Quando pensamos num dérbi, num jogo onde as emoções estão à flor da pele, quase todas as esperanças estão centradas nas estrelas. Nos craques que podem decidir. Se fossemos agora para a rua com um questionário, no lado dos leões, teríamos um ranking de candidatos a heróis, muito provavelmente com Gyokeres na frente. Depois, talvez, Pedro Gonçalves, Marcus Edwards, Paulinho ou até Coates que tantas vezes já vestiu esse fato de super-herói. No fundo da lista estariam aqueles que, à partida, estarão longe das luzes da ribalta. Mas, sendo este um jogo especial, está também suscetível a cenários diferentes, mais improváveis. Sim, é verdade que em grande parte dos últimos dérbis são as grandes figuras, os goleadores, a decidir, mas há exceções. Muitos jogadores que saíram do anonimato após golos e exibições inesperadas sobre o rival das águias. E são (algumas) dessas exceções que aqui trazemos. Curiosamente, no último confronto, na época passada, foi o jovem Diomande que, quando poucos poderiam imaginar, aos 19 anos, se estreou a marcar com a camisola dos leões num dérbi. Vem aí um novo confronto e há vários candidatos a heróis improváveis. E se o dérbi fosse decidido pelo veterano Neto que nunca marcou pelo Sporting? Pelo mal amado Ricardo Esgaio, o estreante Fresneda ou um jovem da formação? A história conta que nada é impossível… Diomande (2-2, em 2022/2023)Lançado num dérbi com apenas 19 anos. Sem estofo de grandes jogos. Para trás uma curta experiência no Mafra e uma transferência que acabou por surpreender, sobretudo pelos números envolvidos: €7,5 milhões de euros. O gigante costa-marfinense não tremeu (ao lado dos indiscutíveis Coates e Gonçalo Inácio) e rubricou uma excelente exibição com uma estreia a marcar com a camisola dos leões. O Sporting empatou em Alvalade (2-2), perdeu pontos, mas ganhou a certeza de um central de futuro. Que, convém, daí para cá, consolidou uma posição na equipa sendo nesta altura um dos jogadores mais importantes da estratégia defensiva de Rúben Amorim. Diomande cresceu, hoje é internacional pela Costa-do-Marfim, e um dos valores mais cobiçados do futebol europeu. Naquele que foi o seu primeiro dérbi acabou por ser um dos heróis improváveis e que hoje alcançou um estatuto ao nível dos mais importantes. Jefferson (1-1, em 2014/2015) Marco Silva era o treinador dos leões e consigo, nessa altura, levou um lateral esquerdo que foi muito importante no sucesso do treinador do Estoril. Jefferson, esquerdino brasileiro, hoje com 35 anos, foi aposta num dérbi em Alvalade num quarteto defensivo que acabou por nunca se afirmar nos leões. Com Cédric Soares à direita e os centrais Paulo Oliveira e Tobias Figueiredo. Jefferson, que ainda fez carreira em Alvalade (somou 126 jogos oficiais) mas o golo que marcou ao rival encarnado ficou marcado. Um golo aos 87’ minutos, perto do final (na recarga a um remate de… João Mário), que deixou Alvalade em ebulição. Num final de loucos, o Benfica ainda empatou por Jardel (90+3’), mas o esquerdino dos leões, numa equipa com Nani, Fredy Montero ou Adrien Silva, acabou por ser figura de cartaz. Bruno Pereirinha (1-1, em 2008/2009)Dérbi de emoções (ainda) mais fortes para decidir o campeão da Taça da Liga. Paulo Bento era o técnico dos leões. Um jogo de decisões no estádio do Algarve recheado de figuras nas duas equipas como Rochemback, Anderson Polga, João Moutinho ou Liedson no lado dos leões, Luisão, Aimar, Reyes, Di Maria, Cardozo ou… Rúben Amorim nas águias. Curiosamente, um dos heróis, na equipa leonina, foi Bruno Pereirinha, um jovem lançado por Paulo Bento, que abriu o marcador aos 49’. O Benfica ainda chegou ao empate, por Reyes, num penálti que gerou a expulsão do lateral leonino Pedro Silva e que as águias haveriam de ganhar nos castigos máximos. Bruno Pereirinha, por sua vez, apesar desse impulso, nunca se afirmou na equipa principal. Yannick Djaló (5-3, em 2007/2008) Um dos dérbis mais marcantes deste milénio, no estádio de Alvalade, em jogo das meias-finais da Taça de Portugal. Um jogo em que os encarnados já venciam, por 2-0, aos 30’, com golos do seu atual presidente, Rui Costa e Nuno Gomes. A reação leonina haveria de surgir através de um jovem na sua segunda época na equipa principal lançado por Paulo Bento: Yannick Djaló. O veloz extremo leonino apontou dois golos e foi decisivo numa reviravolta épica dos leões com golos de Vukcevik, Liedson e Derlei. Djaló, porém, quando poucos imaginariam (até porque até então somava apenas seis golos pelos leões), foi a figura principal de uma vitória que ficou marcada como uma das mais espetaculares em Alvalade sobre o eterno rival. Luís Loureiro (2-1, em 2005/2006)10 de setembro de 2005. Jornada 3 da Liga com o Sporting de José Peseiro a esgrimir forças contra o Benfica de Ronald Koeman. Todos os olhos estavam postos em Liedson, Deivid ou Sá Pinto para tentar ferir a águia. Mas para a história ficou o golo de Luís Loureiro, um médio que havia sido contratado nessa época ao Dínamo de Moscovo (Rússia) e que tentava dar um novo impulso à carreira após passagens importantes por clubes como Gil Vicente, Portimonense ou SC Braga. O médio abriu o marcador, num pontapé acrobático aos 37’, naquele que haveria de ser o único golo com a camisola dos leões. Luís Loureiro ganhou ímpeto com o golo (Liedson ainda fechou as contas e Simão Sabrosa reduziu para as águias), mas apesar de ser um herói improvável nesse dérbi, acabou por não dar sequência a esse bom momento, pois deixou o clube no final da época com apenas 14 jogos e esse tal golo no dérbi… Beto (3-0, em 2000/2001)O Sporting vinha de uma época onde tinha quebrado um longo jejum do título nacional. Este dérbi, que aconteceu já perto do final do campeonato (jornada 30) tinha um valor acrescido para os leões apesar da época atribulada que começou com Inácio ao leme, passando depois Fernando Mendes e Manuel Fernandes. E foi este último que venceu o rival, por esclarecedores, 3-0, no qual emergiu Beto, central formado na equipa leonina, que foi um dos melhores quando poucos faziam prever. Não só porque anulou nomes como Roger, internacional brasileiro, Sabry ou Pierre Van Hooijdonk, mas porque fechou as contas do jogo (após golos de Beto Acosta e Pedro Barbosa), num golo muito mediático. Um herói improvável que fez quase todo o percurso em Alvalade, contabilizando impressionantes 315 jogos pelos verdes e brancos.
