competentes e ganhar os jogos. O meu foco é sempre o próximo jogo, tentar passar a melhor informação possível aos jogadores para fazer frente às dificuldades que os adversários nos colocam. A vitória dá-nos essa margem de seis pontos e para a manter temos de ganhar e, nesse sentido, a equipa está supermotivada. Estamos onde queremos, em primeiro, mas vai custar manter essa posição. Só que eles vão ser uns verdadeiros leões e acredito de que faremos uma boa reta final de época.
- Pode fazer um ponto de situação sobre a condição física de Eduardo Quaresma e Debast?
- O Debast felizmente não foi nada de grave e pode ser solução para o jogo, o Edu [Quaresma] também já está recuperado e a trabalhar com a equipa.
- Vai arriscar usar Gyokeres e Morita ou vai poupá-los para o Dragão?
- Os treinadores têm de pensar em tanta coisa que as pessoas não têm noção. As pessoas questionam porque usámos o Viktor 80 minutos com o Nacional, porque era um jogo muito importante. Se eu não ponho o Viktor e calhava não ganhar, os adversários tinham perdido pontos, era porque faltava o Viktor... O futebol vai ser sempre isto. O jogo mais importante é o Farense. Respeitamo-nos muito aqui dentro, se acharmos que o risco vale a pena, ok, se não não arriscamos. Se paro o Viktor é porque paro, se não paro é porque não paro. Não estou preocupado com o FC Porto, estou preocupado com o Farense. Ganhar ao Farense e o FC Porto logo se verá. Se acharmos que chega ao Clássico e o risco for grande, não é por ser com o FC Porto, é por ser o próximo, esse é o pensamento.
- Tem gostado das respostas em campo de João Simões? Está preparado para ser titular?
- O João Simões é um miúdo preparadíssimo para jogar a titular e já jogou. Vai responder sempre que for possível, mas nós como treinadores temos de pensar em muitas coisas. Na Champions se calhar ia ser titular, mas não estava a 100 por cento. São coisas que o treinador tem pensar, percebo que toda a gente faz uma equipa [risos], mas tenho de ponderar tudo isso. É um miúdo que está preparadíssimo para jogar quando for chamado, mas mais do que isso deixa-me feliz, porque é um miúdo que dá tudo em cinco minutos que tiver de entrar e dá o mesmo nos 90 minutos, se tiver de jogar de início. É um miúdo comprometido e cheio de energia para ajudar a equipa.
- E como tem reagido Quenda ao ver o seu nome associado a grande clubes europeus?
- Ele não podia estar melhor. Tem dado uma resposta fantástica, é um miúdo predestinado, com muita qualidade, vê-se que terá um futuro muito bom pela frente. Sinto-o comprometido em ajudar o Sporting, quer ser campeão. Fico feliz, ele também, mas isso deve motivá-lo ainda mais para melhorar comportamentos ofensivos, defensivos, para ser melhor no futuro, porque estamos a falar de um miúdo de 17 anos. Engraçado, porque no último jogo da Champions, ninguém se lembra, o Sporting tinha 11 jogadores sub-23, e o golo do Sporting foi criado por um jogador com 17, outro com 18 e outro com 19 anos! O Harder tem 19, não parece, às vezes parece que tem 15 [risos], é muito expressivo, um bom menino.