Em jogo de coração quente venceu a cabeça mais fria: crónica do V. Guimarães-Sporting

Em jogo de coração quente venceu a cabeça mais fria: crónica do V. Guimarães-Sporting

NACIONAL09.12.202322:31

Espetáculo emocionante no Castelo; Amorim correu tantos riscos para ganhar, que acabou por perder; Álvaro Pacheco leu bem o jogo

A chuva inclemente que se abateu sobre Guimarães durante o Vitória - Sporting, não foi suficiente para arrefecer os ânimos, de quem jogou, e de quem esteve nas bancadas. E mesmo quem, mais seco, viu a partida pela televisão, esteve sempre com a pulsação elevada, tantas e tão fortes foram as emoções daquele que foi um dos melhores espetáculos de futebol de 2023, no nosso País. 

Muito se tem falado em intensidade, ou melhor, da falta dela, em muitos jogos da Liga. Desse mal não padeceu o duelo no D. Afonso Henriques, jogado, como gostam de dizer os espanhóis, de poder a poder. As estratégias de Álvaro Pacheco e Rúben Amorim foram diferentes, embora o desenho tático inicial pudesse induzir em erro, mas acabou por prevalecer, numa partida que, sejamos honestos, podia ter caído para qualquer dos lados, a cabeça mais fria do técnico vimaranense, que foi capaz de aproveitar a tração à frente do bólide leonino, que correu todos os riscos para levar os três pontos para Alvalade.   

Oportunidades e golos

Teoricamente, as equipas apresentaram-se com três centrais, embora o que acabou por verificar-se foi um Vitória a maior parte do tempo em 5x4x1, mas com uma capacidade de desdobramento notável e harmoniosa, que de repente colocava na frente quatro ou cinco jogadores em transições rápidas e apoiadas; e um Sporting que, a páginas tantas, já na segunda parte (a partir dos 61 minutos) e com o resultado empatado a um, arriscou um 3x1x4x2, que podia ter dado certo (Varela fez a defesa do jogo aos 71 minutos, a remate de Trincão), mas que deu para o torto dois minutos depois quando Adán foi ferido pelo fogo amigo de Morita, após remate de André Silva. 

Reagiram os leões, com caráter, e ainda empataram (77), mas a seguir prevaleceu a frieza de Álvaro Pacheco, que aproveitou os desequilíbrios posicionais de um Sporting que tinha Paulinho e Gyokeres na frente, apoiados por Catamo, Trincão, Pedro Gonçalves e Nuno Santos, deixando o equilíbrio defensivo às costas de Morita, posicionado à frente de Diomande, Inácio e Matheus Reis. Os vitorianos, que após o 2-2  de Nuno Santos refrescaram o meio-campo e o ataque sem desposicionar a equipa, viram sorrir-lhes o momento do jogo quando Dani Silva, menos de um minuto depois de ter entrado, ter feito o 3-2. 

Vitória soube segurar triunfo

A partir desta altura, as coisas ficaram absolutamente claras: uns tinham de atacar ainda mais desesperadamente, correndo atrás do prejuízo; e os outros apenas tinham de manter a cabeça fria e a posicionamento rigoroso, conseguindo, em simultâneo, que a sua equipa se mantivesse junta e disciplinada taticamente; e nunca deixasse de aproveitar os espaços que a ânsia de chegar ao empate do Sporting lhe oferecia. 

E foi assim que Butzke, aos 88 minutos, só não reforçou a vantagem dos donos da casa porque Adán fez uma defesa de grande qualidade, travando um contra-ataque que parecia ser letal. Nos últimos minutos (e houve dez de compensação), não houve tática, apenas coração e alma, de um lado e do outro, até ao apito final. E quanto mais o tempo corria, pior era o discernimento dos leões, que acabaram a colocar bolas, muitas delas frontais, na área do Vitória, que com maior ou menor aperto foi chegando para as encomendas. No fim da noite, a equipa da casa, que se deu ao jogo sem limites, teve um prémio saboroso. Já o Sporting quis voar demasiado perto do Sol, e como Ícaro, derreteram-se-lhe as asas.