As emoções estão à flor da pele em Toulouse, franceses sedentos de vingar o ainda mal digerido resultado da primeira mão —1-2, com os dois penáltis a favor dos encarnados a caírem mal... —, benfiquistas desejosos de colocar em prática a sua superioridade, emigrantes portugueses a arder de ansiedade por golos e espetáculo, à procura de uma oportunidade de mostrar ao país que os recebeu que Portugal tem coisas boas e nalguns casos melhores. Há, no entanto, outro tipo de emoções, ainda mais vincadas, mas diferentes, porque, como disse Pedro Gonçalves, médio do Sporting, «há coisas mais importantes na vida» do que simplesmente o futebol. João Neves perdeu a mãe, António Silva perdeu o avô paterno. O médio tem 19 anos e o central apenas mais um. São dois rapazes na vida, dois meninos do Benfica, será muito por eles que a equipa entrará em campo para ganhar. Será, pois, um Benfica em nome de um filho e de um neto, preparado para honrar os seus jogadores e os entes queridos que perderam que irá à luta em França esta tarde (18.45, horas em Toulouse, 17.45 horas em Portugal continental e Madeira). Treino e viagem, estão prontos Todos esperam que António Silva e João Neves joguem, em relação ao central nada parece estar em causa, já no que diz respeito ao médio o desgosto está tão fresco (foi anteontem que se despediu da mãe, no Algarve) que ainda subsistem dúvidas sobre a sua utilização. João Neves, todavia, treinou-se de manhã no centro de estágio do Seixal, esteve à vista dos jornalistas que tiveram direito a 15 minutos de observação do último treino da equipa em solo português, e seguiu com a equipa para França. Está pronto para jogar, Silva também, mais a mais apoiado pela mãe, Rosa, uma das presenças notadas entre os benfiquistas que partiram ontem de Lisboa. Cautelas de Roger Schmidt O treinador do Benfica, mais do que ninguém, desejará poder utilizar o seu melhor médio, para muitos o melhor jogador do Benfica. João Neves também desejará jogar, parece tudo encaixar-se, mas a experiência de Roger Schmidt ordenou cautela e comedimento, afinal é um jovem de 19 anos que perdeu a mãe há poucos dias que está em causa: «Em primeiro lugar, estamos todos chocados e tristes com o que aconteceu com a mãe dele. Tentamos apoiá-lo o melhor que podemos, estamos junto dele, todos somos sensíveis à situação dele. Vamos ouvi-lo no que diz respeito à decisão de jogar. Juntou-se à equipa, treinou-se, foi o que quis fazer, senti que foi bom para ele estar com os companheiros, jogar futebol. Mas, claro, precisará de tempo para lidar com a situação. A vida tem de continuar e estaremos ao lado dele. Falarei com ele amanhã [hoje] a tomaremos uma decisão.»
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