Ganhar é sempre bom. Ganhar sempre pela margem mínima e a maioria das vezes com um golo depois dos 90 minutos, não é necessariamente mau. Porque ganhar um jogo, já no prolongamento, pode ser sinónimo de golpe de sorte ou momento de inspiração, mas ganhar quatro vezes, em seis jogos, com um golo no período de compensação já não pode ser sorte ou mero acaso. É o resultado de uma convicção, de um inconformismo viciante, de uma fé que tem muito de mística. É verdade que o risco de não ganhar está presente e aconteceu no jogo com o Arouca, no qual o FC Porto chegou ao empate vinte minutos depois dos noventa! É um risco assinalável e que significa ausência de domínio, de controlo sobre o jogo e sobre o adversário, o que é algo de novo e de surpreendente no FC Porto. Sérgio Conceição admite que a equipa está longe do que nos tinha habituado na qualidade exibicional e lembra que todos os anos tem de refazer uma equipa. É verdade e o problema maior é que este ano vai ter esse mesmo trabalho com pior matéria prima. Sem Uribe e sem Otávio. E também sem Marcano, que sofreu uma lesão grave que o obrigará a muito tempo de ausência, Sérgio Conceição terá ainda muito trabalho para moldar Alan Varela, Nico González, Ivan Jaime ou Fran Navarro às conveniências e à mentalidade sofredora da equipa. A notícia boa para os portistas é que ainda numa fase de construção e de evidente défice de equilíbrio coletivo, o FC Porto continua a ganhar. Resultados magros, exibições medíocres, mas ganha. Diz a história das competições que as equipas que ganham nos momentos de crise têm vantagem sobre as outras, porque deverão continuar a ganhar quando o trabalho, a experiência, a rotina, as tornar melhores. Portanto, não está fora de hipótese que possa ainda vir aí uma época boa para o FC Porto, mas, nesta altura do campeonato, ninguém o poderá garantir. Nem mesmo o treinador, que até por obrigação profissional tem o dever de ser o primeiro a dar provas de confiança e de otimismo. Na verdade, Sérgio Conceição parece, este ano, visivelmente cansado, talvez, mesmo, saturado de continuar a remar contra a maré da insensibilidade da SAD portista que valoriza o treinador no discurso, mas que o obriga à repetição dos milagres.