Que espetáculo memorável, senhoras e senhores! Eis a Taça de Inglaterra em todo o seu esplendor, a mais antiga competição do Mundo, habitat de heróis e glórias eternas e que viu, este domingo, Ruben Amorim inscrever o seu nome na história e logo na estreia na mítica prova. O Manchester United ultrapassou o Arsenal, em Londres, e segue para os 16 avos de final. Foi preciso chegar ao desempate por grandes penalidades, depois de 120 minutos de resistência épica por parte do Manchester United, reduzido a dez desde os 61’, por expulsão de Diogo Dalot, para chegar à decisão final: na chamada lotaria, a sorte grande saiu aos red devils, vencedores por 5-3 (Bruno Fernandes, Diallo, Leny Yoro, Lisandro Martínez e Zirkzee converteram os respetivos penáltis; o guarda-redes Altay travou o de Havertz, e não defendeu os de Odegaard, Rice e Partey). Para trás ficava uma batalha épica e que teve direito a todos os ingredientes que fazem deste jogo o mais belo do planeta: Bruno Fernandes deu vantagem ao United aos 52’, com um golaço de primeira, após arrancada espetacular de Garnacho, a aproveitar bem o erro infantil de Gabriel Magalhães; Diogo Dalot foi expulso por acumulação de amarelos aos 61’; o Arsenal chegaria ao empate logo depois (63’), num belo golo de… Gabriel Magalhães, a conseguir a redenção; seguiu-se enorme sururu, no qual se destacaram momentos feios de Ugarte, Garnacho e Havertz. Mas houve mais, muito mais: aos 72’, penálti a favor dos gunners, com o capitão Odegaard a atirar muito puxado para a direita, mas a ver o herói da tarde, o guarda-redes Altay, que substituiu Onana, a voar e a defender; e a repetir a dose com novo voo, aos 76’, agora a travar cabeceamento de Declan Rice, acabadinho de entrar; e ainda aquele falhanço incrível de Kai Havertz, na pequena área, com a baliza à mercê, a rematar… por cima (88’)! Se ainda tiverem algum fôlego, senhoras e senhores, fiquem a saber que o jogo foi depois para prolongamento, no qual a batalha continuou intensa: o Arsenal, tal como em praticamente todo o jogo, foi mais incisivo, perigoso e dominante, mas teve pela frente um Manchester United de guerreiros, implacáveis a defender (que grande jogo fizeram, neste capítulo, De Ligt e Maguire) e venenosos a contra-atacar. Neste plano, o dos contra-golpes, destacaram-se os jogadores lançados por Amorim aos 81’, Diallo e Zirkzee, que acabou por ser um dos heróis de Londres, não só pelo perigo que representou entre os 90 e os 120’, mas também por ter convertido com calma o penálti decisivo no desempate (5-3). A jogar com dez quase uma hora, os red devils resistiram e chegaram mesmo à vitória. E esta foi à Ruben Amorim. O treinador português, que no jogo anterior travara o Liverpool (2-2), nunca se cansou de corrigir posições, de moralizar, de gritar para dentro de campo; e, mais importante, soube mexer na equipa e não se conteve ao lançar Altay de início, apesar das críticas, e de dar nova oportunidade a Zirkzee. Correu riscos, ao apostar num plano mais defensivo e de resistência, sobretudo a partir do momento em que ficou reduzido, devido à expulsão de Dalot, mas o plano resultou em cheio. Por tudo o que fez, pode dizer-se que a queda nesta eliminatória é castigo algo injusto para o Arsenal, mas a forma heróica como o United se bateu e o modo como Ruben Amorim leu tão bem o que o jogo lhe ia pedindo, foi merecedora da celebração final.