Hugo Martins: «Festa da subida foi uma loucura!»
Hugo Martins no Omonia

ENTREVISTA A BOLA Hugo Martins: «Festa da subida foi uma loucura!»

INTERNACIONAL11.05.202410:30

O treinador português, 46 anos, venceu a segunda divisão de Chipre com o Omonia e subiu ao campeonato principal. Há 28 anos que o clube cipriota não estava na primeira divisão. Não pretende regressar a Portugal a curto prazo, dois anos após ter passado por Cova da Piedade e Belenenses

Como é que viveu a vitória no campeonato cipriota, algo tão importante para a equipa?

— Tivemos uma onda de adeptos que foi crescendo com a competição e, com a nossa sucessão de vitórias fomos trazendo muita gente ao estádio. No dia em que conseguimos o feito foi uma loucura. Eles adoram tochas, são loucos. É um bocado pela mentalidade grega, foi uma festa brutal.

 — O objetivo era regressar à primeira liga?

— Não. A ideia era ficar nos oito primeiros, fazendo a melhor pontuação possível. Não havia muita expectativa, porque temos um orçamento muito baixo, apenas 300 mil euros. Temos equipas na segunda liga com orçamentos de um milhão!

 — Quando partiu para a última fase como estava o plantel?

— Fomos alimentando o sonho através dos bons resultados. Tivemos uma série de 16 jogos sem perder e somos a equipa com mais golos marcados e menos sofridos. Preparámo-nos jogo a jogo e, com isso, alimentámo-nos.

— É mais especial ser campeão numa equipa que não está na primeira divisão há muito tempo?

— Há 28 anos que o clube não estava na primeira liga. Temos muitos adeptos jovens, uns ainda não tinham nascido e outros eram tão novos, que não se lembram.

— Quando saiu do PO Xylotymbou disse que gostava de voltar ao Chipre. Que lhe despertou esse interesse?

— O jogo aqui no Chipre, apesar de individualmente haver bons jogadores, mesmo na segunda liga, parte muito, tem muita transição e é demasiado direto. Tive vontade de regressar, porque acreditava que, com os jogadores certos e com a metodologia de treino correta, conseguimos um futebol mais elaborado.

— Sente que a sua chegada mudou um pouco o futebol no Chipre?

— Acho que vai demorar algum tempo. Na próxima época já poderá haver algumas mudanças e elas muitas vezes acontecem com a chegada de técnicos de culturas diferentes. Aqui há muito a ideia de que só o treinador cipriota é que pode subir de divisão, porque conhece bem a liga e o estilo de jogo para subir de divisão é futebol direto e de luta. Mas não é. Portanto, poderei ter influenciado o surgimento de outro tipo de jogo.

— Como é que os jogadores lidaram com as novas ideias de um treinador novo?

— Não é fácil trabalhar comigo. É difícil para quem não esteja aberto a aprender e a evoluir, porque sou um treinador que pressiona, através da metodologia em que acredito. Vai tocar-lhes um bocado no ego. Sempre fizeste as coisas de uma forma e chega um treinador português que quer que jogues de outra forma. Tive alguns episódios duros no início, de um ou outro jogador ter alguma resistência.

— Pode dar um exemplo?

— Na segunda ou terceira semana, num treino, tive dois jogadores que tiveram quase um ato de rebelião, talvez pela forma pressionante como eu falo e a minha exigência. Para mim é claro: se vocês não querem aprender, não há problema, voltam ao que estavam a fazer antes e eu posso ir para Portugal.

— Existem diferenças entre a segunda liga portuguesa e a cipriota?

— Sim. No Chipre tens que ter uma relva que aguente as temperaturas muito altas e com pouca água e depois tens que ter outra relva em janeiro/dezembro. A maioria dos treinadores, se não todos, são treinadores portugueses. Aqui é tudo a procura da transição, há muita intensidade.

— O seu contrato vai terminar em breve. Está aberto a continuar no Chipre?

— A minha ideia é continuar no Chipre, não me vejo a regressar a Portugal. Sou reconhecido e ainda tenho muito para fazer aqui no Chipre. O nosso trabalho aqui é reconhecido. As pessoas gostam da forma como jogamos. Penso que posso ter aqui um papel influenciador, muito maior do que poderei ter em Portugal. O Chipre é como se já fosse uma pátria para mim.

— Falando agora em Portugal. O mercado português de treinadores é um pouco viciado?

— Um bocado, sim, mas é um assunto que não me interessa muito, pois não está nos meus planos regressar a Portugal. Treinei na segunda liga e na primeira como adjunto do Norton de Matos. Portanto, a minha experiência nos campeonatos profissionais foram todas como treinador adjunto. Depois de subir de divisão com o Belenenses parece que não houve subida de divisão. O clube competiu na Liga 3, mas parece que não houve nenhuma subida. Quando cheguei a classificação era horrível.

— Existe um pouco de mágoa em relação ao Belenenses?

— Não é mágoa. É um grande clube e estou muito grato por ter tido a oportunidade de trabalhar num clube tão grande, com uma massa adepta fervorosa e que vive intensamente o clube, mas acho que não se valorizou o suficiente aquilo que conseguimos.

 — Os campeonatos profissionais e a Liga principal é um sonho ou não pensa muito nisso?

— Talvez, mas não penso muito nisso, sinceramente. Obviamente que gostava, mas é algo que não consigo controlar. O que consigo controlar é o meu trabalho. Se as pessoas um dia tiverem interesse de o ver, vão perceber que já houve alguns trabalhos interessantes.