Xabi Alonso descobriu mesmo o antídoto para o ‘Vírus Neverkusen'
Alguns dos segredos do primeiro título de campeão do Bayer
Artigo originalmente publicado a 31 de outubro de 2023 com o título «Terá Xabi Alonso descoberto o antídoto para o ‘Vírus Neverkusen’?»
Xabi Alonso assumiu a Noiva Eterna e transformou-a numa das equipas mais competitivas da Alemanha e da Europa. Essa alcunha maldita do Bayer, à qual se junta outra, a de Neverkusen, provém da incapacidade de consumar candidaturas e conquistar troféus, porém, não se deixem enganar, algum dia terá de acabar. E pode ser desta vez.
Se no currículo, os farmacêuticos ainda contam com o título da segunda liga em 1978-79, a Taça UEFA em 1987-88 e a Taça germânica em 1992-93, salta de imediato à vista a época fatídica de 2001-02, em que ficam a um ponto do campeão Dortmund, caem diante do Schalke 04 (2-4) na final da DFB Pokal no Olympiastadion de Berlim e também no jogo decisivo da Liga dos Campeões frente ao Real Madrid (1-2), a tal partida do histórico remate em vólei de Zidane, que dá a Nona aos merengues. Mas há mais: são ainda finalistas vencidos da segunda competição teutónica em 2008-09 e 2019-20 e vice-campeões nacionais em 1996-97, 1998-99, 1999-2000 e 2010-11. É o tal vírus latente para o qual o técnico espanhol procura antídoto. Para já, lidera a Bundesliga com dois pontos de avanço sobre o Bayern e já sobreviveu ao Arena (2-2), a meio de setembro.
Não são só os pontos já conquistados que parecem transformar a equipa da Renânia do Norte-Vestfália numa série candidata ao título. A forma como tem ganhado os encontros também impressiona. O XabiBall já produziu 46 golos contra apenas dez sofridos em 13 encontros, somados campeonato, Taça e Liga Europa. E se houver quem reclame que o número poderá estar inflacionado pelos 8-0 ao Teutonia 05, ao excluir-se esse resultado o Bayer atinge, mesmo assim, a notável média notável de 3,1 golos por partida.
Além disso, a qualidade das exibições, com um futebol agradável de se ver, executado por muita juventude, com nomes como os do médio ofensivo Florian Wirtz – a maior pérola da formação desde Kai Havertz, ainda com 20 anos – o lateral-direito Jeremie Frimpong, o extremo-esquerdo Amine Adli e o avançado Victor Boniface, dá outra expressão à caminhada deste início de temporada.
Xabi Alonso é, obviamente, o rosto de todo o projeto. Filho de Periko Alonso, antigo jogador de Real Sociedad e Barcelona, e ainda internacional espanhol, e posteriormente treinador, sobretudo de emblemas bascos, entre os quais novamente os txuri-urdin, houve óbvia influência familiar no percurso. Depois, a posição de médio-centro não só lhe permitiu tornar-se um dos melhores passadores do jogo como, fundamentalmente, ter uma visão periférica sobre tudo o que se passava no relvado, tornando-se extensão em campo de alguns dos mais influentes técnicos que o futebol já viu: Rafael Benítez no Liverpool, José Mourinho e Carlo Ancelotti no Real Madrid e Pep Guardiola no Bayern. O português foi mesmo dos primeiros a expressar publicamente a crença no sucesso do pupilo, que defrontou e eliminou, sem festejar, nas meias-finais da última Liga Europa (depois de 1-0 no Olímpico, os giallorossi empataram a zero na Alemanha).
La Barba Roja, como lhe chamavam quando era jogador, começou no banco na equipa B do Real Madrid em 2018, seguiu depois para a sua Real Sociedad, onde orientou igualmente a equipa secundária. O convite do Bayer chegou em outubro de 2022, já com a época transata a decorrer, substituindo o suíço Gerardo Seoane. Levou a equipa ao sexto lugar e arrancou para esta temporada com mais peças para completar o puzzle, entre as quais o experiente Granit Xhaka, o já referido Boniface e Alejandro Grimaldo, e outras unidades como o excelente médio argentino Exequiel Palacios também a crescer exponencialmente. Montou o modelo num 3x4x2x1, com uma ou outra incursão ao 4x4x2 e ao 4x2x3x1, e a Alemanha está completamente rendida. Falta-lhe, no entanto, o mais difícil: sabendo do fortíssimo pós-Inverno que o hendecacampeão Bayern costuma ter, há que erradicar de vez o vírus.
A influência de Grimaldo no Bayer candidato
Alejandro Grimaldo deixou o Benfica em final de contrato e reforçou o Bayer Leverkusen. O lateral espanhol sempre assumiu que Xabi Alonso foi fundamental para a sua decisão, tal como a sedução de jogar numa das principais ligas da Europa e, por consequência, ficar mais perto da seleção espanhola. O técnico tem correspondido às promessas feitas ao compatriota e este é precisamente o jogador com mais minutos no plantel somadas todas as competições: 1.085, mais quatro do que Granit Xhaka. Edmond Tapsoba, central ex-V. Guimarães, surge em terceiro neste ranking, com 1.066.
Grimaldo leva cinco golos e cinco assistências, ou seja uma participação direta em dez dos 46 golos marcados pela equipa esta temporada. É, como tal, dos mais influentes. Com melhor registo, só há o impressionante Victor Boniface (10 golos/4 assistências), Florian Wirtz (5/8), Jonas Hofmann (7/4) e Jeremie Frimpong (5/6).
Real Madrid à espreita de Alonso para o pós-Ancelotti
Carlo Ancelotti mantém o tabu, mas no Brasil dão como certa, há algum tempo, a sua saída do Real Madrid no final da época para treinar o Escrete. Xabi Alonso, um antigo jogador merengue a mostrar qualidade precoce no banco, não só em termos de resultados, mas também de qualidade de jogo, é desde já um dos nomes mais vezes murmurados nos corredores do Santiago Bernabéu para assumir o lugar que ficará vacante. E quando um clube como o Real chama, ainda mais com um passado comum, é muito difícil dizer que não. Quase impossível. O jovem técnico sabe, por isso, que a conjuntura pode lhe dar apenas one shot, ou seja, apenas a presente temporada para acabar com a maldição da falta de títulos em Leverkusen. E terá de a aproveitar.