Decorria o ano de 1912 quando um grupo de amantes de futebol decidiu fundar um clube, sucedendo ao Lagos Football Clube. A dada altura do processo, com tudo tratado, faltava nome e foi então que José Victor Adragão, um dos fundadores, lançou a hipótese de usar o nome da namorada, e assim nasceu o Esperança de Lagos, atualmente uma das coletividades mais antigas do Algarve. O emblema do Barlavento Algarvio sempre teve grande ligação ao Sporting, sendo a filial número 2 até meados dos anos 50. Trajava de verde e branco, adotou o leão como seu símbolo e até o equipamento oficial era muito semelhante ao do clube de Alvalade. Aliás, rezam as crónicas de que os duelos entre Esperança e Sport Lisboa e Lagos (afiliado do clube da Luz, que mais tarde daria lugar ao Sport Lagos e Benfica) eram autênticos dérbis, aguerridos e de lotação esgotada. «Segundo consta o Sporting não cumpriu com algumas obrigações contratuais que tinha com o Esperança e os diretores da altura acabaram com a ligação, o Esperança ficou por sua conta. Posteriormente, mudou-se a bandeira, o símbolo e as cores para azul e amarelo, até aos dias hoje. Há ainda uma história engraçada, é que a cidade também adotou as cores do clube. É uma situação que não tenho conhecimento de haver igual. Lagos sempre foi uma cidade muito ligada ao futebol, todos os fins de semana as famílias uniam-se para apoiar o clube, em casa e em deslocações fora, toda a gente ia com o Esperança, depois, a partir dos anos 80 começaram a aparecer os centros comercias, outras ofertas, depois vieram as redes sociais e as pessoas foram-se afastando», contou António José Alves, presidente do clube há mais de 15 anos. «Conheci o Esperança de Lagos porque o meu filho veio jogar aqui, era miúdo e gostava de jogar futebol. Havia algumas dificuldades, colaborei em algumas situações. Em determinada altura a Direção saiu e fechou as portas do clube, foi quando eu e outras pessoas ligadas ao clube e à cidade fizemos uma Comissão Administrativa e ficámos, seguiu-se uma Direção e foi até hoje», explicou. O Esperança de Lagos conta no seu palmarés com um título de campeão da 3.ª Divisão, entre outros, não só no futebol, mas extensível a outras modalidades, agora, compete nos Distritais, uma realidade difícil nos tempos que correm. «Um clube de dimensão local sobreviver nos dias de hoje não é fácil, mas estamos vivos e empenhado em lutar para chegar a uma Liga 3, mas sustentados com bases para não andar a subir e a descer», confessou. CIDADE TORNOU-SE TALISMÃ António José Alves é sportinguista e não esconde o orgulho de ter o Sporting a estagiar em Lagos pelo quinto ano consecutivo, revelando que a ligação entre Esperança e clube de Alvalade mantém-se ativa: «Vão equipas da nossa formação jogar à Academia e, regularmente, temos atletas que vão prestar provas ao Sporting, temos abertura completa para irem. E Lagos parece que se tornou um talismã para o Sporting. Há cinco anos que vêm para cá estagiar, conquistaram dois campeonatos. Enquanto presidente do Esperança tenho todo o gosto e honra em que o Sporting venha aqui fazer estágios», disse. Olhando para o plantel que se encontra a estagiar em Lagos, com muitos atletas da formação, o dirigente destaca Amorim: «Foi a melhor contratação do Sporting nos últimos dez anos. Ele é que tem feito os jogadores e a equipa, o rendimento que tira dos atletas é impressionante.» 'MADE IN' LAGOS PARA O SPORTING As paredes da sede do centenário Esperança de Lagos estão repletas de troféus e fotografias para que nunca se esqueçam as conquistas, as memórias de tempos áureos e, claro, os atletas que começaram no clube lacobrigense, ganharam asas e voaram para brilhar… no Sporting. O Eric Dier, agora no Bayern de Munique, saiu daqui com oito anos para o Sporting, depois o Diogo Amado, cujo pai, o José Carlos, também foi nosso jogador do Sporting, e o Diogo Viana, atletas que saíram da nossa formação e afirmaram-se no Sporting. Um enorme orgulho que temos. E não podemos esquecer que no atletismo o grande atleta que saiu do Esperança de Lagos para o Sporting. Carlos Cabral, que se sagrou campeão europeu e brilhou de leão ao peito a correr juntamente com Carlos Lopes, Fernando Mamede e Aniceto Simões, enormes vultos do atletismo», enumerou José António Alves. JOGO CABEÇA DE CARTAZ Emoldurado para eternizar aquele que, até à data, foi o jogo mais mediático do Esperança. 18 de abril de 1981, nos quartos de final da Taça de Portugal, a equipa de Lagos recebeu o Benfica, com os encarnados a verem-se aflitos para ganhar. 2-1 foi o resultado final, com golos de Humberto Coelho e Reinaldo, o húngaro Lajos Baróti era o treinador. Os encarnados viriam a conquistar o troféu, após derrotam o FC Porto (3-1) na final.