Estádio do Bolhão: acertar contas com o futuro

Na praça financeira a reputação é tudo e quem investe num clube ou empresta dinheiro está atento aos sinais de fraqueza

Facto: as contas da SAD do FC Porto estão uma desgraça. Esta conclusão não decorre apenas dos episódios bizarros que têm vindo a público (€8 mil nos cofres para necessidades de €15 milhões ou empréstimo sem juros de €2 milhões de Fernando Póvoas, entre outros), mas da campanha eleitoral.

Passo a explicar: quando João Kohler, em entrevista a A BOLA e depois nas várias intervenções com os sócios assumiu que o FC Porto tinha um grave problema de tesouraria, o candidato a ‘vice’ na lista de Pinto da Costa não estava propriamente a entrar na narrativa do antigo presidente. Avançou com a necessidade urgente de o FC Porto refinanciar o passivo utilizando, para o efeito, um instrumento financeiro de €250 milhões para baixar o serviço da dívida e controlar a dívida a curto prazo. Se isto não era um aviso de que a seguir à curva vinha o precipício, então não sei o que é.

Teria dado jeito a AVB ver esclarecidas as várias questões que levantou sobre o quadro geral do FC Porto na campanha – e que têm agora ‘resposta’ na forma cruel de um cenário de aparente descontrolo. Contudo, o quadro é este e quanto mais o FC Porto se entregar a um exercício de comiseração, desespero e acerto de contas com o passado mais desconfiança vai provocar na praça financeira, nos bancos e/ou entidades financeiras a que terá de recorrer para se refinanciar. Com a mesma firmeza, rapidez e coragem com que geriu a delicada sucessão técnica, Villas-Boas e a sua equipa financeira vão ter de mostrar aos investidores que o FC Porto é uma instituição com um plano de solvência à prova de bala, capaz de assumir os seus compromissos no futuro. Pelas palavras do presidente do FC Porto, prometendo não deixar aos seus sucessores o pouco que herdou, esse plano já estará em marcha.