«Faz lembrar o que aconteceu com Jesus»
Diogo Luís, antigo lateral-esquerdo do Benfica e colunista de A BOLA, analisa a mudança tática de Roger Schmidt no jogo com o Arouca; acredita que os três centrais podem ter mesmo chegado para ficar; mas valoriza ainda mais o impacto positivo de Di María, Gonçalo Guedes e Morato
— Que avaliação faz da opção de Roger Schmidt ter mudado o esquema tático, agora com três defesas-centrais?
— É uma pergunta difícil. O jogo correu bem. Esta opção trouxe a segurança defensiva de que a equipa precisava. Mas não dá para ver, só num jogo, se funciona. O Benfica dominou por completo, mereceu ganhar, criou mais ocasiões de golos, os avançados estavam mais confiantes, por sentirem que podiam perder a bola, mas é cedo para tirar conclusões, faltam rotinas e dinâmicas que precisam de ser trabalhadas. Gostei, ainda mais, da introdução de alguns jogadores que deram mais qualidade à equipa.
— De que jogadores está a falar?
— Gonçalo Guedes acrescenta valor na frente. Reage bem à perda de bola, pressiona, movimenta-se bem, conhece o jogo, sabe tabelar. Arthur Cabral, Tengstedt e Musa têm mais dificuldades nestes aspetos. O Gonçalo acrescenta à equipa coisas mais parecidas com as que Gonçalo Ramos oferecia e a equipa sente-se mais confortável com os movimentos que estão padronizados desde a época passada. O golo anulado a João Mário é disso exemplo. Desceu para receber a bola e combinar com Aursnes e João Neves. Era o que Gonçalo Ramos fazia na época passada. Depois, Morato também esteve bem, ofereceu tranquilidade e segurança. Mas ainda há algumas limitações. É estranho que, com dois laterais-esquerdos no banco, tenha de ser um jogador adaptado, Aursnes, a fazer a posição. Finalmente, não percebo como algumas pessoas dizem que Di María é um problema. É sempre uma solução. Não tem de ser Di María a correr atrás dos adversários, tem de ser o contrário. Tirei, no fundo, mais conclusões individuais. Alguns jogadores podem ajudar a resolver o problema.
— A opção de Schmidt foi apenas motivada pelas circunstâncias de jogadores lesionados e em má forma ou há condições para se tornar definitiva?
— Pode tornar-se definitiva. Em primeiro lugar, correu bem e foi contra uma equipa da Liga. Depois, Schmidt está com dificuldades em encontrar uma solução para o problema da debilidade no equilíbrio da equipa, com os adversários a explorar as costas da defesa. Faz lembrar um pouco o que aconteceu com Jesus, foi assim que ele resolveu o problema quando não encontrava a dupla certa para o meio-campo. Os três centrais que jogaram em Arouca são bons e dão garantias de segurança. Essa opção pode é prejudicar outros jogadores, nomeadamente João Neves, que jogou pelo corredor direito. Mas dá já consistência defensiva. Falta, depois, encontrar mecanismos para que a equipa carbure ofensivamente. O Benfica é a equipa com mais qualidade no ataque e tem de explorá-la. Com este sistema até me parece que Schmidt pode explorar melhor as características de Arthur Cabral, que, embora não faça muitos movimentos, gosta de ter espaço para correr e rematar fora da área. Contra equipas mais fechadas o Benfica terá de encontrar outras soluções e outra qualidade ofensiva.
— Os adeptos têm mais motivos para estar otimistas ou continuar preocupados?
— As duas coisas. Têm motivos para estar otimistas e não entrar em pânico, estamos apenas na nona jornada do campeonato. O plantel é fortíssimo, com opções para todas as posições, excepto para lateral-direito. Há motivos para acreditar e ter confiança, resta ao treinador escolher as peças certas para que toda esta depressão desapareça. Schmidt mudou, sentiu que algo estava mal e isso é meio caminho andado para que as coisas se resolvam. Resta saber como será a evolução contra equipas mais fortes e jogos mais complicados, por exemplo já no sábado com o Chaves e, sobretudo, com Real Sociedad e Sporting. São testes decisivos para perceber se as exibições serão mais consistentes e se os resultados aparecem.