Farense-Sporting, 0-5 Futebol leonino de sonho em noite de verão algarvio (crónica)
Como é que se explica esta ‘manita’? É fácil: não foi o Farense que foi muito mau (antes pelo contrário), foi o Sporting que foi muito bom (especialmente na primeira parte)
Quando uma equipa, especialmente se joga fora (embora, neste caso, esse facto seja questionável…) ganha ao dono da casa por 5-0, a tendência imediata é pensar-se que uns jogaram muito e os outros não jogaram nada. Pois bem, no estádio Algarve, que fique bem claro que não foi isso que sucedeu: o Farense apresentou-se organizado e, até, atrevido, montado num 4x4x2 que se transformava com muita facilidade em 5x4x1 através dos recuos de Belloumi para lateral direito, a acompanhar Quenda, e Geovanny, a compor o meio-campo, procurando suscitar dificuldades e dúvidas ao Sporting, mas teve de se haver com uma equipa leonina absolutamente intratável, ao nível do que de melhor se viu aos conjuntos de Rúben Amorim desde que demandou Alvalade. Sejamos absolutamente claros, sem que estejamos a abusar da adjetivação, nem a usar de qualquer ponta de exagero.
A primeira parte do Sporting foi de nível mundial, com cabimento em qualquer campeonato do planeta, tal foi a intensidade, organização coletiva e inspiração individual reveladas. Apesar das tentativas algarvias, a páginas tantas a invasão verde vinha de todas as latitudes e longitudes, partindo da base 3x4x3 do costume, mas adquirindo uma plasticidade que permitia que o apoio direto nas costas de Gyokeres tanto fosse feito por Pedro Gonçalves, como por Daniel Bragança, ou Francisco Trincão, que encheu o campo de tal maneira que a sua exibição terá até marcado pontos na Cidade do Futebol.
Ao mesmo tempo. Quenda e Catamo assaltavam as alas, Ricardo Velho ia fazendo milagres e o Farense, que queria ir mais além, à medida que o tempo passava ia percebendo que não só não conseguia incomodar Kovacevic, como o golo do Sporting era só uma questão de mais minuto, menos minuto.
Durou 1620 segundos a resistência dos leões de Faro ao golo dos leões de Lisboa. Quando Gyokeres destapou a garrafa do ketchup, a única coisa que pode dizer-se é que a vantagem verde-e-branca só pecava por tardia, e quando, aos 41 minutos, de penálti, de novo o sueco colocou o placard em 0-2, percebeu-se, até porque nem o Farense era o FC Porto, nem conjugações astrais como as de Aveiro acontecem todos os anos, a partida estava sentenciada.
CONTENÇÃO E GOLOS
José Mota, que tem a sua coroa de glória como treinador precisamente contra o Sporting, que derrotou no Jamor, ao serviço do Aves, logo após os incidentes de Alcochete, começou a segunda parte a reforçar o ataque com Rafael Barbosa, ao mesmo tempo que Rúben Amorim mandou ‘segurar os cavalos’ no que respeitava à pressão alta (a espaços deslumbrante, na metade inicial), passando a jogar mais à zona, como que a chamar o Farense a subir no terreno para depois lhe atacar as costas.
E foi ainda Mota, a lançar a carne toda para o assador, refrescando de novo o setor mais avançado com Millan e Dario (59), à procura do golo que desse alento à sua equipa para a ‘remontada’.
O problema é que, como a manta era curta, tapou os pés e destapou a cabeça, e já com Nuno Santos em campo, o Sporting começou a aproveitar os espaços nas costas do meio-campo algarvio para dilatar o marcador. Primeiro (65) ameaçou, por Trincão; depois, deixado um-contra-um com Moreno, Gyokeres, não perdoou e fez o hat-trick (66); três minutos volvidos, autogolo de Lucas Áfrico; e aos 81 minutos, a cereja no topo do bolo da exibição de gala do Sporting, com Marcus Edwards a beneficiar dos movimentos de arrasto de Gyokeres e Trincão e a inventar uma jogada individual que selou o resultado final em 0-5. Uma grande noite de futebol!